Sócrates pediu a demissão a Cavaco
O pedido de demissão de José Sócrates foi anunciado através de uma nota da Presidência da República que, contudo, salienta que o Governo se mantém “na plenitude de funções até à aceitação daquele pedido”.
Desta maneira, “com vista à resolução da situação política decorrente do pedido de demissão do primeiro-ministro, o Presidente da República, nos termos constitucionais, irá promover, no próximo dia 25, audiências com os partidos representados na Assembleia da República”, lê-se ainda na nota da Presidência da República. Nessa reunião, o chefe de Estado irá ouvir os partidos para tentar encontrar outra solução de Governo dentro do actual quadro parlamentar.
Se não for possível a actual Assembleia da República gerar um novo Governo, como é previsível, o Presidente da República deverá então aceitar formalmente o pedido de demissão de José Sócrates e dar início ao processo de dissolução do Parlamento, ouvindo novamente os partidos e o Conselho de Estado.
Na sua declaração, ontem à noite, em São Bento, o primeiro-ministro afirmou que a crise política só se resolve com eleições, às quais assegurou que irá concorrer, e frisou que, apesar da sua demissão, Portugal não ficará sem governo. "Quero dizer aos portugueses que o país não ficou sem Governo, que podem contar com a mesma atitude e com o mesmo sentido institucional de sempre. O Governo cumprirá totalmente o seu dever dentro das competências que são próprias de um Governo de gestão, com a consciência da gravidade da situação com que o país acaba de ser atirado", disse.
Sócrates considerou ainda que é "estreiteza de vistas" alguém na oposição pensar que ganhou no jogo político ao derrubar o Governo. "Quem assim pensa não olha para o essencial", porque "o que se passou hoje na Assembleia da República não tem a ver comigo ou com o Governo, mas com o país - e hoje o país perdeu, não ganhou", sublinhou.
Na perspectiva do primeiro-ministro, com a demissão do Governo, em consequência do chumbo do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC) no Parlamento, "acrescentaram-se dificuldades políticas às dificuldades económicas".
PSD - "tranquilo, apesar da gravidade da situação"
Dez minutos depois da declaração de José Sócrates, o líder do PSD, Pedro Passos Coelho, defendeu que era preciso "pôr fim ao clima irrespirável" de uma "situação pantanosa" e que o pior que o seu partido podia fazer "era dar o seu voto para que esta situação se prolongasse em Portugal".
Numa declaração na sede nacional do PSD, em Lisboa, em reacção à demissão do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho disse estar "tranquilo, apesar da gravidade da situação" do país.
"Em democracia e numa sociedade adulta e madura, sempre que chegamos a uma situação de impasse, sempre que encontramos uma situação pantanosa, o pior que pode acontecer é ficar com medo e com receio de assumir responsabilidades e de pôr fim ao clima irrespirável que essas situações propiciam", defendeu, acrescentando:" Foi aquilo que eu fiz".
Segundo Pedro Passos Coelho, neste momento "os mercados não têm confiança em Portugal porque o Governo, ao longo de demasiado tempo, não conseguiu criar condições de confiança" e o país "vive, infelizmente, há mais de um ano um regime de apoio assistido pelo Banco Central Europeu e pelos nossos parceiros europeus.
"O PSD está inteiramente consciente da gravidade desta situação, mas o pior que podia fazer era dar o seu voto para que esta situação se prolongasse em Portugal", reforçou.
O presidente do PSD defendeu que a realização de eleições antecipadas conduzirá a um novo Governo capaz de aplicar "uma estratégia verdadeiramente nacional", com o apoio dos sociais-democratas e de quem se queira juntar a eles.
PCP - “A política de direita, praticada à vez pelo PS e pelo PSD, com ou sem o CDS, está esgotada”
Em declarações aos jornalistas no Parlamento, após o anúncio da demissão do primeiro-ministro, o líder do PCP sublinhou que “não basta mudar de Governo, é preciso mudar de política”, argumentando que “a política de direita, praticada à vez pelo PS e pelo PSD, com ou sem o CDS, está esgotada”.
Questionado sobre se o Presidente da República deve convocar eleições, Jerónimo de Sousa admitiu que “constitucionalmente há outras soluções”, mas defendeu que “seria importante devolver a palavra ao povo português, através de eleições. Vamos participar nessa batalha, se se concretizar, com um sentido de esclarecimento e de mobilização, colocando que não basta mudar de Governo”, declarou.
Sócrates tinha acabado de anunciar aos portugueses que a crise política iria trazer para todos. Jerónimo de Sousa considerou tratar-se “de uma fuga para a frente. A vítima não é o primeiro-ministro, tem sido o povo português, com sucessivos PECs, com orçamentos de Estado e agora com esta tentativa, claramente de não responder nem resolver os problemas nacionais”, afirmou.
Desvalorizando a existência de uma crise política, Jerónimo de Sousa referiu que “a crise é a dos trabalhadores e do povo, que sentem nas suas vidas uma política errada”.
Instado a comentar as declarações de José Sócrates, que afirmou existir na oposição uma “sofreguidão de poder”, Jerónimo de Sousa considerou que o primeiro-ministro demissionário “estava a dirigir-se a outro destinatário”, numa referência ao PSD. Sobre a existência de uma “coligação negativa” da oposição – outra crítica de José Sócrates – o líder comunista perguntou: “Então o que chamamos às alianças sucessivas entre PS e PSD para fazer aprovar as medidas dolorosas que levaram o país a este estado?”.
Jerónimo de Sousa repudiou ainda críticas de Sócrates à atitude dos partidos da oposição, lembrando que o PCP “não se limitou a apresentar um projeto de resolução para chumbar o PEC, mas apresentou alternativas porque é um falso dilema considerar ou este PEC ou o caos”.
CDS-PP - "A nossa campanha será feita pela positiva”
O líder do CDS-PP, Paulo Portas, reagiu na noite de quarta-feira à demissão de José Sócrates rejeitando não ter apresentado qualquer medida concreta alternativa para o País e deixando já três compromissos eleitorais.
"Quero chamar a atenção dos portugueses de que só se fala de ajuda externa a Portugal porque a dívida pública nos últimos sete anos duplicou", afirmou Portas aos jornalistas.
O líder do CDS fez questão de dizer que a demissão do Governo é algo normal em situações de crise política: "A democracia existe precisamente para resolver problemas como este".
E apresentou "3 compromissos" eleitorais: "A campanha do CDS será feita pela positiva; só apresentaremos compromissos no nosso programa que sejam exequíveis e financiáveis; espero que o CDS volte a ser o partido mais austero e que menos gaste". O CDS, segundo Portas, apresentará medidas para fazer com que conseguir os objectivos de "Portugal pagar o que deve, pôr a economia a funcionar, sanear as finanças públicas e proteger os mais desfavorecidos".
BE – “Queremos vencer aqueles que só olham para o país como se ele fosse propriedade de PS e PSD”
Com a queda do Governo PS, a direita espreita o poder. Passos Coelho, segundo as sondagens, está na frente, e o CDS pode entrar em coligação pós-eleições. Perante estecenário, o líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, rejeita que o partido tenha aberto a porta a um Governo de direita, alegando que o país atingiu o "limiar da resistência".
“Nós não abrimos caminho a nenhum Governo de direita. O que dizemos ao país é que não aprovamos medidas que destroem o país. Queremos vencer o PSD e queremos vencer aqueles que só olham para o país como se ele fosse propriedade de PS e PSD, que já estão a governar”, afirmou Francisco Louçã.
O coordenador do Bloco de Esquerda acusa José Sócrates, de “irresponsável” e “conduziu o país a uma crise cada vez mais grave”, Louçã estimou que “as políticas do FMI são a proposta para o futuro Governo do PS com o PSD”.
“O PS veio hoje aqui dizer que gostava que houvesse uma grande coligação e essa grande coligação é aquilo que tem vindo a predominar entre estes partidos. A experiência prática da grande coligação entre PS e PSD já temos, é a grande recessão. É a economia do desastre”, acusou.
Segundo Louçã, o PEC entregue segunda-feira no Parlamento indicou aos portugueses que o resultado das medidas de austeridade anteriormente aprovadas, “com o apoio do PSD”, é uma “recessão gravíssima. Portugal é hoje o único país da zona euro, excepto os que tiveram uma intervenção, a Irlanda e a Grécia, que mergulhou numa recessão um ano depois de ter estado numa outra. É por isso que chegámos ao limiar da resistência”, defendeu o líder do BE.
PEV - "O Governo não governou à esquerda e por isso caiu"
Em declarações aos jornalistas na Assembleia da República após o anúncio do pedido de demissão de José Sócrates, a deputada do Partido Ecologista Os Verdes (PEV) criticou o que disse ser um "discurso da dramatização e da vitimização", afirmando que o primeiro-ministro demissionário "procura convencer os portugueses de que as suas opções políticas são inevitáveis".
Uma ideia que Heloísa Apolónia rejeitou: "Os portugueses já perceberam que essas políticas não são inevitáveis, mas são insustentáveis para o país".
Defendendo que "o Governo não governou à esquerda e por isso caiu", a deputada ecologista pediu "uma viragem à esquerda" do país, nas eleições antecipadas. "Este país precisa de opções de esquerda, de solidariedade, de opções de promoção da igualdade e da qualidade de vida das pessoas. Isso não se faz pela degradação do poder de compra, do aumento dos impostos e de uma política económica recessiva e de políticas sociais perfeitamente desumanas".
A deputada , eleita nas últimas eleições pelo circulo de Setúbal, afirma que há nas ruas "um descontentamento geral", que disse ter sido visível, este mês, nas manifestações da ‘geração à rasca’ e dos trabalhadores da função pública, sustentando que "as pessoas querem uma mudança de política".
PS – “Temos propostas e ideias para o país”
A terminar a longa noite da queda do governo, O líder parlamentar do PS defendeu hoje que José Sócrates "é e continuará a ser" secretário-geral dos socialistas. "José Sócrates é e vai continuar a ser o nosso líder. Ainda temos essa prerrogativa, temos o direito de escolher quem nos dirige. Os socialistas vão escolher claramente este fim-de-semana José Sócrates como secretário-geral e vai ser o nosso candidato à liderança do Governo", afirmou Francisco Assis.
Em conferência de imprensa na sede do PS, no Largo do Rato, em Lisboa, o líder parlamentar socialista considerou que José Sócrates "fez o que se impunha" ao apresentar a demissão após a rejeição no Parlamento do Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), mostrando que "não está agarrado ao poder".
Por outro lado, considerou o lider da bancada socialista, "partimos de consciência tranquila para um eventual acto eleitoral. Temos propostas e ideias para o país", declarou, expressando "orgulho" no "trabalho dos últimos anos".
Paulo Jorge Oliveira
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