Críticas Soltas por Joana Teófilo Oliveira


Anda comigo ver as promoções!

Uma acção "genial", como considera o sociólogo Villaverde Cabral, ou uma "lucrativa experiência comercial" utilizando os portugueses como "cobaias", conforme nota o eurodeputado Rui Tavares? A promoção de ontem do Pingo Doce anda nas bocas de meio mundo. E, cá para mim, ainda bem! Esta semana, bastavam alguns minutos à mesa de um qualquer café para se perceber duas dúvidas dos cidadãos. Uma, quando é que o Pingo Doce volta a reduzir os preços? A outra, como é possível Rita Pereira receber milhares de euros para aparecer vestida na ‘Playboy’?



Discordo daqueles que criticaram a campanha da empresa na passada terça-feira, 1 de Maio, dia do trabalhador. A acção do Pingo Doce, além de ter sido um sucesso inegável, permitiu a muitas famílias comprar produtos a baixo preço. E só isso mereceria o meu aplauso. A Jerónimo Martins, que não é uma instituição de solidariedade, agiu em função do seu próprio interesse, como é óbvio, mas isso não invalida o facto de ter ajudado imensas pessoas. Aliás, esta política de descontos agressivos é usual em muitos outros sectores, e também noutros países desenvolvidos. 
Recordo a loucura que é a Black Friday nos Estados Unidos ou os descontos nos saldos em Portugal no sector da roupa, por exemplo, quando os descontos atingem valores muitas vezes superiores a 50 por cento. Sinceramente não percebo porque é que fazer descontos desta natureza é mau, quando é óbvio que são os consumidores os mais beneficiados deles.
Venham mais acções desta natureza, neste e noutros sectores. Sobre ser no 1º de Maio. Mas qual é o mal? É algum dia sagrado para que não se possa fazer nada? É apenas um feriado, aliás a que poucos portugueses ligam, como ficou provado terça-feira.
Achei esta acção genial, já que o 1º de Maio é o dia do consumidor, pois as pessoas trabalham para consumir. É um escape colectivo de uma sociedade submetida a uma pressão incrível...
Como tem sido divulgado, também os funcionários do Pingo Doce saíram beneficiados terça-feira. Além de terem recebido o triplo pelo dia de trabalho, ganharam um dia extra de folga e ainda podem usufruir da promoção num outro dia. Precisamos de mais grupos económicos como a Jerónimo Martins e de empresários como Alexandre Soares dos Santos para fazer levantar Portugal. Basta só alargar um pouco a campanha e assegurar a segurança das pessoas, dos funcionários e dos bens.
Para lá das acusações de dumping ou dos aspectos colaterais à iniciativa, o que interessa a quem faz contas à vida é saber se a cadeia de supermercados vai repetir a graça. Já se discutem técnicas para conseguir trazer mais paletes de leite em menos espaço, elaboram-se roteiros que permitem abarcar o máximo possível de artigos. O próprio dono das lojas, Soares dos Santos, que até nem sabia da promoção, aguarda com impaciência que algum empregado se descaia, para ficar a conhecer outra acção do género à ocorrida a 1 de Maio.
Mas a grande dúvida que atormenta os autóctones passa por saber como é que Rita Pereira conseguiu revolucionar uma revista que vive do nu, ao criar uma nova figura, a da ‘coelhinha vestida’, uma mudança da publicação um dia sonhada por Hugh Hefner que pode ser sintetizada com o título de um filme – ‘Do Cabaré para o Convento’. Assim também eu!
Desta vez, pela primeira vez, acabo a minha Crítica Solta semanal com um vídeo: Anda comigo ver as promoções. Um excelente trabalho da rádio Comercial...






Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 

O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo, enfim. À sexta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN. 

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