PJ Harvey a menina que guardava rebanhos
Namorou com Nick Cave e o fim da relação levou-a à anorexia, mas serviu de inspiração para algumas das canções mais marcantes dos anos 90. Ajudou a que P. J. Harvey fosse considerada por várias publicações como uma das melhores artistas da música moderna. Uma carreira impressionante que começou numa zona rural do Reino Unido, como guardadora de rebanhos.
Polly Jean nasceu a 8 de Outubro de 1969 e passou a infância e parte da juventude na quinta da família, na zona agrícola de Dorset, onde tratava das ovelhas. Numa entrevista recente descreveu uma das suas tarefas habituais: “Por vezes, tinha de ajudar os meus pais a castrar os animais.” A revelação gerou uma onda de protestos de grupos ecologistas, mas a cantora defendeu-se explicando que uma das rotinas da vida rural era cortar os testículos dos pequenos borregos com um elástico e que não o fazia por prazer ou sadismo. O pai era pedreiro e a mãe era artista plástica e fazia esculturas no intervalo das tarefas domésticas, um talento que transmitiu à filha.
As influências
Em casa, ouvia muita música, de jazz a blues e aos clássicos do rock como Jimi Hendrix, Rolling Stones e Bob Dylan. Mas não escapou às paixões musicais adolescentes pelos ídolos da pop que marcaram os anos 80, como os Duran Duran ou os Spandau Ballet. Depois de terminar o liceu, foi viver para Londres, onde se matriculou numa escola de artes plásticas, a Central Saint Martins College of Art and Design.
Nessa altura, já tinha aprendido a tocar guitarra eléctrica e acústica, e era vocalista em bandas de garagem que tocavam em pubs locais. Os grupos tinham nomes exóticos como Polekats, Bologna ou Three Stoned Weaklings, mas a sua primeira grande experiência musical foi com os Automatic Dlamini, onde conheceu John Parish, músico e compositor com quem viria a colaborar durante vários anos. Com 19 anos, P. J. Harvey participou no primeiro disco da banda e partiu em digressão pela Europa.
Nessa altura, já tinha aprendido a tocar guitarra eléctrica e acústica, e era vocalista em bandas de garagem que tocavam em pubs locais. Os grupos tinham nomes exóticos como Polekats, Bologna ou Three Stoned Weaklings, mas a sua primeira grande experiência musical foi com os Automatic Dlamini, onde conheceu John Parish, músico e compositor com quem viria a colaborar durante vários anos. Com 19 anos, P. J. Harvey participou no primeiro disco da banda e partiu em digressão pela Europa.
‘Por favor, parem de tocar!’
“As primeiras canções que eu compus eram uma bosta e a experiência com os Dlamini ajudou-me a melhorar a minha música”, contou numa entrevista.
Em 1991, deixou a banda e decidiu formar o PJ Harvey Trio, com Rob Ellis (bateria) e Ian Olliver (baixo). O primeiro concerto desse novo projecto musical aconteceu no Antelope Hotel, em Sherborn, no Reino Unido – e foi um desastre. Recordou mais tarde: “No início deviam estar cerca de 50 pessoas na sala. Logo na primeira canção, o público foi saindo até que só restaram dois ou três espectadores. A gerente foi atrás do palco e gritou para o nosso baterista: ‘Por favor, parem de tocar! Nós pagamos o concerto como combinado, mas parem de tocar!’”
A ajuda dos U2
Com um começo tão traumático, não imaginavam que dois anos depois estariam a receber um telefonema da produtora dos U2 e a serem contratados para actuar na primeira parte da digressão mundial da banda irlandesa, Zoo TV Tour, em 1993.
Apesar do êxito e do reconhecimento internacional, o grupo desfez-se, mas a jovem P. J. era já um símbolo do movimento musical independente e chamou ainda mais a atenção quando apareceu em topless na capa do New Musical Express. Começou a carreira a solo actuando no influente programa de televisão Tonight Show, nos Estados Unidos.
Apesar do êxito e do reconhecimento internacional, o grupo desfez-se, mas a jovem P. J. era já um símbolo do movimento musical independente e chamou ainda mais a atenção quando apareceu em topless na capa do New Musical Express. Começou a carreira a solo actuando no influente programa de televisão Tonight Show, nos Estados Unidos.
Em 1995, 'To Bring You My Love' foi considerado álbum do ano por publicações influentes como a 'Rolling Stone', 'People' e 'The New York Times'. Nessa altura, P. J. Harvey apaixonou-se por Nick Cave e namoraram durante alguns meses em 1996. A separação do cantor australiano levou-a a entrar em depressão e os antigos rumores de que sofria de anorexia voltaram a surgir na imprensa. O fracasso amoroso acabou por servir de inspiração para ambos.
As extravagâncias da jovem Polly
Cave escreveu músicas marcantes na sua carreira inspiradas em Polly Jean, como 'Into My Arms' e 'Black Hair'. No álbum seguinte, 'Is This Desire?', ela explorou as contradições do amor, o sofrimento e a paixão. As complicações da sua vida pessoal não a impediram de conquistar cada vez mais público. Em Portugal foi uma das actuações mais marcantes do festival do Sudoeste, em 1998.
Dois anos depois, aparentemente refeita do desgosto amoroso, lançou o álbum mais pop e comercial da sua carreira, 'Stories From the City, Stories From the Sea'. Em palco, tornou-se uma das artistas que mais arriscava, mudando constantemente de visual. Podia surgir com um aspecto quase masculino, com botas de tropa, ou usar vestidos de baile, ou minissaias, perucas e acessórios cor-de-rosa, pestanas compridas e unhas postiças.
Os últimos trabalhos
Apesar da exuberância ao vivo, sempre foi muito cuidadosa a proteger a privacidade, em especial depois da relação com Nick Cave – nas publicações musicais ou cor-de-rosa são quase nulas as referências à sua vida pessoal.
Nos últimos anos passou a dedicar-se a causas mais políticas. Há reflexos disso no seu CD mais recente, 'Let England Shake', lançado já este ano (ironicamente saiu no dia dos namorados), que gerou intenso debate e polémica. A expectativa era grande: no início de Dezembro já era a artista mais pesquisada na Internet, segundo o site 'The Hype Machine'.
Neste último disco não há canções de amor clássicas, as letras são sobre guerras recentes, como a do Afeganistão. Alguns críticos dizem que isso se explica pela proximidade da cantora com o fotógrafo de guerra Seamus Murphy, que esteve no Ruanda, na Eritreia e no Kosovo; o CD está até ilustrado com fotos dele. Todo o trabalho foi gravado numa igreja do século XIX, no cimo de uma encosta com vista para o mar, na sua terra natal: Dorset, onde Polly Jean continua a encontrar refúgio.
Neste último disco não há canções de amor clássicas, as letras são sobre guerras recentes, como a do Afeganistão. Alguns críticos dizem que isso se explica pela proximidade da cantora com o fotógrafo de guerra Seamus Murphy, que esteve no Ruanda, na Eritreia e no Kosovo; o CD está até ilustrado com fotos dele. Todo o trabalho foi gravado numa igreja do século XIX, no cimo de uma encosta com vista para o mar, na sua terra natal: Dorset, onde Polly Jean continua a encontrar refúgio.
Na primeira de duas noites em Lisboa, PJ Harvey defendeu em palco “Let England Shake”, o disco que deu o mote para um concerto de tons sombrios e ambiente mais folk que rock. O resultado foi uma noite mágica e inesquecível que se repete esta noite.
Longe da imagem de indie rocker de salto alto, PJ Harvey hoje apresenta-se discretamente num canto do palco deixando espaço para os seus companheiros respirarem e serem vistos. Veste-se em tons de negro da cabeça aos pés, vai alternando entre a guitarra e a auto harpa ao longo da noite sem nunca sair da sua posição.
A aposta é toda apenas e só na música: não há invenções, não há improvisos, não há retribuição à euforia vinda da plateia sempre que o silêncio entre as músicas se instala no palco. PJ está ali para mostrar as suas novas canções e nada mais. Nós só temos que agradecer uma noite assim em que não são precisos diálogos elogiosos com a plateia ou solos desnecessários. Há um clima de contemplação à artista, justo e natural, e ela responde da melhor maneira que sabe, com a sua voz e canções.
Video concerto de ontem, em Lisboa
Fonte: Revista Sábado
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