Governo “tem
de olhar a construção como motor da economia”
O
presidente do Sindicato da Construção de Portugal disse, este sábado, que
"todos os dias desaparecem 15 empresas e todos os meses desaparecem cerca
de 10 mil postos de trabalho" porque o setor está praticamente paralisado.
Desemprego na Construção Civil é cada vez mais grave, diz sindicato |
"Se
o atual Governo persistir na mesma direção e não lançar o Hospital de Todos os
Santos (Lisboa), as barragens, a reestruturação dos caminhos-de-ferro até ao
final do ano este setor é mesmo varrido", vaticinou Albano Ribeiro, numa
conferência de imprensa no Porto, focada no desemprego crescente na construção,
em boa parte devido a um forte desinvestimento público.
Albano
Ribeiro deu com exemplo a suspensão da construção do túnel rodoviário e da
autoestrada do Marão, entre os concelhos de Amarante e Vila Real, que se
prolonga há um ano e "afetou 1400 postos de trabalho".
"Todos
os dias, há empresas que abandonam os trabalhadores", deixando-os "em
situações muito fragilizadas" no que toca aos seus direitos, afirmou.
Muitos
trabalhadores "entregaram as suas casas" aos bancos por não terem
meios financeiros, mas o sindicato é da opinião que, "muito rapidamente,
os números irão aumentar vertiginosamente".
Albano
Ribeiro referiu haver vários casos em que o desemprego atinge "marido,
mulher e filhos" e nesta conferência de imprensa estiveram presentes
trabalhadores a braços com esse problema.
Os dias difíceis de quem fica sem emprego
Luís
Adriano Silva é um exemplo: tem "quase 62 anos", trabalhou "mais
de 40 anos na construção civil" e encontra-se "desempregado há um
ano, vai fazer em junho".
"O
patrão ficou a dever dois meses de ordenado e quatro de subsídios", contou
à Agência Lusa.
A mulher,
de 57 anos, e o filho, de 23 anos, estão também desempregados.
O que
lhes vai valendo é o subsídio de desemprego que Luís e a mulher recebem, 450
euros por mês, cada um.
Desempregados do setor têm dificuldade em arranjar emprego |
"Tenho
ido a obras procurar, mas não há trabalho", afirmou.
Explicou
que a sua empresa "pediu a insolvência e ninguém trouxe nada".
"Nem carta deram para o desemprego", realçou Luís.
O
operário lembrou que a construtora a que esteve ligado "39 anos" fez
"meia cidade em Vila Pouca de Aguiar" [distrito de Vila Real] e nos
últimos tempos realizou "muitas obras de restauro".
"Fomos
nós que fizemos o restauro do Teatro São João, andamos na sé do Porto, na
Assembleia da República, em Bragança. Andei muitos anos por fora, ia à
segunda-feira e vinha à sexta" recordou.
A sul, Hélder
Francisco, de 48 anos, também ficou sem emprego há mais de um ano. Funcionário
da construção civil há 25 anos, viu o patrão, na Moita, mandar embora toda a
gente. Entre os quais a filha, de 22 anos, que era “secretária” da empresa. “Trabalhamos
sobretudo em obras públicas e também em obras de urbanizações do distrito de
Setúbal e Lisboa. Mas está tudo parado. Vim para casa com quatro meses de
salário em atraso – que ainda estou a receber – e com poucas perspectivas de
voltar”. Segundo Hélder, a última obra foi uma estrada municipal no concelho do
Seixal que, foi dito pelo patrão, não foi paga”. A mulher está desempregada e a
filha também. “O subsídio não dá para comer nem tao pouco para pagar as dívidas”.
O carro do casal e da filha já foram vendidos, assim como alguns móveis do
andar da Moita, onde vivem os três. “Vender a casa está em aberto porque cada
vez mais está difícil de pagar”, diz Hélder.
Governo tem de relançar obras públicas
Para
Albano Ribeiro, o Governo tem de "fazer tudo ao contrário" e promover
o "relançamento do setor e da economia" para inverter a situação que
o setor vive.
Segundo o
sindicalista, "só haverá crescimento económico se este Governo, de uma vez
por todas, olhar para construção civil e obras públicas como motor da
economia", o que "criaria cerca de 100 mil postos de trabalho neste
setor e nos da cerâmica, do vidro, das pedreiras, da metalurgia, dos têxteis e
dos materiais de construção, entre outros".
Agência de Noticias
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