Convento de Jesus vai ser reabilitado
A cedência da exploração do Convento de Jesus à Câmara de Setúbal permite avançar com a programada execução do projecto de recuperação e valorização deste imóvel classificado como Monumento Nacional. O processo arrastava-se nos gabinetes há anos sem que se desse luz verde para uma obra essencial em Setúbal.
Convento de Jesus pode, finalmente, conhecer obras de restauro |
Esta medida resulta da aprovação em reunião pública, de dois protocolos de colaboração que possibilitam o avanço do projecto de “Recuperação e Valorização do Convento de Jesus”, operação integrada no programa ReSet – Regeneração Urbana do Centro Histórico de Setúbal.
Um dos protocolos, a celebrar com Direcção Regional de Cultura de Lisboa e Vale do Tejo, entidade que detém a gestão do Convento de Jesus, visa a cedência de exploração do imóvel à Câmara Municipal por um período inicial de dez anos, podendo este ser renovado.
Esta acção, segundo o município de Setúbal, permite a “reinstalação do Museu de Setúbal neste espaço, equipamento cultural de gestão camarária que se encontra actualmente em instalações anexas, com condições provisórias e precárias”.
No âmbito desta colaboração, compete à Autarquia assegurar a compatibilidade da utilização do Convento de Jesus e garantir as condições de segurança indispensáveis para a protecção e integridade do imóvel, incluindo os bens culturais que o integram, visitantes e utilizadores.
IGESPAR sem dinheiro para a obra
A Câmara de Setúbal fica também responsável por todos os encargos com a conservação, manutenção, restauro, reabilitação e beneficiação do monumento, assim como de todas as despesas com pessoal, meios técnicos e equipamentos.
Um outro protocolo de colaboração, desta feita entre a Câmara de Setúbal e o Instituto de Gestão do Património Arquitetónico e Arqueológico (IGESPAR), possibilita avançar com a empreitada de recuperação e valorização do Convento de Jesus.
No âmbito deste acordo, o IGESPAR compromete-se a propor ao PORLisboa – Programa Operacional Regional de Lisboa, a cedência da posição de beneficiário e a reprogramação do projecto “Recuperação e Valorização do Convento de Jesus”.
A realização deste protocolo de colaboração é justificada, de acordo com o documento aprovado, pela incapacidade financeira do IGESPAR de avançar com as obras de recuperação programadas para o Convento de Jesus.
“O IGESPAR não foi provido, na proposta de Orçamento do Estado para 2012, dos meios financeiros para fazer face à contrapartida nacional necessária para concretizar a intervenção prevista na candidatura de que foi promotor, pelo que será a Câmara Municipal a assegurar os meios financeiros adequados para a conclusão do referido projecto”.
A colaboração estabelece, ainda, a entrega à Câmara da versão do projecto encomendada pelo IGESPAR ao arquiteto Carrilho da Graça no âmbito da candidatura, a fim de integrar o processo de lançamento do procedimento da respectiva empreitada, que deve, previsivelmente, estar finalizada até ao final de 2013.
O IGESPAR deve ainda garantir o apoio técnico necessário à execução das ações previstas na candidatura.
À Câmara Municipal de Setúbal compete suportar a contrapartida nacional da candidatura, lançar os procedimentos e assumir a qualidade de dono da obra, fiscalizar e coordenar a segurança das intervenções.
A história do convento
Por aqui já se "dividiu" o mundo em duas partes |
O Convento de Jesus é um imóvel classificado como Monumento Nacional, detendo o IGESPAR atribuições em matéria de salvaguarda, conservação e valorização de imóveis classificados, nomeadamente quanto à execução de obras e intervenções, e celebração de acordos de cooperação com os seus detentores, com o objectivo de garantir a respectiva preservação e valorização.
O edifício do Convento de Jesus foi fundado em 1490 pela ama do rei D. Manuel I, Justa Rodrigues Pereira. O Rei D. João II manda ampliar o projecto, entregando-o ao famoso arquitecto Diogo Boitaca em 1494, e em 1496 era já ocupado pelas Freiras Clarissas.
Recorde-se que o Convento de Setúbal foi testemunha da ratificação do Tratado de Tordesilhas, [que dividia o mundo em metade gerido por portugueses e outra metade por espanhóis] por D. João II (em cujo reinado foi fundado o convento), em 5 de Setembro de 1494. Facto, aliás, evocado em 1994, aquando das comemorações do quinto centenário do tratado e que aqui trouxeram o monarca espanhol.
A Igreja Gótica apresenta um interior sumptuoso, e foi o primeiro ensaio no País de uma “igreja salão”, conferindo uma unidade do espaço, com as três naves abobadadas à mesma altura, permitindo uma iluminação uniforme do interior. A Igreja é famosa pelas suas belas colunas torsas feitas em brecha (uma pedra típica da Serra da Arrábida) que sustentam as abóbadas.
No tecto estão presentes nervuras espiraladas que viriam a ser um dos grandes marcos do estilo Manuelino, e que aqui parecem ser dos primeiros exemplares onde foram utilizadas.
Na capela-mor existia um belo retábulo renascentista, que agora se encontra na Galeria de Pintura Renascentista anexa à Igreja.
Este Monumento Nacional foi adquirindo em estado elevado de degradação e tem sido nos últimos anos alvo de um grande projecto de recuperação e restauro que tem sofrido muitas alterações, cortes orçamentais e contrariedades, embora alguns trabalhos de restauro tenham tido lugar mais recentemente.
No Convento funciona também o Museu de Setúbal que alberga diferentes núcleos como a “Casa Bocage”, “Casa do Corpo Santo / Museu do Barroco” e o “Museu Sebastião da Gama”, apresentado colecção na área da arte, história, arqueologia, numismática e arte contemporânea.
Agência de Notícias
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