Saudade
Tempo ou espaço
vivido sem tempo de saber sentir saudade. Tempo que passa e não deixa grandes
recordações para mais tarde contar.
Multidões em redor, todos estão
bem-dispostas, todos rasgam sorrisos, todos trazem histórias para contar. Todos
têm bocadinhos de algo bom e mau também, guardam para sempre momentos
maravilhosos.
Pessoas importantes, o primeiro amor, as
amizades genuínas, um animal doméstico, um beijo, uma carta, um abraço
especial, palavras de conforto, uma música que faça recordar aquele tempo ou
espaço, de rir até chorar, de tardes de Natal em família, decisões importantes
tomadas com o apoio de quem supostamente nos ama ou deveria amar
incondicionalmente.
Correm lágrimas pela face, às vezes não
se sabe o porquê, apenas a falta da saudade do que não aconteceu, do que não
teve um bocadinho de história para contar. Correm mais lágrimas e em soluços,
balbuciam insistentemente dúvidas de porque é que há pretéritos imperfeitos tão
dolorosos e porque têm de se passar por tantos momentos menos agradáveis.
Quantas vezes existiram vontade de abraçar, vontade de dizer que sentimos falta
de um carinho, de uma palavra de conforto, mesmo sabendo que algo não está
correcto, mas mesmo assim sermos admirados. Onde estão essas histórias bonitas
para contar? Muitas apenas no imaginário de onde nunca se tornaram em
realidade, onde durante anos, foi criada a expectativa de uma esperança que no final
morreu com o tempo.
Anos passam e a sensibilidade torna-se
invulnerável, carente de uma saudade que nunca existiu, ansioso por uma saudade
de um futuro que pode ter histórias para mais tarde recordar, onde não haverá
falhas, por muito que sejam insignificantes no momento para quem as comete,
tornam-se autenticas marcas profundas no coração tornando-o frágil.
Correm ainda mais lágrimas, escondidas
dos olhos de quem nos acha o máximo, de quem nos vê sempre a sorrir, de quem
acha que afinal tivemos tudo o que é normal de uma pessoa normal.
Onde nos fazem perguntas naturalmente e
estupidamente não passam de perguntas retóricas para nós.
A surpresa está, quando sem esperar
nada, o conforto chega de onde não se espera, na verdade não existem hábitos de
deixar expressar emoção, e mais uma vez as lágrimas correm pela face
entristecida e emocionada por gestos tão pequenos e tão grandiosos que poderiam
ter sido vividos noutro tempo.
Saudade de uma saudade apenas
imaginária.
Saudades de um passado que poderia ser
recordado com um sorriso mais bonito.
Saudades apenas.
Alexandra
Lopes
Setúbal
www.alexandralopes.blog.pt
[Em cada um de nós existe uma lagarta feia... que nasce sempre uma linda borboleta... recomeçar nem sempre foi fácil. Todas as terças-feiras, Alexandra Lopes faz-nos a pergunta: Onde a imaginação me leva? Certamente… a tantos lugares]
www.alexandralopes.blog.pt
[Em cada um de nós existe uma lagarta feia... que nasce sempre uma linda borboleta... recomeçar nem sempre foi fácil. Todas as terças-feiras, Alexandra Lopes faz-nos a pergunta: Onde a imaginação me leva? Certamente… a tantos lugares]
Consulte todos os artigos da autora
Comentários
Enviar um comentário