Todos contra fecho da Maternidade Alfredo da Costa

“O lugar onde se nasce nunca devia morrer”

“A MAC é vida, jamais poderá ser destruída” e “Não tirem à cidade esta maternidade”. Estes foram alguns dos slogans entoados pelas cerca de mil pessoas que protestaram contra o encerramento da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), em Lisboa. Um desfile entre a Maternidade e o Ministério da Saúde, em Lisboa, no dia 19, vai ser a próxima iniciativa para tentar evitar o encerramento daquela unidade hospitalar.

Centenas de pessoas juntaram-se à porta da MAC

A decisão foi tomada num plenário realizado antes do cordão humano em redor do edifício da maior maternidade do país, para fazer recuar o Governo na intenção de encerrar a unidade até 2015, anunciada segunda-feira pelo ministro da Saúde.
Paulo Macedo justificou a decisão com o excesso de oferta na região de Lisboa em serviços de obstetrícia, desde a abertura recente do Hospital de Loures, e pela descida da natalidade.
No plenário de ontem foi ainda decidido formar uma plataforma com movimentos de cidadãos e sindicatos para "pressionar" o executivo a evitar o encerramento e a dar "mais um golpe no Serviço Nacional de Saúde", disse à agência Lusa a dirigente do Sindicato da Função Pública do Sul e Ilhas, Ana Amaral.

PS, PCP e BE contra decisão
Os partidos da oposição deslocaram deputados para a concentração, onde anunciaram que, já na quarta-feira, vão levantar a questão no Parlamento.
"Não há nenhuma razão técnica ou científica que justifique o encerramento", afirmou o deputado Miguel Coelho (PS) à Lusa, acrescentando que o motivo "terá sido economicista, mas que também não justifica" o fecho da MAC, onde nascem cinco mil bebés todos os anos.
Rita Rato, do PCP, mostrou-se convicta de que a "grande manifestação" que estava a decorrer ao final da tarde de ontem, e que reuniu largas centenas de pessoas, "obrigará o Governo a recuar na decisão" de fechar a MAC.
"Não há argumentos que justifiquem" o encerramento, garantiu, prometendo também que o seu partido vai já confrontar o ministro da Saúde, Paulo Macedo, com a questão, na quarta-feira de manhã, no Parlamento.
"Um erro gravíssimo" foi como o parlamentar João Semedo (BE) chamou à decisão governamental, sem que tenha sido apresentado "um único argumento válido para encerrar a maior e a mais diferenciada maternidade do país.
"O melhor parecer técnico [para justificar a continuidade do funcionamento da MAC] é o que todos os anos os pais e as famílias fazem ao vir aqui ter os filhos", concluiu.

“Macedo escuta, a MAC está em luta”

Homens da Luta também não faltaram ao "abraço" à MAC

A iniciativa começou com um cordão humano à volta do edifício, que rapidamente se transformou em dois devido ao elevado número de pessoas que fez questão de participar, várias delas trabalhadoras da casa que só sabem “o que vem na comunicação social”.
Muitos dos presentes nasceram ou deram à luz nesta unidade de saúde e alguns empunhavam cartazes em defesa da maternidade. “O lugar onde se nasce nunca devia morrer”, lia-se numa das cartolinas de uma mulher de meia-idade. Um miúdo dava “graças à MAC por contar para a taxa de natalidade do país”.

Várias pessoas exibiam ainda mensagens com os depoimentos de pessoas que, apesar de não poderem estar presentes, quiseram manifestar a sua solidariedade.
Manuela Canha foi uma delas. “Estou em Barcelos mas a causa merece o meu apoio”, lia-se num dos cartazes. Teresa Almeida, professora na Universidade Nova de Lisboa, estava em Paris, mas também quis participar no protesto através de uma amiga. “Não posso estar presente mas acho inadmissível esta medida”, fez questão de dizer Valentina Loução, de Setúbal.
Depois de muitas palmas e até das “ondas” que se costumam ver em estádios de futebol, as pessoas concentraram-se à porta da maternidade, onde, já com a ajuda dos Homens da Luta vestidos de mulher e “grávidos”, entoaram vários slogans contra a intenção do Ministério da Saúde. Paulo Macedo deve ter ficado com as orelhas a arder: “Senhor ministro conhece a MAC?” ou “Macedo escuta a MAC está em luta” foram dois dos gritos de ordem.



Diretora da MAC diz 60 por cento dos partos são de complexidade alta
Ana Campos, diretora do serviço de obstetrícia, disse que única certeza é a da segurança da solidariedade dos profissionais e a “vontade férrea” de manter a instituição. “Queremos uma reavaliação da parte do governo no sentido de perceber que se houver uma divisão das equipas na realidade pode haver consequências na excelência. Temos uma diferenciação que nenhum hospital do país tem”.
A médica recordou a confusão da semana passada: “A primeira vez que falámos com o presidente da ARS de Lisboa e Vale do Tejo a MAC ia fechar no final do mês, depois passou para o final do ano e agora já é até 2015. Prova que o governo não tem nenhuma ideia daquilo que se fecha”.
Um dos argumentos contestados é de que é preciso rentabilizar São Francisco Xavier, que utiliza metade da sua capacidade e teve obras em 2005. “Na MAC gastaram-se 11 milhões de euros em obras nos últimos oito anos. Não pode ser a MAC a pagar pelo planeamento incompetente noutra instituição”, contesta a médica, que não se opõe à MAC passar, por exemplo, só a fazer partos de alta complexidade e passar mais utentes para outras instituições. “É preciso dizer que 60 por cento dos cerca de cinco mil partos anuais da maternidade são de complexidade alta, referenciados por outros hospitais”.

Mudança pode acontecer só quando for construído novo hospital Todos os Santos
O penúltimo diretor da unidade, Jorge Branco, que terminou funções a 01 de março, disse não entender por que motivo o Governo quer encerrar a maternidade nesta altura, o que vai obrigar a "partir as equipas".
Para manter a qualidade dos serviços prestados na MAC é fundamental manter as equipas a funcionar como estão e isso só pode concretizar-se com a transferência para outra unidade e não dispersando-as, disse o antigo diretor.
Jorge Branco afirma que a solução que admite, sem que se perca a qualidade do atendimento, seria a mudança para o Hospital de Todos os Santos, que está projetado para a zona Oriental de Lisboa.

Paulo Jorge Oliveira

Comentários

  1. Sr. Ministro, faça como o Ronaldo e "passe a bola a quem sabe", oiça os profissionais do sector, pondere outros factores além dos financeiros (ou os interesses económicos instalados de certos grupos) e acrescente valor à análise...para decidir com base em algoritmos, já temos computadores, não precisamos de pessoas, não precisamos de pagar salários elevados (entre outras regalias), em suma, não precisamos de si, essas decisões tomam-se mecanima e automaticamente...faça a diferença.

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