Críticas Soltas por Joana Teófilo Oliveira


O estranho caso de Maddie

A Scotland Yard disponibilizou mais dois milhões de libras para procurar Maddie McCann, filha do célebre casal McCann. Acho bem. Quando se trata de procurar respostas para uma situação com uma dimensão tão trágica, as autoridades devem investir seja o que for para resolver mistérios e encontrar as respostas que não se encontraram até agora.


Talvez agora, que a memória está mais desperta para os erros e os horrores que a natureza humana é capaz de realizar, que se comece sem preconceitos e sem medos. Na altura do desaparecimento da criança, uma poderosa máquina de propaganda condicionou a investigação desde o início. Os pais, os célebres McCann, que deixaram três crianças sozinhas em casa enquanto jantavam fora com uns amigos, conseguiram mobilizar em poucas horas assessores de imprensa e cadeias de televisão para dizer ao mundo que a criança teria sido raptada. E tanto a investigação quanto o povo crédulo acreditaram neste destino infeliz.
Procurou-se Maddie por todo o mundo, foi supostamente encontrada em vários países, [e ainda continua a ser] foram lançadas preces, bênçãos, e até uma bênção papal, para que os torturados pais tornassem a encontrar a sua filha. Faltou, na altura, o discernimento para questionar, de forma crítica, o que se teria passado naquele apartamento para não haver rasto, nem vestígios, de ninguém estranho à família e ao círculo de amigos que a acompanhou.
Quando foi feita esta aproximação segura, e elementar, ao local do crime, já era tarde demais, e, apesar disso, as informações recolhidas eram bem contraditórias com o foguetório que espalhara o rasto da pequena Maddie pelos quatro cantos do mundo. Dizem os especialistas criminais que a investigação criminal, baseada nos grandes clássicos que a construíram, que se deve procurar a solução de um crime indagando das respostas mais simples.
Só depois de esgotada esta hipótese, se passará a hipóteses mais complexas, pelo menos é o que eu acho e não sou criminalista nem polícia. Mas sou atenta. Nesta história, quer a família quer aqueles que frequentavam aquele apartamento, quando foram escrutinados, reagiram lançando raivas e protestos. A disponibilidade foi sempre curta e acompanhada de alarido indignado. Seja como for, o segredo está dentro daquelas paredes. Seja qual for o crime. Seja qual for o mistério. Que as polícias o consigam desentranhar dali de uma vez por todas. Ficaremos todos mais sossegados se soubermos onde está Maddie. Viva ou, muito provavelmente, morta.



Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 

O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo, enfim. À sexta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN. 

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