Petição online pede “interesse público” para Livraria Sá da Costa
Um grupo
de cidadãos lançou uma petição online a defender a classificação pela Câmara de
Lisboa da Livraria Sá da Costa, há 70 anos no Chiado, como de “interesse
público". “A Livraria Sá da Costa é parte insubstituível da alma do
Chiado, da alma da cidade de Lisboa. É isto o que pretendemos preservar”,
atestam os subscritores. A Sá da Costa foi
declarada insolvente pelo Tribunal de Comércio de Lisboa. Funcionava desde 1913.
Insolvência da Sá da Costa provocou críticas da sociedade da capital |
Este pedido visa “impedir uma mudança de ramo, com
objetivos puramente comerciais e, porventura daí decorrente, a defesa dos seus
valores arquitetónicos, de interior e de fachada, com as suas notáveis
reminiscências Art Déco”, lê-se no texto da petição.
Esclarecem os peticionários que este “apelo não envolve,
frise-se, o funcionamento regular da livraria, que esse se mantém apesar das
circunstâncias adversas”, mas antes uma “legítima preocupação pelo fecho da
casa e a sua inexorável destruição espiritual e material”.
“A Livraria Sá da Costa é parte insubstituível da alma do
Chiado, da alma da cidade de Lisboa. É isto o que pretendemos preservar”, explicam
os subscritores.
Os peticionários consideram que é “dever da Câmara [de
Lisboa] defender a todo o transe o seu património cultural que, lembre-se, é
coletivo e histórico”.
A petição exige a intervenção da autarquia para evitar o
“desastre anunciado”, com o encerramento da livraria, por decisão judicial.
A Câmara deve intervir, argumentam os subscritores,
“independentemente do que esteja consignado no P.D.M. [Plano Diretor Municipal]
quanto às lojas históricas”, que receiam “não passe de um conjunto burocrático
de boas intenções”.
Tribunal decreta liquidação
total
A Sá da Costa foi declarada insolvente pelo Tribunal de
Comércio de Lisboa. De acordo com fonte daquele órgão judicial, a assembleia de
credores, realizada na segunda-feira da semana passada, não aprovou o plano de
viabilização da empresa, que tinha sido apresentado no dia 2 de Julho, pelo que
foi decretada a liquidação total.
Esta liquidação concretizar-se-á com a venda de todo o
património da Sá da Costa, para pagamento aos credores, e com a extinção da
empresa.
Em declarações à Lusa, na segunda-feira passada, Susana
Pires, funcionária da livraria, disse que a questão da Sá da Costa será levada
à reunião da Câmara Municipal, na quarta-feira, e, entre as pessoas que
expressaram a sua solidariedade, contam-se a vereadora Helena Roseta e a atriz
Maria do Céu Guerra.
Susana Pires afirmou que “a luta já
nem está pelos postos de trabalho, mas pela defesa do património edificado e do
interior da livraria, que foi um dos primeiros estabelecimentos, em Lisboa,
decorados segundo o modelo Art Déco”.
No sábado, foi conhecido um manifesto
assinado pelos cinco trabalhadores da Sá da Costa, publicado pela Letra Livre,
no qual apontam o dedo aos negócios imobiliários e ao “absoluto vazio gerado
pela ditadura financeira”.
Em 2010 a livraria
tinha sido levada a leilão pelas Finanças, com uma base de licitação de 175 mil
euros e no ano seguinte o tribunal decretou a venda judicial por um valor
mínimo de 415.498 euros. Na ocasião terão sido apresentadas, segundo a Lusa,
duas propostas, mas a venda da livraria não foi avante. Desde então a sua
gestão foi assegurada por cinco funcionários, que têm promovido a realização de
uma série de eventos para dinamizar o espaço.
No Chiado desde
1913
A cultura era frequente no espaço da antiga livraria do Chiado |
A Sá da Costa existe desde 1913, ligada à editora com o
mesmo nome, responsável pela publicação de textos clássicos da Literatura
Portuguesa e Ocidental, de autores como Camões, Sá de Miranda, António Verney,
João de Barros, Diogo Couto, Padre António Vieira, Cavaleiro de Oliveira, D.
Francisco Manuel de Melo, Almeida Garrett, Homero e Virgílio, ou de autores do
século XX como António Sérgio, Vitorino Magalhães Godinho, Orlando Ribeiro e
Hernâni Cidade.
A livraria surge na
lista de “bens imóveis de interesse municipal e outros bens culturais imóveis”
do Plano Director Municipal de Lisboa. O Fórum Cidadania Lisboa já manifestou o
seu “profundo pesar” pelo encerramento de “uma das últimas livrarias históricas
de Lisboa”, criticando “a total inoperância da política de urbanismo comercial
por parte da Câmara Municipal de Lisboa, ao não prevenir as situações nem tão
pouco demonstrar interesse em as remediar”.
A petição está disponível AQUI. Ao início da tarde de hoje, já tinha recebido cerca de mil assinaturas.
Agência de Notícias
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