Amor de criança...



Pena Solta - By Lia Santos 

Amor de criança...

Eu ainda me lembro dessa neblina de tempos, estive esperando por alguém como...como aquele das histórias dos livros. No seu cavalo branco cavalgando montes e vales, prados e estradas até me encontrar retida numa torre, e por fim salvar-me daquele que me tinha prendido lá...esperei para voltar para perto de mim, e ali ficar, sempre...claro que na realidade não acontecia como nos livros.

Íamos passear no parque todos os sábados, sempre todos apaixonados. Davas-me beijos o tempo todo, estavas em cima de mim sempre para que me pudesses proteger, ou melhor fazeres o papel de príncipe...era fácil de ver que eu era a tua menina...Vamos voltar onde as coisas eram simples. Jóias com nossos nomes que me deste, desenhávamos nas arvores com um sorriso plantado na face, rebolava-mos que nem doidos na relva deixando o sol clarear o nosso rosto... Tortas doces, anéis, e essas doces jóias, brilhando que nem dois apaixonados. E tu eras o meu mundo nessa época.
Agora eu gostaria de poder voltar e fazer parar o tempo, gostaria de aproveitar e tirar esse obstáculo do nosso caminho, (fantasia). E hoje penso como era ingénua a nossa paixão... pensava no momento sem deixar a próxima hora ocupar meu pensamento...se estava sorria mas se não estava desejava que chegasse na hora...
Voltando aos dias onde éramos apaixonados...pensando melhor... brincadeira de criança. Nós não estamos mais apaixonados. Mas às vezes sento-me e desejo voltar a ser criança. Coisas que faríamos se fosse hoje, voltava a adormecer no telefone com o entardecer, horas a fio sem uma única palavra pronunciar.
Depois cresci... Agora estou de volta para o futuro...Eu só queria...Dizer obrigado. Era tudo que eu poderia fazer para ficar acordada, lembro-me sempre daquelas borboletas que não vão durar até amanhã. Mas agora as luzes se acenderam. Eu tive que voltar correndo do meu pensamento. Agora eu gostaria de poder voltar e fazer parar o tempo naquele instante, poder ficar nos meus sonhos sem deixar lembrança, sem correr do tempo e sem me esquecer. Eu sou a mesma num tempo diferente, apenas mais crescida agora.

A vida mudou-me como uma borboleta flutuando. Não importa o que eu faça, minha mente está cheia neste momento de preocupações e planos, de medos e desenganos, de outros pensamentos que naquela altura desconhecia. Todo o meu caminho está no céu desenhado...hoje não existe mais o ontem, apenas a lembrança fica do primeiro amor, do primeiro arrepio, da primeira ansiedade...apenas fica a recordação. A vida não me mudou, mas obrigou-me a ser mais realista e frontal. Para que não caísse fora das obrigações a que fui posta, a não deixar que os sonhos de fantasia guiassem o meu dia.
Aprendi a ter planos e bases solidas, mas também aprendi a construir uma muralha sobre meus sonhos de criança para que não fossem roubados. Sou uma menina/mulher mais crescida mas com sonhos de sempre. Sim ainda espero o meu príncipe das histórias, não no seu cavalo e com sua espada porque são acrescentos dos livros, mas espero para ser salva desta torre que me rodeia... mas...
Eu só queria... um sonho na realidade.

Lia Santos 
Lisboa 

(Lia Santos escreve todas as quartas-feiras a rubrica Pena Solta, pensamentos da alma)  





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