Ao sétimo dia... Deus criou o Borges;
o inteligente!
O inteligente
Borges inventou um estratagema para pôr os trabalhadores, já na penúria, a
financiarem as empresas através do aumento dos descontos para a segurança
social e a redução da TSU. A ideia "extremamente inteligente", não
fosse ela do muitíssimo inteligente Borges, nunca tinha sido experimentada
em lugar algum do mundo. Os empresários, como todo o resto do País, foram
contra. Não por uma questão de solidariedade, mas porque acham que
trabalhadores falidos são consumidores falidos. Pensam que não há exportações
que nos salvem da destruição do mercado interno. Os ignorantes tiraram assim
ao espantosamente inteligente Borges o Nobel que lhe estava
reservado.
O tremendamente inteligente Borges é demasiado
grande para este País. Tem de lidar com gente ignorante que não passaria no
primeiro ano do seu curso, disse ao lado do genial ministro que fez de uma
assentada – leia-se meses – um curso inteiro. Porque voltou o barbaramente
inteligente Borges para a piolheira? Porque também o mundo é demasiado
pequeno para ele. O FMI despediu-o por ser inteligentemente incompetente.
Ninguém sabe o que fez, durante dois anos, como vice-presidente da Goldman
Sachs (um entre centenas), o grupo financeiro que ajudou o governo grego a
enganar a Europa e que mais responsabilidades tem na crise financeira
internacional. Terão sido, com toda a certeza, coisas inteligentes.
Como Chairman da Hedge Fund Standards
Board, deu uma entrevista à BBC. No Hard Talk, o
inteligente Borges tentou explicar a Stephen Sackur os seus inteligentes
pontos de vista sobre ética e a utilidade para a economia das suas funções.
Perante olhos mais ignorantes, a prestação foi desastrosa e esclarecedora. Como
acontece por vezes aos intelectualmente mais dotados, dava a ideia de estarmos
perante um pateta que deixava clara a obscuridade imoral do seu ofício.
Incompreendido lá fora, porque
o avassaladoramente inteligente Borges vive à frente do seu tempo, regressou
ao cantinho que o viu nascer. Passos Coelho contratou-o para tratar das privatizações, que não têm, como se está a ver na TAP e na RTP, corrido muito
bem. É o problema de lidar com investidores externos não menos ignorantes que
os empresários domésticos.
Desde que chegou, o inteligente
Borges tem dado inteligentes opiniões. Que os salários dos portugueses têm
de baixar e que quem acha que os portugueses não têm de apertar o cinto está um
bocadinho a dormir. Palavras do deprimentemente inteligente Borges, que saca,
todos os meses, 25 mil euros aos contribuintes. Que a RTP devia ser
concessionada, ficando as despesas para o Estado e o lucro para quem agarrar a
mesada, propôs o pateticamente inteligente Borges. Que as despesas com os
funcionários públicos correspondiam a 80 por cento dos custos do Estado, um
número assim um bocadinho para o exagerado, mas natural em alguém que, absorto
no seu próprio brilho intelectual, não perde tempo com minudências. De cada vez
que o incontinentemente inteligente Borges abre a boca cria um drama no
governo. Diria Tchekhov: "que sorte possuir uma grande inteligência,
nunca lhe faltam asneiras para dizer".
Ainda bem que não sou “suficientemente
inteligente” e ainda nem trabalho [acho que o Borges nunca o fez, mas sou má língua]
mas também não ando por ai a dizer asneiras!
Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
Quinta do Anjo
O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente
grande. É tão incomum isso na nossa
imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às
vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O
leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do
muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é
sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou,
até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo,
enfim. À quinta-feira por Joana Teófilo Oliveira para o ADN.
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