Um santo Natal para todos...
Para a maioria dos portugueses, este é sem dúvida
o Natal mais sombrio das últimas décadas. Com o Governo transformado numa
espécie de Grinch – aquele antipático personagem do filme infantil que cometeu
a proeza de roubar o Natal – pela sua política de austeridade pura e dura que
nos esvazia os bolsos e as esperanças. Mas, porque é Natal, há que voltar a
fazer renascer a esperança.
Há dias, num inquérito de televisão, dizia uma criatura que
"este ano não há Natal para os adultos, só para as crianças",
resumindo ao prazer do consumo uma data que, mesmo para os não crentes, é para
comemorar e viver a compaixão, o interesse, o amor pelo próximo. Mas são os
sinais destes tempos esquisitos em que o Natal se mede pelas vendas dos
comerciantes e transacções do multibanco, em que o Menino Jesus é substituído
pelo bacalhau e pelo peru, em que o Primeiro-ministro mata qualquer tipo de
esperança e manda portugueses fazer as malas e trabalhar para o estrangeiro.
Estas últimas são mesmo originalidades do País e recentes. Mas, se calhar, não
estaríamos como estamos se, no passado, tivessem mandado emigrar os ‘Jotas’ dos
Partidos, grande parte com percurso e experiência apenas na política e com
licenciaturas tardias de universidades manhosas. Em troca, teria ficado cá
muita gente qualificada que teve de ir-se embora porque aqui não era
devidamente aproveitada.
É Natal, mas um Natal sem esperança para a maioria dos
portugueses, como já não havia há dezenas de anos. Um Natal que faz lembrar
outros tempos, em que o ditador de Santa Comba Dão elogiava as virtudes da
malfadada pobreza em que se vivia; em que milhares
de portugueses sem trabalho deixavam o país e a família, carregando às costas
todas as desventuras de um povo dentro de uma mala de cartão.
Há de novo, nestes tempos que correm, o elogio da pobreza,
o incentivo à emigração, o louvor da caridade, enquanto se acusa a maioria dos
portugueses de todos os males do mundo: os salários que recebem são muito
elevados para aquilo que produzem; o valor das reformas está acima do que
descontaram; as indemnizações por despedimento são um roubo que destrói a
economia; o subsídio de desemprego só alimenta ociosos ou que não pagam
impostos suficientes para ter luxos como saúde e educação quase à borla. Só não
é Natal como antigamente porque nos falta o burrinho e a vaquinha no presépio,
adornos do nosso imaginário, que Sua Santidade nos roubou. Roubam-nos tudo, nem
o burrinho e a vaquinha do presépio escaparam ao saque.
A propósito do Natal e de saques, os povos maias
anunciaram, há muitas centenas de anos, o fim das nossas vidas para este Natal.
Segundo a leitura dos entendidos, por alturas do solstício de Inverno,
precisamente deste Inverno de 2012, quando a estrela Régulo entrasse no sexto
sector do zodíaco tropical, onde está o signo de Virgem, o “mundo acabava”.
Assim, sem mais nem menos. Não acabou porque os astros também se enganam. Para
mal dos nossos pecados, não eram só os povos maias a ler nos astros o nosso
futuro. Agora os nossos governantes também se guiam por estrelas e conjugações
astrais.
No Natal do ano passado, quando apresentaram o Orçamento do
Estado para este ano, prometeram a redenção em troca de pesados sacrifícios.
Mas nada bateu certo: e o Gaspar continua à procura de uma qualquer estrela
onde possa seguir.
Neste Natal do nosso descontentamento, [sem burrinho, nem
vaquinha no presépio] façamos votos para que surja uma estrela que aponte ao
País o rumo certo, restaurando o ânimo e a esperança. Não sabemos de onde virá
essa estrela, mas para já não cremos que venha de Belém…
Neste Natal de contenção, o melhor
presente que cada um pode dar a si próprio é uma dose generosa de
livre-arbítrio. E não a deixar a ganhar pó ao longo de 2013. São estes os votos
– e as esperanças – do ADN.
Festas felizes!
Paulo Jorge Oliveira
Director da ADN – Agência de Notícias
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