Críticas Soltas por Joana Teófilo Oliveira


Ao sétimo dia... Deus criou o Borges; o inteligente!

O inteligente Borges inventou um estratagema para pôr os trabalhadores, já na penúria, a financiarem as empresas através do aumento dos descontos para a segurança social e a redução da TSU. A ideia "extremamente inteligente", não fosse ela do muitíssimo inteligente Borges, nunca tinha sido experimentada em lugar algum do mundo. Os empresários, como todo o resto do País, foram contra. Não por uma questão de solidariedade, mas porque acham que trabalhadores falidos são consumidores falidos. Pensam que não há exportações que nos salvem da destruição do mercado interno. Os ignorantes tiraram assim ao espantosamente inteligente Borges o Nobel que lhe estava reservado.

O tremendamente inteligente Borges é demasiado grande para este País. Tem de lidar com gente ignorante que não passaria no primeiro ano do seu curso, disse ao lado do genial ministro que fez de uma assentada – leia-se meses – um curso inteiro. Porque voltou o barbaramente inteligente Borges para a piolheira? Porque também o mundo é demasiado pequeno para ele. O FMI despediu-o por ser inteligentemente incompetente. Ninguém sabe o que fez, durante dois anos, como vice-presidente da Goldman Sachs (um entre centenas), o grupo financeiro que ajudou o governo grego a enganar a Europa e que mais responsabilidades tem na crise financeira internacional. Terão sido, com toda a certeza, coisas inteligentes.
Como Chairman da Hedge Fund Standards Board, deu uma entrevista à BBC. No Hard Talk, o  inteligente Borges tentou explicar a Stephen Sackur os seus inteligentes pontos de vista sobre ética e a utilidade para a economia das suas funções. Perante olhos mais ignorantes, a prestação foi desastrosa e esclarecedora. Como acontece por vezes aos intelectualmente mais dotados, dava a ideia de estarmos perante um pateta que deixava clara a obscuridade imoral do seu ofício.
Incompreendido lá fora, porque o avassaladoramente inteligente Borges vive à frente do seu tempo, regressou ao cantinho que o viu nascer. Passos Coelho contratou-o para tratar das privatizações,  que não têm, como se está a ver na TAP e na RTP, corrido muito bem. É o problema de lidar com investidores externos não menos ignorantes que os empresários domésticos.
Desde que chegou, o inteligente Borges tem dado inteligentes opiniões. Que os salários dos portugueses têm de baixar e que quem acha que os portugueses não têm de apertar o cinto está um bocadinho a dormir. Palavras do deprimentemente inteligente Borges, que saca, todos os meses, 25 mil euros aos contribuintes. Que a RTP devia ser concessionada, ficando as despesas para o Estado e o lucro para quem agarrar a mesada, propôs o pateticamente inteligente Borges. Que as despesas com os funcionários públicos correspondiam a 80 por cento dos custos do Estado, um número assim um bocadinho para o exagerado, mas natural em alguém que, absorto no seu próprio brilho intelectual, não perde tempo com minudências. De cada vez que o incontinentemente inteligente Borges abre a boca cria um drama no governo. Diria Tchekhov: "que sorte possuir uma grande inteligência, nunca lhe faltam asneiras para dizer".
Ainda bem que não sou “suficientemente inteligente” e ainda nem trabalho [acho que o Borges nunca o fez, mas sou má língua] mas também não ando por ai a dizer asneiras!



Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo 

O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo, enfim. À quinta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN. 

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