As
verdades sem idade
Eu tenho
a convicção de que nós mudamos muito pouco ao longo da vida, e que aquilo que
somos ao 25 não é assim tão diferente daquilo que vamos ser aos 40. Mas quando
olho para trás percebo que há uma coisa que a experiência realmente me
ensinou: numa relação, a sinceridade absoluta pode ser quase tão perigosa
quanto a mentira compulsiva.
Há 5 anos, eu era uma fundamentalista da verdade. Achava que
duas pessoas que se amavam deviam contar tudo uma à outra, e um pouco menos que
tudo era já muito pouco. Essa partilha de uma verdade em estado puro (como se
tal existisse) fazia parte da minha ideia idílica de "entrega total",
que eu seguia religiosamente. Até que um dia percebi - à custa de muito sofrimento
pessoal - que revelar o mais íntimo de nós à pessoa que amamos é uma decisão
que se presta a terríveis equívocos e pode causar desnecessárias dores.
Quando comecei a namorar acusava o Bruno de estar dividido
em quatro: havia o que ele dizia, o que ele queria, o que ele sentia e o que
ele pensava, e essas coisas raramente coincidiam umas com as outras. Compreendi
mais tarde que não é só o Bruno. Somos nós todos. E insistir em verbalizar o
nosso caos interior é um exercício demasiado perigoso.
Atenção: não confundam as minhas palavras com qualquer
espécie de apologia da mentira. Eu sou alérgica à mentira (incluindo aquelas
mentiras piedosas com que por vezes se tenta despachar os filhos) e não tenho
qualquer talento para a praticar. Mas percebi a importância daquilo a que hoje
chamo ‘economia da verdade': há uma linha onde demasiada sinceridade é já
crueldade, onde contar todas as nossas dúvidas, as nossas indecisões ou os
nossos desejos é provocar no outro um sofrimento desnecessário, na medida em que
aquilo que para nós é apenas uma insignificância ou uma perturbação momentânea
pode adquirir no coração do outro um peso desmesurado.
São Paulo dizia da nossa relação com Deus que hoje vemos
como que por um espelho e que um dia veremos face a face. Não sei se esse dia
irá alguma vez chegar, mas sei que é ingenuidade pensar que conseguimos quebrar
todos os espelhos que nos rodeiam, pensando que o amor só será verdadeiro se
for cristalino. Não é assim. O verdadeiro amor é aquele que aprende a viver com
a sua própria fragilidade e que poupa o outro àquilo que ele não precisa de
saber.
Uma santa
Páscoa!
Joana
Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
(Escreve
todas as sextas-feiras na rubrica Críticas Soltas)
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