Noite tensa em Setúbal depois da morte de
jovem de 18 anos
A morte de um jovem desencadeou, este
sábado, uma onda de violência entre os moradores do bairro da Bela Vista, em
Setúbal, convencidos que a vítima, Ruben Marques, 18 anos, foi baleada pela PSP
no decurso de uma perseguição que terá começado quando o jovem, ao volante de
uma moto e sem capacete, desobedeceu a uma ordem de paragem, junto à esquadra
do bairro. Ironicamente, Ruben será sobrinho de um agente da esquadra da PSP do
Bairro da Bela Vista.
Autocarro foi atacado à pedrada com três pessoas a bordo |
A Polícia de Segurança Pública (PSP)
confirmou ter disparado duas balas de borracha para “intimidação” de um jovem
de 18 anos, que conduzia sem capacete uma mota em Setúbal, e que viria a morrer
na sequência da perseguição policial. O caso gerou protestos e violência no
bairro da Bela Vista, na noite de sábado, com jovens a incendiarem caixotes do
lixo. Mas neste domingo a situação já estava controlada.
O subcomissário David
Vieira, da PSP, remeteu explicações para um comunicado emitido pela PSP e disse
que não há mais informações sobre ocorrências na madrugada, depois de na noite
de sábado terem sido identificadas algumas pessoas - nenhuma foi detida.
Segundo a nota
do Comando Distrital de Setúbal da PSP, no sábado, às 16h25, “na freguesia de
S. Sebastião, em Setúbal, no decurso de uma intervenção policial que envolveu
uma perseguição a um cidadão que desrespeitou a sinalização semafórica e a
subsequente ordem de paragem dos elementos policiais, há a lamentar o despiste
do mesmo que veio a culminar com seu falecimento no local”.
A PSP adianta
que a perseguição “em parte ocorreu em artérias com sentido proibido” e que
“foram efectuados dois disparos de intimidação, com arma shot gun com munição não letal”. O
subcomissário David Vieira esclareceu que nestes casos os disparos não são
feitos contra a pessoa em fuga mas sim para o ar.
“Os meios de
socorro à vítima foram de imediato accionados pelos elementos policiais no
local, mas não evitaram o desfecho fatal. Ainda no local há a registar danos em
duas viaturas policiais fruto do arremesso de pedras por parte de cidadãos não
identificados”, lê-se ainda na mesma nota, que adianta que a PSP encaminhou o
caso para o Ministério Público e para a Inspecção-Geral do Ministério da
Administração Interna, que vão dar continuidade às averiguações.
Moradores contradizem polícia
Viveram-se momentos tensos entre moradores e polícia |
Fonte da PSP de Setúbal já tinha
garantido no sábado que os agentes tinham feito os disparos com balas de
borracha que não chegaram a atingir o jovem e disseram que este morreu na
sequência do embate numa caixa da EDP, na zona das Manteigadas. O jovem seguia
numa mota, sem capacete, e não parou numa operação STOP, de acordo com agentes
da PSP citados pelas repórteres da SIC e da TVI. Seguiu-se uma perseguição
policial com os agentes a dispararem “dois tiros para o ar”, segundo a SIC, e
“vários tiros sobre o veículo”, segundo a TVI.
Moradores
disseram à TVI que o jovem foi atingido por balas da polícia, algo que
contraria a versão agora apresentada pela PSP. Só a autopsia do jovem – que foi transportado para a morgue do
Hospital de São Bernardo – vai determinar se Ruben terá sido atingido pela PSP ou se
morreu após a queda.
Momentos de revolta levam a incêndios,
vandalismo e pedrada
Logo no local onde o jovem morreu, vários populares insurgiram-se contra a polícia, acusando os agentes de terem assassinado o motociclista.
O caso
rapidamente ganhou expressão no bairro e, depois de terem tido conhecimento do
incidente, vários grupos de jovens incendiaram caixotes do lixo na noite de sábado. A
polícia fez vários disparos de aviso. Os jovens responderam com insultos,
pedras e incêndios.
Distúrbios causaram pequenos incêndios e destruição no bairro |
Os momentos de
tensão e confronto na Bela Vista começaram por volta das oito da noite quando
jovens na casa dos 20 anos e alguns mais novos começaram a queimar caixotes do
lixo, insultar agentes e vandalizar carros e um autocarro urbano de Setúbal,
com três passageiros a bordo mais o motorista. Felizmente as pedras não
acertaram em ninguém.
Perto das 22 horas a polícia começou a
disparar. Um grupo de jovens dispersou-se quando ouviu um desses tiros. Mas
reagrupou-se rapidamente e incendiou caixotes do lixo na Rua Sacramento,
seguindo depois pela Rua Padre José Maria Nunes da Silva, um dos limites do
bairro, a poucos metros da esquadra de polícia, derrubando e queimando mais
caixotes, ecopontos e pontos de recolha de roupa, entre uivos, assobios e
gritos contra a PSP. Muitos moradores correram para os seus carros, tentando
estacioná-los longe do bairro e da confusão. Mas houve veículos atingidos nos
vidros com pedras que tinham como alvo a PSP.
Maio de 2009
O Bairro da
Bela Vista foi palco, há alguns anos, de incidentes do género. Em Maio de 2009,
um jovem ali residente morreu em Alvor, no Algarve, na sequência de um disparo
da polícia que o havia surpreendido a cometer um roubo. O resultado deste
incidente foram três dias de confrontos, com caixotes incendiados, pedras e
troca de tiros e um ambiente de tensão que demorou a dissipar-se. Teme-se agora
que a confusão volte aquando o funeral do jovem.
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Agência de Notícias
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