Criticas Soltas - by Joana Teófilo Oliveira
Criticas Soltas - by Joana Teófilo Oliveira
Resmas de Cátias
Nota inicial: Também sou estudante universitária e também poderia fazer parte daquela reportagem que a revista Sábado fez há duas semanas junto dos estudantes universitários, em Lisboa. A revista chamou à reportagem “a ignorância dos nossos universitários” e o vídeo espalhou-se no YouTube. E ao contrário de muitos “colegas” não acho a reportagem nem “manipuladora” nem “má”. Nem mesmo a desculpa de que “só mostraram as respostas que errei” me convence de alguma coisa. É a realidade e ponto final.
Também no YouTube, mas mais facilmente num canal perto de si, é possível ver a gravação de vários minutos de excelência da saga da "Casa dos segredos", onde a residente Cátia em conversa com os colegas, ou a instâncias de Teresa Guilherme, dá provas de uma falta de cultura absolutamente gritante. Acrescente-se que esta exibição de quase analfabetismo é feita sem qualquer embaraço da própria, que ainda se ri alarvemente da maioria dos disparates com que diverte a audiência e leva a apresentadora às lágrimas, de tanto se rir. É isso é, afinal, a cultura que temos na nossa televisão. Alguém pensa nisso?
Lembro-me de por cá nos termos rido muito, uma vez que alguém também filmou uns americanos, a quem era perguntado se sabiam onde era Portugal e que respondiam invariavelmente, não sei, em Espanha, ou no centro da Europa, os mais "esclarecidos". Perante este facto, que dizer dos “estandes superiores” que acham que a Capital de Itália é Veneza ou Milão ou que Inglaterra é a capital dos Estados Unidos.
Pois quem se quiser rir agora dos jovens universitários portugueses que não sabem quem é Angela Merkel, [a tal com nome de vila alentejana que, por certo, milhares de estudantes nem saberá que fica no sul ou no norte], pensam que o actual presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, é francês ou uma senhora belga; têm a certeza de que o símbolo químico da água é PH; não duvidam que o nosso Manoel de Oliveira é maestro; ainda não repararam que Bush já não vive na Casa Branca; não duvidam que o fundador da Microsoft é um tal de Steve "Jones" ou um Gill Bates que “morreu a pouco tempo” e juram que "O Padrinho" foi o Vasco Santana (que a maioria nunca viu mais gordo)... e tão pouco sabem o ano do 25 de Abril.
Quando se pensava que esta democratização do acesso à cultura e à informação seria capaz de gerar uma sociedade mais civilizada e mais sabedora, estamos a assistir precisamente ao inverso.
A convicção de que toda a sabedoria está à distância de um click, em vez de nos tornar mais curiosos e ávidos de conhecimentos, está-nos a legar uma geração indolente e preguiçosa, que se vai especializando no lazer, convencida que o saber não precisa de ocupar nenhum lugar na sua vida actual.
Certo que há boas excepções no mundo escolar, há, de facto, alunos que sabem e esforçam-se mas há, também, um défice de cultura geral na nossa educação e na nossa sociedade. É confrangedor. A minha geração que acredita que é a mais qualificada (com três anos de ensino superior somos licenciados, com quatro somos mestres), porque andou mais tempo na escola do que os pais, mas falta-nos o que os pais não lhes deram e, pelos vistos a escola também não. Como aquela menina que no final diz: "Cultura geral não é comigo".
E aqui, falta-lhe ter estado com atenção nas aulas de História, de Geografia, de FQ, de Português... É ainda mais triste do que a menina da Casa dos Segredos – de onde partiu a ideia para o trabalho - que é auxiliar de acção médica e está a fazer o secundário através das Novas Oportunidades, estes rapazes e raparigas conseguiram chegar ao ensino superior.
Se calhar, falta ao ensino superior uma verdadeira Prova Geral de Acesso como já houve em tempos. Nuno Crato, o nosso ministro da educação, devia ver este vídeo com olhos de ver e repensar a reorganização curricular: nada de cortar na "cultura geral"!
Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
(Escreve todas as segundas-feiras na rubrica Criticas Soltas)
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