Discutir Portugal à porta fechada
O primeiro-ministro apelou aos cidadãos para participarem na discussão do Documento do FMI, destinado a refundar o Estado Social.
Como cidadão interessado procurei dar o meu cotributo, tendo-me
dirigido, para tal fim, ao Palácio Foz para assistir à discussão das
propostas apresentadas pelo FMI (a pedido do Governo). No entanto, os
mestres de cerimónia (Moedas e Sofia), avisaram logo
que, daquele debate, nada transpiraria cá para fora, ou seja, a
imprensa não estava autorizada a publicar nada do que ali fosse debatido, nem
sequer imagens do evento. Um verdadeiro lock-out à
informação. Afinal é isso que chamam
debater o país? À porta fechada!
Enquanto escrevo estas linhas, uma suposta
emanação colectiva da “sociedade civil” discute o futuro do nosso Estado. O
evento deu logo que falar, não pelo que lá será falado, mas por não se poder
falar do que ali se fala. Até deixam entrar jornalistas, mas nada de gravar os
brilhantes pensamentos que por certo se multiplicam naquele salão como
cogumelos alucinogénicos num pântano. Dada a “natureza do debate”, só poderão
ser reproduzidas as ideias de génio com autorização expressa dos seus autores.
Não sei se esta original proibição já representa
em si um modelo de organização do Estado, se pretende dar tempo às luminárias
para registarem as patentes das suas inspirações antes que alguém as venda aos
chineses, ou se é apenas uma prudente demonstração de vergonha antecipada,
sabendo-se já o que muitos dos crânios arrebanhados para o convénio produziram
antes.
Apesar de tudo a situação é séria e é grave. Como
se pode discutir o futuro de uma nação à porta fechada e entre amigos?
Esta certo: nós, comuns mortais, poderemos depois
admirar o “clip de um minuto”, talvez com música de um rapper coreano, com que
os competentes assessores resumirão a alguma coisa mais logo. Isto também é o
nosso triste estado. Lá longe o país vai-se derretendo sem ligar a nada disto:
previsões económicas em queda, mais banqueiros investigados por lucros
indevidos. O país real que temos.
Miguel
Macedo
Estudante de Arquitectura
Montijo
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