Pilhas
de amor
Estavam
ali, olhando para mim cada vez que eu abria o armário, revestidas por aquela
caixa colorida que eu teimava em não querer mais encarar. Guardadas,
empacotadas, longe da vista, memorias não esquecidas mas difíceis de serem
lembradas. Certas lembranças tornam-se mais ternas e profundas quando não se
mexe muito nelas… Como se isso nos desse a oportunidade de nos recordar apenas
daquilo que um dia nos fez sorrir e trancar as lágrimas numa caixa ainda mais
profunda para nunca mais abrir...
Lembranças deveriam ser apenas isso… lembranças! Mas o ser humano tem a louca e estranha capacidade de não entender o tal e recordações podem ser o começo de toda uma nova história…
Lembranças deveriam ser apenas isso… lembranças! Mas o ser humano tem a louca e estranha capacidade de não entender o tal e recordações podem ser o começo de toda uma nova história…
Naquela
manha abri finalmente a caixa, andava fazia quase uma semana a encarar-me todas
as manhas quando abria o armário. Senti um calafrio que me percorreu partes do
corpo que nem sabia ter… É difícil agarrar em mãos momentos, frases, musicas,
sorrisos… é difícil agarrar em mãos uma época que nos fez tão feliz e que hoje
é apenas uma caixa guardada entre tantas, dentro do velho armário. Olhei aquela
pilha de fotografias e senti-me transportada para outra dimensão, a cabeça
lembra-se de histórias e o coração prega-nos partidas. Saudade é aquela
estranha palavra que a língua portuguesa inventou e tantas vezes aparece junta
das recordações.
Agarro
no telefone, como se fosse imperativo que o fizesse, derrepente já não sou dona
do meu corpo, ele está comandado pelas tais lembranças… Atendes com a mesma voz
meiga e doce que sempre te foi característica. Combinamos encontrar-nos mais
tarde. Depois de uma bebida e de um passeio junto ao Tejo eu já estava
perdidamente com vontade de empacotar outra caixa, mais fotografias, mais
sorrisos, mais músicas e mais momentos… mas desta vez mandaste a tampa ao mar e
fizeste-me acreditar que uma história de amor como a nossa nunca mais iria ser
tapada, tampa na caixa nunca mais… seria uma história sem fim… um empilhar de
recordações felizes… Pilhas de amor para mais tarde recordar, longe do velho
armário e muito perto do coração.Cátia Neves
Lisboa
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