2012, o ano do fim

Criticas Soltas - by Joana Teófilo Oliveira
2012, o ano do fim

Sem açúcar, o arroz-doce foi apenas arroz malandrinho com canela. A lampreia de ovos não passou de uma omeleta estranha. E as rabanadas foram pão frito. O bacalhau escondeu-se dentro da couve que fiquei a noite toda à procura e o peru mais perecia um galo da índia com corpo de modelo: sem coxas nem peito. Enquanto assistimos ao Natal dos Hospitais, na televisão, decorria, em nossas casas, o Natal dos Diabéticos. Foi assim, a época de festas natalinas e de final de ano. Mas para o ano ainda é pior.
Quando o fim do mundo chegar, em dezembro deste ano, Portugal pode já ter acabado há meses - se é que não acabou há anos, como parece acreditar Medina Carreira e outros tantos comentadores que comentam nas nossas televisões.  

O fim do mundo que está marcado para o dia 21 de dezembro deste ano distingue-se dos fins do mundo que o precederam por não ter sido profetizado por quem se diz que o profetizou. Os maias modernos garantem que não há, nos textos dos maias antigos, qualquer profecia que indique o fim do mundo naquele dia, e os maias antigos guardam há muito um prudente silêncio, uma vez que o mundo, para eles, já acabou há algum tempo. Ou seja: alguns milhares de anos. Há profecias que falham quanto àquilo que profetizam; esta falha mesmo quanto a ser uma profecia.
Na eventualidade remota de Portugal não ter ainda acabado no dia 21 de dezembro de 2012, creio que não acabará nesse dia. O mundo pode acabar no fim de 2012, mas Portugal só acabará, na melhor das hipóteses, no primeiro trimestre de 2013. A 21 de dezembro não estarão reunidas todas as condições para o encerramento. Certos diretores de organismos terão ido de férias e só voltarão a poder despachar em janeiro.  Alguns contratos de cessação pendentes deverão aguardar que uma nova administração seja empossada para, então sim, entrarem em vigor. Haverá papelada vária à espera de assinatura e carimbo até março.
Claro que, à cautela, só começo a fazer compras de Natal no dia 22 de dezembro de 2012. Mas tenho quase a certeza de que temos mais três meses de vida que o resto do mundo.
Sem querer ser derrotista, parece-me mais uma previsão condenada a um relativo fracasso. Digo relativo porque, sempre que um grupo religioso prevê o fim do mundo, não sou capaz de dizer que a previsão falhou. É certo que o meu mundo não acaba quando eles dizem, mas tenho sempre a sensação de que vivemos em mundos diferentes. É possível que o deles tenha acabado e eu não saiba.
Por este andar se não for o fim do mundo no primeiro dia de inverno deste ano, tenho a impressão de que o povinho vai passar mais um Natal do outro mundo. Digo isso, porque, os portugueses vivem hoje num país nórdico: pagam impostos como no Norte da Europa; têm um nível de vida como no Norte de África. Como são um povo ao qual é difícil agradar, ainda se queixam. Sem razão, evidentemente. Felizmente, o governo ajuda-nos a gerir o salário com inteligência. Pedro Passos Coelho bem avisou que iria fazer cortes na despesa. Só não disse que era na nossa, mas era previsível. A nossa despesa com alimentação, habitação e transportes está cada vez menor. Afinal, o orçamento gordo era o nosso. Agora está muito mais magro, elegante e saudável. E sobra para o banco, para a ilha e para mais algumas coisinhas extra do gordo do Estado.


Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 


(Escreve todas as segundas-feiras na rubrica Criticas Soltas)







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