Conselho de Ministros aprovou novo imposto


Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar Mais terá “impacto reduzido”

O Governo aprovou, esta quinta-feira, um decreto-lei que cria uma taxa a aplicar aos estabelecimentos de comércio alimentar, por grosso e a retalho, de valor não estabelecido, destinada a financiar um fundo sanitário e de segurança alimentar. Confederação do Comércio e Serviços de Portugal, Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição e Jerónimo Martins já frisaram que a taxa é inoportuna e que os preços vão, inevitavelmente, subir.

Novo imposto pode fazer subir o preço da alimentação 

De acordo com o comunicado do Conselho de Ministros, "com a criação desta taxa é estendida a todos os operadores da cadeia alimentar - e não apenas a alguns, como acontecia - a responsabilidade do financiamento dos custos dos programas de controlo, na medida que todos são destes beneficiários".
Além desta nova taxa, o Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar Mais que vai ser criado inclui as "diversas taxas já existentes" e destina-se "a apoiar a missão da Direção-Geral de Alimentação e Veterinária" e "é um fundo financeiro que assegurará a execução de todo o programa de saúde animal e a garantia da segurança dos produtos de origem animal e vegetal", refere o mesmo comunicado.
Segundo o Governo, "é assim assegurada a elevada qualidade e segurança alimentar ao consumidor, reforçando as boas práticas ao longo da cadeia alimentar".
Assunção Cristas, que falava após o Conselho de Ministros no qual foi aprovada a criação da nova taxa, afirmou que o valor será fixado por portaria anual mas não deverá ultrapassar os "cinco a oito euros por metro quadrado/ano".

Impacto reduzido diz ministra
A ministra considera que terá "um impacto diminuto" pois só será aplicada aos estabelecimentos com superfícies superiores a dois mil metros quadrados e fica, ainda assim, "bem abaixo de 0,1 por cento da faturação" das empresas da grande distribuição.
Assunção Cristas explicou que esta taxa "não é confundível com um imposto", tratando-se antes de uma "contribuição especial" destinada a proporcionar "estabilidade financeira" ao sistema de sanidade e segurança alimentar que beneficia essencialmente as grandes superfícies, pois "se não tiverem os bens em condições de serem vendidos" serão os primeiros a ser afetados pela desconfiança dos consumidores.
A governante sublinhou ainda que, "no passado recente", o Estado foi falhando nos pagamentos às entidades que promovem estas ações sanitárias, como as organizações de produtores, cujas dívidas rondavam os 4,5 milhões de euros.
"Há entidades que vão desenvolvendo ações mesmo que não lhes paguem", salientou, adiantando que se essa colaboração fosse interrompida poderia haver riscos de segurança alimentar ou de embargos às exportações, pois os planos são obrigatórios.
A responsável que tutela os setores da Agricultura e Veterinária observou, no entanto, que "nalguns casos se tem verificado que há análises e controlos excessivos", situação que está a ser revista.
"Temos de fazer tudo o que é necessário, mas só o que é necessário", declarou.
Sem querer detalhar quanto é que o Estado vai poupar com estas medidas e qual vai ser o montante do Fundo Sanitário e de Segurança Alimentar Mais, que incluirá diversas taxas, Assunção Cristas afirmou apenas que "terá poucas dezenas de milhões de euros" e que a nova taxa contribuirá para menos de 50 por cento do Fundo.
O objetivo da criação deste Fundo, esclareceu, foi "ter uma solução estável para o futuro", repartindo os custos com os planos de segurança alimentar obrigatórios por toda a cadeia alimentar: produção, indústria e distribuição.
O Fundo vai ser gerido pela Direção Geral de Alimentação e Veterinária.


Preços vão subir diz Confederação do Comércio e Serviços de Portugal
O presidente da Confederação do Comércio e Serviços de Portugal (CCP), João Vieira Lopes, alertou, esta quinta-feira, para o facto de a nova taxa sobre a distribuição ir ter impacto junto dos preços no consumidor.
"Não vejo grande possibilidade de, em termos comerciais, se poder vir a absorver essa margem, por isso a tendência vai ser para se repercutir no consumidor", afirmou João Vieira Lopes à Lusa, depois do anúncio feito em Conselho de Ministros pela ministra da Agricultura, Assunção Cristas.
O valor da nova taxa de segurança alimentar vai situar-se entre os cinco e oito euros por metro quadrado, aplicando-se apenas às grandes superfícies, anunciou a ministra.
A ministra considera que terá "um impacto diminuto" pois só será aplicada aos estabelecimentos com superfícies superiores a 2.000 metros quadrados e fica, ainda assim, "bem abaixo de 0,1% da faturação" das empresas da grande distribuição.
"A questão fundamental e o que nos preocupa é que estando explícito no acordo de concertação social que o Governo iria tentar baixar os custos às empresas, os chamados custos de contexto, nas últimas semanas só temos tido más notícias", lamentou João Vieira Lopes, que acrescentou que a CCP está a olhar "com bastante apreensão" as posições do Executivo no contexto do acordo de concertação social.
Apesar de o limite ter sido estabelecido nos 2.000 metros quadrados pelo Governo, acima do inicialmente previsto e em linha com o traçado pela legislação europeia, o presidente da CCP afirmou que "tudo o que seja um custo" vai ter impacto.
João Vieira Lopes declarou, ainda, não acreditar que se trata de uma taxa, por não haver uma contrapartida, e corresponde a um imposto que teria de ser discutido na Assembleia da República.

Taxa inoportuna, diz dono do Pingo Doce

A nova taxa de segurança alimentar, aprovada em Conselho de Ministros, é "injustificada, inoportuna e socialmente injusta", disse à Lusa fonte oficial da Jerónimo Martins, dona da rede de supermercados Pingo Doce.
"Dado que ainda não conhecemos o texto final do diploma aprovado hoje em Conselho de Ministros não podemos saber com rigor qual a base de incidência da nova taxa nem o valor final que se aplicará. No entanto, em nosso entender, e do pouco que se conhece sobre esta nova taxa, parece-nos estarmos mais perante um novo imposto do que perante uma taxa, na medida em que não nos parece existir um serviço efetivamente prestado aos operadores sobre os quais a mesma incidirá", adiantou fonte do grupo.
Nesse sentido, "é uma medida que nos parece injustificada, inoportuna e socialmente injusta", acrescentou.
Isto porque "tememos estar perante o pior cenário, que é o de um novo imposto sobre o consumo de bens alimentares, num momento particularmente difícil para os consumidores portugueses, com especial gravidade para os mais carenciados, que são, por definição, quem tem a maior percentagem do rendimento disponível alocado à compra de alimentação".
Segundo a mesma fonte, "será sobre o consumidor final que esta taxa acabará por incidir também, por via indireta, na medida em que os preços não poderão deixar de refletir o impacto económico desta medida".

Prejudicial para os consumidores, diz a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição
Também a Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED) considerou que a nova taxa de saúde e segurança alimentar vai ter um impacto negativo no setor e prejudicar os consumidores.
"A medida aprovada recai não só sobre os associados da APED, mas também sobre todos os consumidores e no preço final dos alimentos, num contexto económico de já tão grandes dificuldades como o que vivemos, com fortes penalizações sobre o rendimento e restrição do consumo das famílias", escreveu a APED em comunicado.
A nova taxa, segundo a APED, vai acarretar efeitos negativos sobre "todos os operadores económicos desde o setor agrícola, ao agroalimentar até à distribuição, afetando toda a cadeia de abastecimento".
A associação alertou, também, para a possibilidade de, ao utilizar como critério o metro quadrado, o Governo ter que vir a garantir que a taxa "só se poderá aplicar às áreas de venda de produtos alimentares, excluindo toda a área afeta a outros produtos e mercadorias", ou seja, deixando de fora os produtos não-alimentares.

Paulo Jorge Oliveira 

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