Manifestação nacional da CGTP concentra-se em Lisboa‎

300 mil pessoas na rua contra a austeridade

O Terreiro do Paço, em Lisboa, foi este sábado o ponto de convergência para centenas de milhares de manifestantes que acorreram de todo o país para protestar contra as medidas do Governo. A manifestação nacional da CGTP superou as expetativas da Intersindical, cujo desígnio à partida para o protesto era fazer do Terreiro do Paço o “Terreiro do Povo”. Arménio Carlos, que liderou pela primeira vez uma ação deste tipo, assegura que foram “mais de 300 mil” as pessoas que se juntaram à luta em Lisboa.

Uma das maiores manifestações de sempre, diz CGTP

A marcha começou quando passava pouco das 15h30. Dos quatro pontos de partida definidos pela CGTP (Restauradores, Martim Moniz, Santa Apolónia e Cais do Sodré) saíram milhares de pessoas empunhando cartazes “contra as desigualdades e o empobrecimento” em direção ao ponto de encontro no Terreiro do Paço.
Em declarações aos jornalistas, à partida dos Restauradores, Arménio Carlos falava de uma “multidão imensa” que superava as expetativas em “alguns casos”. O recém-eleito secretário-geral da CGTP voltou a acusar o Governo de coligação de sufocar o país com “políticas económicas que estão a colocar Portugal num declínio económico e social”, salientando porém que “o país tem futuro” se for seguido um caminho diferente.
A chegada à Praça do Comércio, inicialmente marcada para as 16 horas, deu-se com mais de uma hora de atraso, graças à fortíssima afluência, que fez mesmo com que Arménio Carlos classificasse a manifestação como “a maior jamais vista em Lisboa nos últimos 30 anos”.
Nos discurso que viria a assinalar o momento alto da jornada de luta, o secretário-geral da Intersindical repartiu os ataques pelo Governo de Pedro Passos Coelho, a troika, o “grande patronato” e até pelo Presidente da República. 

Um Portugal rendido 


“Aqui não há rendição, aqui luta-se com coragem pela defesa dos direitos dos trabalhadores e pelo futuro de Portugal. Esta é uma manifestação ilustrativa da indignação, do protesto, mas acima de tudo da esperança e da confiança. Vamos continuar a denunciar a política criminosa e injusta deste Governo”. Foi com estas palavras que Arménio Carlos abriu uma declaração de inconformismo que foi o reflexo da indignação vivida no Terreiro do Paço durante quase uma hora.
Apelidando o memorando da troika de “programa de agressão aos trabalhadores e ao povo”, Arménio Carlos não foi parco nas críticas à gestão da crise da dívida portuguesa. “A política de austeridade que nos está a ser imposta pelo FMI, pela Comissão Europeia, pelo BCE e pelo Governo não só não resolve os nossos problemas como está a encaminhar o país para o precipício económico e social. O país definha economicamente e a pobreza está a alastar”.
E relembrou ainda o episódio polémico que marcou a semana: “Não aceitamos e sentimo-nos envergonhados com a atitude de subserviência do nosso ministro das Finanças perante o Ministro alemão. Há-que defender os interesses nacionais. Por isso exigimos a necessidade de renegociação da dívida. Quanto mais pagamos mais devemos e menos soberania temos”. 
A 1ª vez de Arménio Carlos 


 Concertação Social não agrada 

A luta da CGTP contra o acordo de Concertação Social assinado em janeiro não foi esquecida por Arménio Carlos, que não hesitou em classificar o modelo laboral como “uma das maiores fraudes do século” .
Prometendo combater o acordo “com todas as forças”, o líder da Intersindical foi conquistando o apoio da multidão, enquanto clamava que “os trabalhadores não são objetos descartáveis. É preciso aumentar os salarios, é preciso aumentar as pensões. Vamos continuar a lutar por serviços públicos universais e gratuitos”.
Sobre Cavaco Silva, Arménio Carlos foi mais longe, ao aludir que “quando chega a altura de dar o exemplo o senhor Presidente sai pela porta dos fundos”. “O senhor Presidente da República deslocou-se esta semana ao estrangeiro e considerou que o acordo era esplêndido. Ele diz que é bom porque sabe que não lhe vai ser aplicado”, reprovou. 

Jornada de luta a 29 de fevereiro

Luta volta às ruas ainda este mês

Quem também esteve presente na frente da manifestação foi o ex-secretário geral da CGTP Carvalho da Silva, que cumprimentou os novos membros da direção e foi recebido com aplausos pelos manifestantes.
Jerónimo de Sousa foi outra das presenças notadas nas ruas da baixa lisboeta. O secretário-geral do PCP condenou aquilo a que chama de “ataque brutal contra os direitos dos trabalhadores”, lançando um alerta ao Governo: “Se não ouvirem o povo, acabarão derrotados”.
Sobre a nova liderança da CGTP, Jerónimo de Sousa disse apenas ter esperança de que Arménio Carlos “olhe para esta manifestação e continue a confirmar uma CGTP de luta”.
Já no Terreiro do Paço, após a marcha da indignação, Francisco Louçã saudou os milhares de manifestantes que corresponderam ao chamamento, defendendo que “é importante que o povo ganhe a sua república”. Para Louçã, o governo tem respondido a cada mobilização “agravando mais as dificuldades” porque “só quer destruir a economia”.
Em sintonia com Arménio Carlos, o líder do Bloco de Esquerda alertou para aquela que considera ser uma necessidade premente: “Portugal precisa de interromper agora o programa da troika”, já que corre o risco de precisar pedir uma nova intervenção “porque a dívida vai ser maior”.
Para a próxima quinta-feira, dia 16, está marcado um conselho nacional da CGTP para ser feito o balanço da manifestação deste sábado. No dia 29 prosseguem os protestos, com a realização de uma “jornada de luta contra a austeridade”, onde não vão faltar “manifestações descentralizadas em todo o país”.

Agência de Notícias 

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