Cavaco escuta "o povo está em luta"
Milhares aguardam fim da reunião do Conselho de Estado em frente ao Palácio
de Belém, em Lisboa. Continuam os gritos que pedem a demissão de Passos Coelho.
Houve quatro detenções, pelas 22 horas, quando um grupo de manifestantes tentou
romper a primeira barreira policial e começaram a arremessar garrafas e
petardos. Os ânimos estão agora mais calmos.
Apesar da serenidade do protesto houve incidentes |
Sem detalhar a idade dos detidos, a fonte do comando metropolitano da PSP
sublinhou que até às 21.30 horas estes eram os únicos elementos detidos em
resultado da vigília em frente à residência oficial da Presidência da
República, num dia em que Cavaco Silva convocou os conselheiros de Estado para
escutar as diferentes visões sobre a atualidade política e económica
portuguesa.
A PSP foi obrigada a reforçar os meios no local e, em 20 minutos, durante a
tarde desta sexta-feira, chegaram quatro contigentes do corpo de intervenção.
Ao início da noite, chegaram mais dois contigentes, à medida que aumentava o
rebentamento de petardos lançados por um grupo de estivadores.
Um fotojornalista foi atacado com uma pedra atirada por um dos
manifestantes. Note-se que a Comunicação Social está, sobretudo, concentrada
numa zona próxima do cordão policial.
Cavaco escuta "o povo está em luta", que é uma das frases que
mais se ouvem no jardim Afonso de Albuquerque, em frente ao Palácio de Belém,
em Lisboa, mas o momento
alto aconteceu quando cerca de dez mil pessoas cantaram, em uníssono, o tema
"Acordai", de Fernando Lopes-Graça, enquanto se distribuiam flores
brancas.
A concentração estava prevista para as 17.30 horas, mas os participantes
começaram a chegar ao lugar antes da hora marcada.
A chamar a atenção dos cidadãos está um grupo de cinco fuzileiros que
participam no protesto fardados.
Protesto começou as 17h
Milhares voltaram a sair às ruas de Norte a Sul de Portugal |
Cerca de 50 polícias estão espalhados ao longo de várias centenas de metros
junto às grades que foram colocadas pela PSP entre a praça Afonso de
Albuquerque e a rua de Belém, via que está cortada ao trânsito, exceto para
transportes públicos e de turismo.
Entre os manifestantes, o deputado comunista Miguel Tiago declarou que
"não se trata de uma concentração contra a Taxa Social Única (TSU), mas
sim contra a troika e o Governo. Ainda não ouvi falar da TSU aqui".
Junto ao Palácio de Belém estão mais polícias com equipamento antimotim,
existindo ainda numa das ruas laterais do palácio elementos do Grupo
Operacional Cinotécnico da PSP.
Não está prevista qualquer declaração do presidente da República no final
da reunião.
200
no Porto
No Porto, os 100 mil da semana passada ficaram reduzidos a 200 - embora no
Facebook pelo menos 500 tenham confirmado a presença -, mas o ânimo e a
contundência dos manifestantes que participaram, ao final da tarde, no protesto
na Avenida dos Aliados, não foram afetados pela fraca mobilização.
"Somos menos, mas estamos cá todos", frisou um dos presentes,
apelando a uma presença em massa na manifestação marcada para o dia 29: "É
preciso invadir Lisboa".
Por entre votos para que "não deixemos morrer o 15 de Setembro",
os membros da assembleia popular improvisada desfiaram as razões que estão na
base do repúdio das medidas de austeridade. "Não aceitamos mais
cortes", defenderam.
A recusa do memorando da troika foi mesmo um dos poucos pontos em comum nas
dezenas de intervenções populares que se seguiram, nas quais tanto se exigiu o
boicoite às próximas eleições como a responsabilização criminal dos atuais
governantes.
De Bragança a Faro...
Governo voltou a ser muito criticado nas ruas |
Mais a norte, em Braga, ainda são poucos os que se juntam na Avenida
Central. No coreto, epicentro do protesto bracarense, está um mural onde as
pessoas vão escrevendo o descontentamento com as medidas de austeridade.
"Passos privatiza a tua mãe" ou "devolvam a nossa
liberdade" são algumas das frases deixadas por anónimos, essencialmente
jovens, que visam essencialmente Passos Coelho e Vítor Gaspar. Outros, de forma
original, trazem bicicletas com mensagens.
Ao mesmo tempo, o movimento de Braga convoca para sábado, também na Avenida
Central, uma manifestação para as 15 horas.
Já em Viseu, cerca de quatro dezenas de pessoas participam na vigília que
está a decorrer no Rossio.
A iniciativa está com parca adesão na cidade de Viseu, "porque não
houve o mesmo tempo de preparação como para a manifestação do último
sábado", alegou António Gil, membro da organização.
Em dia de feriado municipal, Cláudia Saraiva não quis deixar de sair à rua,
para demonstrar o seu descontentamento, fazendo acompanhar-se pelos seus dois
filhos menores, para que "desde pequenos aprendam que é preciso lutar
contra as injustiças".
Opinião partilhada por Maria José, que sublinhou que é preciso terminar com
o conformismo. "Numa cidade conhecida por Cavaquistão, qualquer coisa que
se consiga é uma vitória", alegou.
Em Aveiro, pouco mais de 100 pessoas reuniram-se, ao final da tarde, na
Praça da República, em frente ao edifício da Câmara Municipal.
"Gaspar, deixa de nos assombrar" ou "para este circo não
preciso de Governo, chega de palhaços", eram algumas das frases legíveis
nos poucos cartazes que os populares levaram para a rua.
"Contávamos com maior adesão por parte das pessoas. Mesmo aqui,
estamos aqui até a vigília terminar em Lisboa e, caso seja preciso, iremos para
lá ter com os nossos colegas", disse uma das organizadoras da vigília,
quando passavam mais de duas horas desde o início da vigília.
Em Bragança, eram cerca de 20 pessoas; em Faro, concentravam-se cerca de
150 manifestantes e, em Coimbra, chegaram a 200, tal como em Setúbal.
A cerca de meia centena de que se manifestou em Évora chegou mesmo a
cortar o trânsito na Praça do Giraldo.
A iniciativa foi marcada pelo movimento "Que se lixe a troika!
Queremos as nossas vidas", após as manifestações que reuniram, no dia 15,
centenas de milhares de pessoas em diversas cidades do país.
Além da vigília junto ao Palácio de Belém durante a reunião do Conselho de
Estado, estão marcadas concentrações para outras 15 cidades portugueses, assim
como em Londres, Inglaterra.
"Não queremos apenas mudanças de nomes, queremos mudanças de facto. A
21 de setembro iremos concentrar-nos junto ao Palácio de Belém para demonstrar
que 15 de setembro não foi uma mera catarse coletiva, mas um desejo
extraordinário de mudança de rumo", lê-se na convocatória colocada no
Facebook.
Agência de Notícias
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