É preciso mudar a mentalidade aos jovens
Vi na televisão uma reportagem comparando várias profissões em Portugal e na Alemanha, quer em termos do que ganhavam e gastam como no modo de vida. Também mostrava o dia-a-dia de estrangeiros a viverem em Portugal há 20 anos. Além da diferença abismal dos ordenados, o mais interessante foi ver que quer na Alemanha, quer os alemães em Portugal tinham como normal e salutar os jovens trabalharem nas férias para ganharem o seu dinheiro e não percebiam porque é que tal não acontecia em Portugal.
Da mesma forma se ouvirmos qualquer entrevista, a primeira coisa que os portugueses dizem é que querem dar tudo aos filhos e não conseguem. É este espírito que norteou a educação das gerações mais recentes. E o resultado está à vista. Numa crise profunda, estes jovens – onde me incluo – não conseguem sequer equacionar aceitar empregos que não estejam ao nível dos seus cursos. Mas a maior parte destes cursos não só não têm colocação como qualquer qualidade. Só por exemplo, A procura pelos cursos de ciências da comunicação e jornalismo continua a aumentar, apesar da crise que atinge os media tradicionais, chegando o número de candidatos a superar em dez vezes as vagas existentes, li esta semana num jornal semanário.
Resultado? As hipóteses de encontrarem emprego são muito reduzidas e tendo sido criados com acesso a tudo, mesmo que esse tudo custasse aos pais muitos sacrifícios, não sabemos viver sem telemóveis e computadores topo de gama, carro ou mota, tudo aquilo que erradamente nos foi dado em vez de termos trabalhado nas ditas férias para os adquirirem.
Felizmente pertenço a uma família que desde muito cedo me habitou a responsabilizar-me; ou seja se eu quero um carro sei que tenho de trabalhar para o ter e para pagar a gasolina, o seguro e a manutenção. Por isso trabalho desde os 17 anos em conciliação com o meu curso. E mobilidade nas cidades também se faz assim, a qualidade de vida também a isso obriga.
Como vai ser possível mudar esta situação não sei. Mas a verdade é que com crise ou sem ela, os jovens desempregados continuam a encher as noites de Lisboa, a abarrotarem de gente nos passeios que lá dentro já esta tudo cheio. Quem paga estas saídas, pergunto eu?
PS: aproveito para desejar ao ADN – que também considero um bocadinho meu – os parabéns pelo primeiro aniversário. Tenho visto uma evolução positiva em todas as áreas do site e sobretudo uma abrangência maior de temas discutidos. Na sociedade de hoje, este é o caminho. E o caminho trilha-se com discussão, factos e saberes. Ao Paulo Jorge Oliveira, o meu director, deixo um grande abraço pela coragem e pela dedicação enorme a um projecto deste tipo. E o obrigado por me deixar escrever e reflectir o “meu mundo” com os restantes leitores.
Miguel Macedo
Estudante de Arquitectura
Montijo
(Nós e as Cidades é uma rubrica sobre urbanismo, reflexões, mobilidade e bem-estar, que será publicado às terças-feiras no ADN)
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