Nascer em Portugal ou ir abortar no Brasil?
Presumimos que há um ano, Cavaco Silva se referisse à
criação de uma rede séria de creches públicas, incentivos fiscais à maternidade
– que não esmolas mascaradas com o nome de abono familiar – e à mudança de
mentalidade dos empregadores (mas isso, sabemos, não se faz por decreto).
Todos os que passaram por São Bento desperdiçaram a
oportunidade de fazer ‘Nascer em Portugal’. Com a crise a abocanhar-nos as
canelas, mesmo em Fevereiro era já tarde demais. Um ano passou e continua a ser
tarde e ninguém de São Bento a Belém fala do assunto. As cidades e nós
agradecemos que quem governa comece a pensar.
E com o país a ficar velho eis que uma notícia incomoda a
opinião pública. Não é preciso ser pai para ficar arrepiado com as desventuras
de uma cantora portuguesa, a que a Lusa chama Maria Adelaide, cuja filha de 15
anos está retida numa instituição para menores em risco no Brasil, após
recorrer a pílulas abortivas para pôr fim à gravidez que manteve até aos três
meses.
Além da tragédia da jovem, que deu entrada no hospital com
hemorragias e cometeu um crime à luz da legislação local, isto sucedeu numa
cidade do estado de Mato Grosso, onde a adolescente reside com o namorado seis
anos mais velho, que conheceu em Cascais, pelo que se torna fácil ir buscar archotes e forquilhas e seguir em
busca da mãe. Não só por aquilo de que a polícia local suspeita - cumplicidade
na compra das pílulas abortivas -, mas sobretudo por consentir que a filha mais
velha tenha ido viver para o sítio de Cuiabá com o namorado, de quem engravidou
antes da idade legal para ter relações sexuais.
Mais difícil é constatar que este caso é só a consequência
extrema da ‘vida moderna' nos jovens, para os quais o sexo e a vontade de
independência chegam cada vez mais cedo, ainda que caiba aos pais comprar
smartphones e assegurar sustento até aos 35 anos. Os ‘sacanas dos putos' já
deram o seu ‘Grito do Ipiranga'. E o pobre país fica cada vez mais velho!
Miguel Macedo
Montijo
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