Críticas Soltas por Joana Teófilo Oliveira


O fisco e o fogo

Eis mais um coelho que este governo tirou da cartola: o contribuinte vai poder receber 250 euros no IRS de 2014 desde que gaste 27 mil euros – mais coisa menos coisa – por ano em oficinas automóveis, cabeleireiro, hotéis e restaurantes. Claro que terá de andar género bufo a pedir facturas de bicas. Tudo em nome do combate à fraude fiscal, mesmo que de fora fiquem sectores como a construção civil. Pior que isto só os fogos que devastam a nação...


Em cada cidadão, um inspector das finanças. Em cada esquina, mais uma luta de trabalhador contra trabalhador. Bonito. Passos Coelho conseguirá enterrar mais umas quantas pequenas empresas.
É óbvio que a minoria de famílias que ganha mais de 2 mil euros por mês vai mesmo gastar quase todo esse rendimento em jantaradas e noites na pensão. E está-se mesmo a ver que quem ganha mais vai a correr pedir factura da revisão do carro, mesmo que lucre mais não pedindo. Isto sim, é planeamento fiscal.
Ora aqui está, por fim, uma medida de combate à crise. Afinal, porque deverá o governo preocupar-se com as dificuldades dos portugueses em manter a casa ou em aceder a cuidados de saúde, quando têm tanto a beneficiar ficando em hotéis e indo ao cabeleireiro? Nem o nosso Coelho mor, nem o Relvas fresquinho nem tão pouco o voz de sono – Gaspar para os amigos – pensaram nisso. E o Álvaro nem sabe do que estou a falar.

Os fogos…
Todos os anos, assistimos ao mesmo ciclo de imagens do inferno, um desastre que não nos larga em cada Verão. São imagens espectaculares mas de horror. De sofrimento. De aflição incontida perante a perda de bens e ganhos de uma vida.
Somos confrontados com a dilaceração de campos, florestas, matas, e com populações em perigo. É certo que os países mediterrânicos estão sujeitos a este destino. Quando o Verão começa a aquecer, todos os níveis de risco de incêndio aumentam e daí ao confronto com os flagelos do fogo é um passo.
O abandono dos campos, a diminuição dos ‘vigilantes’ que viviam a terra e da terra, pastores, almocreves, trabalhadores rurais, fez com que muitas vezes só exista alerta para o fogo demasiado tarde. Mas não se pode ignorar outra evidência: grande parte dos fogos são de origem criminosa. Estão por aí, à solta, dezenas de pirómanos.
Muitos deles identificados, que já estiveram presos e continuam fixados nas suas manias quando regressam à liberdade sem qualquer restrição ou controlo. Era importante que não fosse assim. Que, sem violar nenhum princípio constitucional, apenas com medidas administrativas, deveria acontecer um controlo maior sobre os pirómanos conhecidos e consolidar políticas de prevenção sobre os grupos de risco.
É claro que não é esta a única causa que explica os incêndios nestes dias de brasa. Era interessante saber como o Estado cuida das suas matas, florestas e parques, no que respeita à prevenção, para ter legitimidade para censurar os privados que não têm cautelas. Era interessante saber quais os investimentos na floresta e preservação, o que significaria, antes de mais, uma política agrícola que fixasse populações e produzisse riqueza. Também seria estimulante admitir que essa política agrícola e florestal era o grande e decisivo passo para sairmos do inferno da crise onde estamos enfiados. Mas aqui, neste inferno, os incendiários são outros e, tal como os pirómanos, a cadeia continua pacientemente a esperar por eles. Até quando?


Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 

O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo, enfim.
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