Impressões Digitais by Paulo Jorge Oliveira
Mensagem de Ano Novo: Desejo para 2012
Olho uma página em branco, limpa, livre. Livre de ideias, de pensamentos, de notas, de palavras, de letras. Olho o vazio, o ausente, o nada. Procuro ideias, pensamentos, notas, palavras, letras; procuro razões que ocupem o vazio, o ausente; procuro algo que preencha o nada.
Talvez o difícil seja o início, talvez seja só complicado começar.
Uma grande história, um livro, uma pintura, um projecto, uma conversa, uma relação… tudo precisa de um princípio; caso contrário não chegaria a ser conhecido, não chegaria a existir. Todavia, o início não começa no pegar da caneta, do lápis, no teclado do computador, no adoptar da primeira palavra, na primeira atitude… o princípio de tudo começa muito antes disso. Para começar é preciso um motivo, uma inspiração, uma razão válida que nos traga coragem e que nos leve a agir.
Vendo bem, este texto nem tem um verdadeiro tema, não teve início. Estou – e estamos todos – cansado dos problemas do país, da sociedade, da crise, dos natais-económicos, das sugestões para pouparmos em prendas, das ideias para uma passagem de ano barata. Estou cansado do constante confronto com a realidade, que de boa não tem tido muito. Talvez por isto e por tudo não tenha inspiração sequer para um início de uma mensagem de ano novo...
Sinto Portugal assim, sem inspiração, sem energia, sem força para dar início a algo novo. Mas como o mais difícil é começar, estou confiante de que quando surgir um princípio o resto seja simples e eficaz. É isso que todos desejamos para 2012.
O ano de 2011 acaba hoje e a grande maioria dos portugueses olha para 2012 como um ano terrível cheio de horrores e tragédias. É natural. A cura já está a ser violenta, dura, e muitos doentes não vão resistir ao tratamento previsto para os próximos 12 meses. Não há dinheiro para tanto antibiótico. É preciso poupar, reduzir as dívidas do passado e obrigar o Estado, as empresas e as pessoas a gastar menos e a viver com menos dinheiro. Já se sabe que as queixas vão ser muitas, os protestos variados e provavelmente muitos – a maioria – terão muita razão.
Não há lugar para mais ilusões, fantasias e sonhos. A dependência do crédito fácil, barato e maravilhoso conduziu o país e as pessoas a esta terrível situação. Como é habitual em todos os vícios, seja a droga, seja o álcool, o tabaco ou o jogo, a ressaca é dolorosa e nem sempre leva à cura do viciado. Depende da vontade, da força e da esperança de uma vida melhor e mais responsável. Muitas pessoas e muitas empresas não vão resistir à ressaca. Não vale a pena vender ilusões. Muitos ficarão pelo caminho. Mas os outros, os que resistirem, têm a certeza que o futuro pode ser construído em bases sólidas e não em cima de castelos de areia. É por isso que as reformas que aí vêm no trabalho, nas rendas, na justiça, na Segurança Social, na saúde e no Estado não podem ser tímidas, feitas por gente com medo de descontentamentos, protestos ou mesmo violentas contestações sociais. Não há lugar para recuos, hesitações, medidas dúbias para agradar a gregos e a troianos. É preciso determinação e coragem. É preciso clarividência para explicar às pessoas que não há outro caminho, que muitos vão ficar sem os direitos adquiridos ao longo de muitos anos e que o Estado não tem dinheiro para socorrer todos os que vão ser atingidos em cheio pela crise e pelos remédios necessários para a ultrapassar o mais rapidamente possível. É preciso dizer a verdade e não esconder as muitas tragédias provocadas por esta aterragem de emergência de uma nave que andou em altos voos sem tripulação à altura e sem dinheiro para pagar o combustível. Os resistentes, os mais fortes, os que aguentarem estoicamente esta violenta ressaca, também devem saber que o futuro não será necessariamente melhor, não depende apenas do seu esforço e da sua vontade. Mas também devem saber que sem isso não há solidariedade europeia e internacional que os salve. O mundo mudou e muito. E 2012 vai ser o primeiro ano de uma nova era em todo o planeta. Nada será como dantes.
Pode não haver dinheiro para muitas coisas, pode nem haver uma estratégia certa para sair da trama onde nos meteram, mas pode haver uma coisa: a esperança e a energia. Será isso que nos marcará nos próximos tempos. Cabe a cada um construir o seu caminho.
Um bom ano de 2012, é o desejo do ADN, um projecto ainda pequeno mas que em 2012 espera crescer e afirmar-se na inovação, na criatividade, no debate de diferentes opiniões e nas boas notícias.
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