Uma chávena de chá
Mulheres... Ai as mulheres.. aquela infinita
incógnita que os homens não querem desvendar... A Maria e a Teresa já chegaram para o
encontro semanal de amigas ao salão de chá da rua principal… A Marta foi
apanhar a Ana e também não devem estar a tardar… Este é apenas um grupo de
amigas que tira uma tarde por semana para se encontrar e divagar sobre as suas histórias.
Tantos queriam saber de que falam as mulheres quando estão juntas, muitos supõe
que será dos homens, outros pensam em sexo, outros acham que “cortam na casaca”
daquela colega de trabalho menos apreciada, outros acham que apenas se juntam
para reclamar mas o que poucos sabem é que quando estas mulheres se reúnem elas
sobretudo sonham…
A Maria, mãe de uma pequena menina e separada
do Alberto, sonha com os dias em que ainda viviam apaixonados, loucos de
esperança, acreditando em cada cor do arco-íris e ainda tenciona decifra-las
junto do seu mais que tudo. A Marta, mãe de um pequeno menino já não aguenta
mais a azáfama do trabalho, sonha com uma vida diferente, uma possibilidade
diferente, um mundo diferente que tenciona dar ao seu pequeno rebento. A Teresa
é a mais espevitada do grupo, também é mãe de um pequeno rapaz e leva na
algibeira as memórias do Paulo, pai do seu filho e com quem viveu momentos
únicos. Não tenciona a reconciliação mas sonha todas as noites como seria se
isso acontecesse, porem é junto do João que encontra o apoio para o seu dia-a-dia.
A Ana é a única que ainda não descobriu as maravilhas da maternidade mas também
não esta para ai virada, quer viajar e conhecer o mundo, quem sabe encontrar o
tal “príncipe encantado” por uma das suas viagens, mas não é algo em que pense
muito desde que o José lhe deu dores de cabeça.
Então sim, as mulheres falam dos homens, as
mulheres falam de sexo, as mulheres falam da tal colega de trabalho e as
mulheres reclamam muito… mas naquela chávena de chá semanal, estão também
memórias, afectos, lembranças e sobretudo sonhos, que apenas partilhamos com as
amigas, aquelas no verdadeiro sentido da palavra, que jamais nos deixariam
trocar o chá pelo café e abandonar o grupo… Sonhos que estão ali, olhando para
nós diariamente, presos numa espécie de escudo de protecção… escudo esse que
nós próprias formamos, como se isso nos desse alguma imunidade sobre o mundo e
sobre nós próprios.
Os meus sonhos estavam ali, olhando para mim
cada vez que eu abria o armário, revestidos por aquela caixa colorida que eu
teimava em não querer mais encarar. Estavam junto das lembranças, guardadas, empacotadas,
longe da vista, memorias não esquecidas mas difíceis de serem lembradas. Mas
hoje olhei para aquela caixa cheia de sonhos e lembranças e decidi abri-la… ao
abri-la senti uma brisa, um arrepio... uma mistura entre o passado e o presente
e então sorri, sorri muito e esta semana vou acrescentar um pouco mais de
açúcar á minha chávena de chá e sentar-me á mesa com as amigas porque por muito
que tantas vezes possamos sentir que a vida é amarga, existem momentos de
alegria, paz e convivência em que podemos sonhar e esta semana quero faze-lo de
uma maneira ainda mais doce, agarrada á minha chávena de chá.
Cátia Neves
Lisboa
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