Aventura nas compras...
“Essas flare jeans com um cardiganzinho, uns wedges vertiginosos e uma maxi clutch compõem um look super trendy!” Não dá para levar a sério. Não dá mesmo. Especialmente quando esta mariquice trocada por miúdos resulta num modelito engraçado de calças à boca de sino, casaquinho de malha, sapatos compensados impossíveis de calçar e pochete de tamanho considerável. Bolas, custa assim tanto falar em português!
Venho, por isso, apelar ao bom senso dos fashionistas - que dizer especialistas de moda não é imediato - para que se entendam de vez na ortografia que nós, leigos dos trapos, devemos usar para pertencer à tribo. É aproveitar a deixa do novo que já não é novo Acordo Ortográfico e aceitar de vez que a nossa identidade da moda, a mesma que nunca questionou o termo “macacão” para a peça única de calças, vergou ao estrangeirismo. E, se me permitem, vergou mal. Porque se eu tentar explicar à minha avó que comprei um “jumpsuit” em rosa “néon” que é um mimo e que penso usá-lo com um top “nude”, vamos acabar a conversa a falar da dificuldade que é acertar na quantidade de leite do arroz doce.
Mas se em vez disso lhe disser que vou usar o macacão rosa-choque com um top bege, ah, aí sim, temos paleio para uma tarde. E como eu gosto muito de trocar ideias com a minha avó, obrigo-me a respeitar os termos que a Burda (referência máxima da confecção caseira de vestuário) atribui aos moldes. E se eles dizem que é um macacão, quem sou eu para exigir um “jumpsuit”?
É que de repente entramos numa loja à procura de uma malhinha que nos aqueça as noites de Outono e damos por nós a querer sentar ao colo a funcionária de 19 anos e explicar-lhe com a mesma doçura que um pai explica ao filho que não pode dizer palavrões porque é feio, que independentemente de preferir “os modelos lisos, com padrão, com decote em V ou redondo”, o que eu queria mesmo era “uma porcaria de um casaco de malha para me abrigar. Sem adornos nem tretas”, e que isso do “cardigan” me parecia um luxo que eu, seguramente, não teria dinheiro para pagar. Ela disse que não, que “havia cardigans muito giros a partir de €12,99”, e eu perguntei-lhe se esses mesmos €12,99 também valiam para os casacos de malha ou se havia um desconto para a peça em português. Ela ignorou e disse-me que se queria produtos portugueses, “tinha ali uns “stilettos” de uma marca nacional que eu ía gostar de certeza”.
E eu, pronto, rendi-me ao gap geracional e, armada em avó, lá lhe expliquei que os estrangeirismos que usava eram um despropósito e que se, de facto, ansiava pela comissão de vendas, não devia acreditar em tudo o que lia na Internet e o melhor era chamar as coisas pelos nomes. Whatever.
Que eu saiba, o nosso ministro com cara de Gasparzinho ainda não cobra um imposto qualquer que falarmos em português!
Joana Teófilo Oliveira
Estudante de Ciências da Educação
Quinta do Anjo
Quinta do Anjo
O homem que não aceita crítica não é verdadeiramente grande. É tão incomum isso na nossa imprensa que as pessoas acham que é ofensa. Crítica não é raiva. É crítica. Às vezes é estúpida. Outras irónicas. Tantas vezes desiludida e incompreendida. O leitor que julgue. Acho que quem ofende os outros é o jornalismo em cima do muro, que não quer contestar coisa alguma. O tom das Críticas Soltas às vezes é sarcástico. Pode ser desagradável. Mas é, insisto, uma forma de respeito, ou, até, se quiserem, a irritação perante a vida, a política, a sociedade… o mundo, por Joana Teófilo Oliveira.
Comentários
Enviar um comentário