Reportagem de Sábado à Tarde: Onda de crime continua no distrito



Setúbal, no trio da frente nos casos de crime

No dia em que as autoridades mostram em números que a criminalidade desceu durante o ano passado, a Reportagem de Sábado à tarde descobriu que esta semana, no distrito, os assaltos violentos continuam e que o ouro continua a ser alvo “apetecível” para quem rouba. Dados do Relatório Anual de Segurança Interna apontam para o decréscimo da criminalidade. Mas em Setúbal, o crime por causa do ouro e o crime violento cresceu. E não faltam casos, só nesta semana, que comprovam isso. 

Dados apontam que crime baixou em Portugal 

Começamos pelo Barreiro onde na manhã de ontem, um homem roubou cerca de oito mil euros e vários artigos em ouro num assalto a um estabelecimento comercial na cidade.
"O homem entrou na loja de compra e venda de ouro pelas 11 horas e, com uma faca, ameaçou a funcionária. Fugiu do local com oito mil euros em dinheiro e algumas peças em ouro, cujo valor ainda não está contabilizado", referiu fonte da PSP à agência Lusa.
O assaltante levou também o sistema de videovigilância do estabelecimento, que se localiza na rua Miguel Bombarda, uma das principais do centro da cidade do Barreiro. A PSP esteve no local e a Policia Judiciária está a investigar a ocorrência.
O aumento do preço do ouro e a facilidade com que o metal precioso é vendido após um assalto fez disparar os roubos por esticão e os assaltos à mão armada na via pública no ano passado. De acordo com os dados revelados ontem no Relatório Anual de Segurança Interna (RASI 2011), - apresentada ontem – 7918 pessoas foram vítimas de um roubo por esticão e outras 8396 tiveram armas apontadas antes de serem assaltadas.
E foi, precisamente por esticão que uma mulher foi assaltada esta quinta-feira, na cidade de Setúbal. O roubo ocorreu cerca das duas da tarde na praça de Quebedo, altura em que o assaltante se acercou da senhora e roubou-lhe, pelo método de esticão, a mala que a vítima transportava a qual continha várias peças em ouro, no valor de 2.605 euros, assim como mil euros em dinheiro. A mulher, tinha 27 anos, e é funcionária de uma loja de compra de artigos em ouro.
No momento do roubo, um cidadão que passava pelo local apercebeu-se do crime e conseguiu retirar a mala ao assaltante. No entanto, a PSP foi de imediato chamada a intervir, acabando por deter, cerca das 14 horas, o autor do crime na avenida Luísa Todi. Os artigos e o dinheiro foram recuperados na sua totalidade e o indivíduo foi presente a Tribunal. Um caso com desfecho feliz.
Entretanto, no dia anterior, última quarta-feira, a PSP de Setúbal registou um outro roubo a uma senhora, de 60 anos de idade, quando a mesma circulava na rua José Luciano de Carvalho, por volta das 12.30 horas. A vítima foi abordada por dois indivíduos que lhe puxaram os brincos de ouro (no valor de 175 euros) que a senhora trazia, tendo-lhe provocado ferimentos com alguma gravidade, facto pelo qual foi necessário transportar a senhora para o Centro Hospitalar de Setúbal, onde recebeu assistência.


"Portugal é um país seguro"
O crime aumentou no distrito de Setúbal 

Segundo o secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, o juiz desembargador Antero Luís, estes valores representam 74 por cento do crime violento registado pela PSP, GNR e Polícia Judiciária e reflectem um aumento de 21,2 por cento em relação a 2010.
Apesar destes números, o RASI mostra que a criminalidade participada desceu 2 por cento (405 288 participações, menos 8312 queixas do que no ano anterior) e o crime violento baixou 1,2 por cento - em 2011 foram registados 24 154 crimes violentos e graves, menos 302 casos do que em 2010.
O documento mostra ainda que os distritos onde mais subiu a criminalidade foram Bragança e Portalegre, seguidos de Leiria, Vila Real, Guarda, Beja e Évora, quase todos no Interior do País. Setúbal também teve um aumento de ocorrências criminais (mais 3,4 por cento), aproximando-se cada vez mais de Lisboa e Porto. Para Antero Luís, "estes são os melhores números dos últimos três anos" e mostram que "Portugal é um país seguro".


Encapuçados atacam homem na Cruz de Pau

Pode ser “mais seguro” em números. Mas no dia a dia, o medo instala-se e os jornais e as televisões retratam outras realidades diferentes. Olhamos, por exemplo, o que se passou esta semana a Ricardo, funcionário do Bingo do Benfica, na Cruz de Pau, no concelho do Seixal.
De acordo com os relatos, o funcionário do Bingo foi atacado por dois homens encapuzados que o ameaçaram com uma caçadeira. Além de ameaçado, Ricardo foi agredido com violência e ficou sem a mochila que transportava. Lá dentro tinha cinco mil euros.
O roubo ocorreu pela uma hora da manhã, de quinta-feira, na Praceta Celestino Ribeiro, Cruz de Pau. De férias, Ricardo foi a uma casa situada naquela praceta do concelho do Seixal, tendo saído da mesma ao início da madrugada.
Na mochila que transportava tinha cinco mil euros em numerário, um telemóvel e uma carteira com documentos pessoais. Os dois ladrões levaram a cabo o ataque quando este se preparava para entrar no seu automóvel. "Foi de imediato agredido a murro e pontapé e, com uma caçadeira apontada, forçado a entregar a mochila que transportava", explicou a polícia.
Os ladrões fugiram a pé. Foi a própria vítima a chamar a PSP e socorro médico, tendo sido assistida no local a várias escoriações por técnicos do INEM. O caso está a ser investigado pela Polícia Judiciária de Setúbal.

Ataque no Metro Sul do Tejo

Segurança atacado no Metro Sul do Tejo


Apesar dos números do Relatório Anual de Segurança Interna apontarem para uma quebra de 1,2 por cento nos crimes violentos a nível nacional, relativamente à criminalidade violenta e grave, Setúbal registou um aumento percentual de 3,4 por cento (mais 106 ocorrências), enquanto Lisboa desceu 1,6 por cento (menos 175 ocorrências) e no Porto menos 2,1 por cento (menos 76 ocorrências).
O que se passou em Almada, ontem de manhã, explicam as razões do aumento do crime grave e violento. Rui Abrantes, vigilante numa empresa de segurança, foi esfaqueado três vezes na estação do Metro Sul do Tejo (MST) do Pragal, Almada. Foi assistido no Hospital Garcia de Orta . Teve alta a meio da manhã.
"Por sorte não foi mais grave, mas eu e os meus colegas somos ameaçados todos os dias com armas de fogo, bastões e até cadeados e correntes", lamenta Rui Abrantes.
"Isto é uma selva e não temos ninguém que se preocupe. Corremos risco de vida todos os dias. Somos ameaçados na nossa sala dentro da estação", contam vários colegas de Rui Abrantes.
Um deles foi agredido há cerca de dois anos por 15 elementos do gang de Sandro Bala – ‘o rei da Margem Sul’ – que entretanto fugiu para o Brasil, mas deverá ser julgado à revelia. Mas todos já foram agredidos. Ontem "foi a gota de água", porque quem me agrediu anda todos os dias no metro sem pagar", conta Rui.
Desde há cerca de dois anos e meio que o MST deixou de ter funcionários próprios para fazerem a fiscalização dos títulos de transporte dentro e fora das carruagens. Esse trabalho é agora feito por funcionários de uma empresa de segurança.
"Vínhamos para acompanhar a fiscalização e acabamos por fazer segurança e fiscalização em equipas de duas pessoas”.
O Metro Sul do Tejo atravessa todo o concelho de Almada e do Seixal. "Eles vêem aos bandos e quando entram nas carruagens mandam sair toda a gente. Dizem que ‘quem manda aqui somos nós’", afirmam os colegas de trabalho.

22 detidos na Moita e Barreiro
No capítulo da investigação criminal, diz ainda o Relatório Anual de Segurança Interna, realizaram-se 385.319 inquéritos, 9.172 buscas, das quais 6.663 domiciliárias, 11.440 escutas telefónicas e apreendidas 2.911 armas e 26.333 munições. Realizaram-se ainda 21.350 detenções. O relatório indica ainda que em 2011 havia 12.681 reclusos (mais 1.068 face a 2010), dos quais 2.548 eram estrangeiros.
E as autoridades querem, cada vez mais, aumentar o sentimento de segurança. E para que isso aconteça crescem as rusgas e as buscas. Foi o que aconteceu ontem à noite e esta madrugada nos concelhos do Barreiro e Moita.
Vinte e duas pessoas foram detidas durante uma operação policial realizada nos concelhos do Barreiro e da Moita, em que foram fiscalizados estabelecimentos comerciais e viaturas, disse este sábado fonte da PSP.
A operação foi coordenada entre a GNR e a PSP, com o apoio da Policia Judiciária, do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras, da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica, da Autoridade Tributária e da Autoridade para as Condições do Trabalho.Estiveram envolvidos cerca de 350 elementos policiais e 45 inspectores das diversas entidades. 
Entre as 21 horas e as duas da madrugada, fiscalizaram diversos estabelecimentos nos concelhos do Barreiro e da Moita, "com especial enfoque para as zonas urbanas sensíveis e para os estabelecimentos de diversão nocturna", acrescentou a mesma fonte. No total, foram fiscalizados cerca de 30 estabelecimentos e duas mil viaturas.
Além das detenções, as autoridades efectuaram 104 autos por infracções ao Código da Estrada e 24 a estabelecimentos, tendo ainda notificado quatro cidadãos estrangeiros para "abandono voluntário do território nacional".


Paulo Jorge Oliveira

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