“Perdemos uma grande oportunidade”
A região de Setúbal defende que o projeto do TGV deve ser recuperado no
futuro, pois poderia ser uma mais valia para o país e, em particular, para o
distrito. “O TGV não serve apenas os municípios da região, mas é um símbolo
nacional e uma afirmação do país na Europa” diz Ana Teresa Vicente, presidente
da Câmara de Palmela. Carlos Humberto, presidente da autarquia do Barreiro,
considera o TGV como “um elemento estratégico para o desenvolvimento económico
e social, para o qual é preciso arranjar mecanismos para que isto se
concretize”. O titular da pasta das obras municipais da Câmara de Setúbal,
considera que o Governo devia “ter ouvido as populações”. Mas as populações,
pelo menos parte dela, acha que “mais importante que ter um TGV é ter bons
transportes públicos”.
Autarcas de Setúbal ainda pensam no TGV |
A suspensão da Linha Alta
Velocidade entre Poceirão e Madrid foi, oficialmente, suspensa pelo Governo de
Pedro Passos Coelho. Não se sabe se o projecto volta aos carris daqui a algum
tempo mas já se sabia que, além do TGV, o aeroporto de Alcochete é um
investimento eternamente adiado, a terceira travessia do Tejo é uma miragem e
até a Plataforma Logística do Poceirão teima em não sair do papel. Em vez de
uma moderna plataforma de negócios…
"Com este governo começámos a ouvir dizer que o TGV e o novo aeroporto
não iam avançar. E com isso o projeto da plataforma logística do Poceirão
também tem estado parado", disse José Silvério, chefe do executivo da
Junta de Freguesia de Poceirão, localidade de onde ia partir a Alta Velocidade
para Espanha.
"O que é certo é que era uma das coisas que ia fazer desenvolver o
Poceirão. E o Poceirão ficou parado", acrescentou o autarca, uma das
muitas vozes que se ouviram no distrito contra a decisão do governo.
Um "duro
golpe" para o distrito
“O abandono do TGV é mau no que
diz respeito aos interesses da região”, admite André
Martins, vice presidente da câmara de Setúbal. Para a presidente da Câmara de
Palmela, Ana Teresa Vicente, o cancelamento do projeto é “uma decisão penalizadora para o
desenvolvimento do país e concretamente para a área metropolitana de Lisboa”,
e acrescenta ainda que “o TGV
vinha, sem dúvida, fortalecer a ligação entre as duas margens, sob pena de
nunca ser possível haver uma área metropolitana suficientemente competitiva com
as áreas metropolitanas da Europa”.
O presidente da Associação de Municípios da Região de Setúbal, Alfredo
Monteiro, é outro dos defensores do projeto e já afirmou que o abandono do TGV
constitui um "duro golpe" para o distrito e para o país. "Estou preocupado com um conjunto de
investimentos estruturantes [ligados ao projeto do TGV], que eram importantes
para a criação de emprego e para o desenvolvimento económico da região e do
país", disse Alfredo Monteiro que além de líder da AMRS é também
presidente da Câmara do Seixal.
“Encerramento definitivo é contestável”
Apesar de tudo, como
sugere o vereador do ambiente da autarquia de Setúbal, o TGV é um assunto que
continuará sempre “em cima da
mesa”. Isto porque diz Manuel Pisco, “o
encerramento definitivo é contestável. O país pode não ter dinheiro para todos
os projetos, mas aqueles com supra estruturas económicas não podem ser
cancelados”, porque “se
fatias de financiamento Europeu chegarem a Portugal nuns anos, aqueles que põem
uma pedra em cima do assunto voltam a classificá-lo como importante”,
julga Manuel Pisco.
Assente no bem estar
da população, Carlos Rabaçal, vereador das obras municipais na câmara de
Setúbal, critica a administração central por não ter dado importância às “populações das regiões envolvidas nos projetos
que não foram ouvidas”.
Carlos Humberto,
autarca do Barreiro, salvaguarda ser “necessário clarificar o que se passa” e alega ter ficado
negativamente surpreendido pelo facto de “os órgãos nacionais da nação tem posto em causa a estratégia da política
nacional”.
"O que nós
precisávamos aqui era de mais comboios”
População do Poceirão apenas quer mais comboios |
Mas
se os autarcas defendem o TGV como podem, as populações parecem mais aliviadas
e contentes com a decisão do Governo. Satisfeito com a decisão do governo
ficou Fernando Lourenço, de 63 anos, que nunca acreditou nos benefícios que a
construção da linha do TGV entre o Poceirão e Caia (Espanha) poderia trazer
para a localidade.
"Não sei, mas acho que se o TGV passasse aqui ia empatar muita gente.
Não acho que fosse importante para o desenvolvimento da região", disse.
"O que nós precisávamos aqui era de comboios [não do TGV] com horários
para aqui e para ali. Ainda há dias precisei de um comboio às 7.00, para ir a
Lisboa, e não havia", acrescentou.
“Além de que ia destruir muitas casas, muitas vidas
e parte da vinha do Poceirão”, diz Adélia Forte. “Depois para que nos servia
ter aqui um TGV a passar se depois não temos um comboio para Pinhal Novo,
Lisboa ou Setúbal, nem um autocarro para o Montijo. E é disso que a população
precisa e não de obras ricas para levar meia dúzia de pessoas para Espanha”,
conclui a habitante de Poceirão. “Afinal”, como diz, “O Poceirão não iria
crescer mais por isso e muito menos ter turismo…”.
Agência de Notícias
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