Um lugar diferente…
Fechei os olhos e imaginei que hoje tudo
podia ser diferente…
Acordar e ouvir bem perto o som dos passarinhos
que cantam pelo céu brilhante e se deixam iluminar pelo imenso sol que hoje se
deixa contemplar, ao fundo ouvir o som do mar calmo, que vagarosamente se
encontra com os rochedos e o cobre em sinal de união… Abrir o roupeiro e
vestir-me de branco, aquela cor que me acalma…
Pegar-te na mão e andar por entre os campos,
sentir o perfume das flores, das mais belas, que plantaste no nosso jardim, é
tão bom ver estas cores, como se misturam, como formam um arco-iris de sonhos,
como esperamos tanto para que cresçam apenas para olharmos para elas, lhes
tocarmos e ver-mos como são macias… Enquanto andamos fazemos planos, tantos
como sempre fizemos, tantos que realizamos, tantos que ainda podemos realizar…
E contigo continuo, de mãos entrelaçadas, caminhando por este jardim com cheiro
de sonhos e suavidade de seda e quando ao
fim do jardim chego, consigo contemplar a água, o mais belo encontro do
horizonte com o mar e nele se reflecte o
teu olhar… Então num toque suave, a minha mão se encontra com o teu rosto,
lanças um sorriso e o mar inveja o brilho dos teus olhos, sinto-me bem contigo,
conforto-me num abraço teu e ficamos ali, apenas ali, sem nada fazer, abraçados
como quem abraça o tempo, pedindo que este nosso momento, não acabe nunca mais…
Abro os olhos…
O sol
começa a desaparecer, nuvens negras chegam, enfurecidas, bravas com o sol
apoderam-se do seu espaço, oiço os trovões, começo a sentir o cheiro da terra
molhada, chove muito, tanto que já não consigo contemplar o mar, tanto que já
não vejo o reflexo do teu olhar e deparo-me com outro dos meus erros, não
reconhecer em ti, o desejo obsessivo de querer controlar todas as situações,
quase doentio, como se a vida se levasse pela trela e se esticasse ou
encolhesse conforme aquilo que mais nos convém ou interessa. Nesse momento, já
de alma completamente molhada vejo que não sou como tu, não jogo para ganhar,
não sei esperar, não sigo regras, nem sigo tempos…
Tento correr, não mais molhar-me neste
tempestade inesperada mas deparo-me ainda com outros dos meus erros, o de não
te ter dito desde o primeiro instante tudo aquilo que pensava, tudo aquilo que
sentia… mas como poderia eu dizer-te, se nunca me deixas-te dize-lo? Paro e
olho para trás, vejo que não sou como tu que és indefinido, indeciso, secreto e
manipulador. Faltou-me tantas vezes a clareza de espírito para te compreender.
Para ti, é fácil julgar os outros, como se essa postura te desse alguma
impunidade. Nada nem ninguém é impune aos seus erros, acabamos por paga-los de
uma maneira ou de outra. Estou numa escuridão voluntária que me aplaca a
vontade e os sentidos. Apaziguarei estas feridas derrotadas perante o teu
silêncio e a tua mascarada indiferença.
Continuo a correr na chuva, salpicando cada
vez mais o meu coração, pisando cada vez mais poças, vendo as gotas da água que
se formam nas pétalas das flores, das nossas flores, fecho os olhos por mais um
momento, e então entendo que não há tempestade que me meta medo, peço ao céu
que não mais se zangue comigo, que traga de volta o meu sol e se zangar, então
vai ter de me perdoar porque o meu sonho nem ele me vai tirar, porque agora
percebi que aquele lugar perfeito que tanto tento encontrar, pode ser em
qualquer lugar, desde que contigo eu possa estar…
Desejos & Pensamentos uma rúbrica onde se misturam desejos intensos com pensamentos da vida. Sempre às segundas-feiras ao fim da noite. Para ler, desejar e pensar. Com assinatura exclusiva de Cátia Neves para o ADN.
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