Número de mulheres
assassinadas este ano sobe para 22
Amélia e Alzira foram as últimas a entrar na lista do Observatório de Mulheres Assassinadas. Terão sucumbido sábado à fúria dos maridos. Neste ano, pelo menos 22 mulheres foram notícia por terem sido mortas por um homem com quem mantinham ou tinham mantido uma relação íntima. Tal como em 2012, o número deste tipo de homicídios ameaça este ano ser elevado.
No início da tarde de sábado, em Alhos Vedros, na Moita, terá sido atacada Amélia: a mulher, de 49 anos, terá sido esfaqueda pelo marido, de 60 anos. Convencido de que a deixara morta em casa, ele terá ido a um café contar o que acabara de fazer. Ela morreu a caminho do Hospital do Barreiro.
Diz quem viu – e ouviu – que houve uma “acesa discussão”. Uma panela de comida – talvez o almoço – foi lançada para a rua. Entre gritos a mulher, já ferida, ainda tentou pedir ajuda a quem a ouvisse. Mas dezenas de golpes com uma arma branca – um deles no pescoço – colocaram ponto final na vida desta ex-enfermeira em Angola que o INEM ainda tentou reanimar.
Há alguns anos que o homicida confesso vivia com a mulher em Alhos Vedros. Afonso, de 60 tinha sido carpinteiro mas estava agora, tal como Amélia, desempregado. Um quadro de miséria com discussões frequentes testemunhadas pelos vizinhos e onde o álcool tinha, quase sempre, o papel principal.
Segundo uma vizinha, “era uma relação conflituosa. Ela bebia muito, andava sempre com garrafas de vinho, entrava em casa e ofendia-o. Agrediam-se um ao outro”. Inclusivamente, diz a mesma vizinha, “ele terá confessado a algumas pessoas que já não aguentava mais a situação porque ela faltava-lhe ao respeito ao meter pessoas em casa”.
A GNR foi diversas vezes chamada ao local mas pouco fez. Outra vizinha disse que Amélia “era aquilo que o vinho fazia e acabou por ser vítima do próprio vinho”. Em Alhos Vedros, dizia-se que a tragédia iria acontecer em qualquer altura. Mas ninguém terá conseguido impedir o pior apesar de dizerem que “era previsível”.
Amélia, carinhosamente tratada por Melinha, tinha sido abandonada pelo ex-marido a viver no norte e de quem teve duas filhas que a ajudavam levando alguma comida. Vivem próximo mas longe o suficiente do clima de conflito e martírio da mãe nesta nova relação com Afonso.
O homem que terá cometido o crime e foi até a um café próximo onde acabou detido pela GNR a quem se entregou sem resistência. A Polícia Judiciária de Setúbal já tomou conta do caso.
Números preocupam UMAR
Horas depois, Alzira, nas Caldas da Rainha, terá sido agredida pelo marido: o homem, de 49 anos, ter-lhe-á batido com uma pedra na cabeça e te-la-á asfixiado com um lençol. Morta a mulher, de 42 anos, o agressor terá telefonado para o 112 e aguardado.
Alzira estava doente. Estaria a recuperar de um cancro. Passava grande parte dos dias dentro de casa. O marido também lá estava. Estava desempregado. Outrora motorista de pesados, estava agora reduzido a serviços ocasionais de construção civil.
Só no primeiro semestre deste ano, o Observatório de Mulheres Assassinadas, um grupo de trabalho da organização feminista UMAR, que passa a imprensa nacional a pente fino em busca de notícias desta natureza, contou 20 casos. Com as duas ocorrências desde fim-de-semana, passa a 22. O número “nada augura de bom”, no entender de Elisabete Brasil, responsável pelo referido grupo. Em 2012, no final do primeiro semestre também contabilizava 20 casos e esse ano acabou por fechar com 40.
“Este é um ano de grande preocupação”, comentou a jurista em entrevista ao jornal Público. “Os meses de Verão são terríveis.” A experiência mostra-lhe que nos meses de Julho, Agosto e Setembro tende a haver mais crimes de homicídio – tentado ou consumado. São meses de férias, as pessoas têm tendência a passar mais tempo juntas, lembra.
Podem agudizar-se os conflitos dentro dos casais. E as vítimas podem ter maior dificuldade em recorrer a estruturas de apoio. Muitas vezes, o homicídio é antecedido por episódios de violência. Não raras vezes, há registo de denúncias apresentadas às autoridades. E tudo isso, avisa, deve servir de alerta.
Crise pode afectar casais
O número de mortes tem oscilado muito nos últimos anos. Em 2011, por exemplo, no final de Junho tinham sido noticiadas 11 mortes e o ano terminou com 24. Indo mais atrás: a primeira metade do ano responde por 15 de 43 casos de 2010 e por 12 dos 29 casos de 2009. Daqui se depreende que não há uma evolução contínua, apesar do investimento na prevenção da violência doméstica e na protecção de mulheres e crianças.
Embora não existam estudos sobre os efeitos da crise financeira e económica, “neste contexto torna-se mais difícil que as pessoas saiam das relações complicadas em que estão”, diz João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. “Mas muitas vezes o medo de destruir o núcleo familiar ou de perder os filhos é superior e as pessoas retraem-se”.
O Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2012 diz que a criminalidade geral baixou 2,3 por cento no ano passado em comparação com 2011, o que equivale a menos 9461 participações feitas às polícias. Um decréscimo significativo registou-se ao nível da criminalidade mais grave e violenta, que baixou 7,8 por cento face a 2011. Apesar disso, em 2012 contabilizaram-se mais 32 homicídios do que no ano anterior, num total de 149. Destes, 37 foram homicídios conjugais, tendo os crimes de violência doméstica registado um decréscimo de 10 por cento em todo o território nacional.
Amélia, morta no sábado, em Alhos Vedros, concelho
da Moita, esfaqueada pelo marido de 60 anos e Alzira, asfixiada pelo marido
também no sábado juntam-se a outros 20 casos de mulheres que figuram na lista
do Observatório de Mulheres Assassinadas, um grupo de trabalho da organização
feminista UMAR que contabiliza através das notícias que saem na imprensa o
número de mulheres vítimas das pessoas com quem tinham ou tiveram uma relação,
de acordo com o jornal Público. Em
2012, em Julho, o grupo contabilizava 20 casos e fechou o ano com 40.
Duas mulheres foram mortas este fim-de-semana pelos companheiros |
No início da tarde de sábado, em Alhos Vedros, na Moita, terá sido atacada Amélia: a mulher, de 49 anos, terá sido esfaqueda pelo marido, de 60 anos. Convencido de que a deixara morta em casa, ele terá ido a um café contar o que acabara de fazer. Ela morreu a caminho do Hospital do Barreiro.
Diz quem viu – e ouviu – que houve uma “acesa discussão”. Uma panela de comida – talvez o almoço – foi lançada para a rua. Entre gritos a mulher, já ferida, ainda tentou pedir ajuda a quem a ouvisse. Mas dezenas de golpes com uma arma branca – um deles no pescoço – colocaram ponto final na vida desta ex-enfermeira em Angola que o INEM ainda tentou reanimar.
Há alguns anos que o homicida confesso vivia com a mulher em Alhos Vedros. Afonso, de 60 tinha sido carpinteiro mas estava agora, tal como Amélia, desempregado. Um quadro de miséria com discussões frequentes testemunhadas pelos vizinhos e onde o álcool tinha, quase sempre, o papel principal.
Segundo uma vizinha, “era uma relação conflituosa. Ela bebia muito, andava sempre com garrafas de vinho, entrava em casa e ofendia-o. Agrediam-se um ao outro”. Inclusivamente, diz a mesma vizinha, “ele terá confessado a algumas pessoas que já não aguentava mais a situação porque ela faltava-lhe ao respeito ao meter pessoas em casa”.
A GNR foi diversas vezes chamada ao local mas pouco fez. Outra vizinha disse que Amélia “era aquilo que o vinho fazia e acabou por ser vítima do próprio vinho”. Em Alhos Vedros, dizia-se que a tragédia iria acontecer em qualquer altura. Mas ninguém terá conseguido impedir o pior apesar de dizerem que “era previsível”.
Amélia, carinhosamente tratada por Melinha, tinha sido abandonada pelo ex-marido a viver no norte e de quem teve duas filhas que a ajudavam levando alguma comida. Vivem próximo mas longe o suficiente do clima de conflito e martírio da mãe nesta nova relação com Afonso.
O homem que terá cometido o crime e foi até a um café próximo onde acabou detido pela GNR a quem se entregou sem resistência. A Polícia Judiciária de Setúbal já tomou conta do caso.
Números preocupam UMAR
Horas depois, Alzira, nas Caldas da Rainha, terá sido agredida pelo marido: o homem, de 49 anos, ter-lhe-á batido com uma pedra na cabeça e te-la-á asfixiado com um lençol. Morta a mulher, de 42 anos, o agressor terá telefonado para o 112 e aguardado.
Alzira estava doente. Estaria a recuperar de um cancro. Passava grande parte dos dias dentro de casa. O marido também lá estava. Estava desempregado. Outrora motorista de pesados, estava agora reduzido a serviços ocasionais de construção civil.
Só no primeiro semestre deste ano, o Observatório de Mulheres Assassinadas, um grupo de trabalho da organização feminista UMAR, que passa a imprensa nacional a pente fino em busca de notícias desta natureza, contou 20 casos. Com as duas ocorrências desde fim-de-semana, passa a 22. O número “nada augura de bom”, no entender de Elisabete Brasil, responsável pelo referido grupo. Em 2012, no final do primeiro semestre também contabilizava 20 casos e esse ano acabou por fechar com 40.
“Este é um ano de grande preocupação”, comentou a jurista em entrevista ao jornal Público. “Os meses de Verão são terríveis.” A experiência mostra-lhe que nos meses de Julho, Agosto e Setembro tende a haver mais crimes de homicídio – tentado ou consumado. São meses de férias, as pessoas têm tendência a passar mais tempo juntas, lembra.
Podem agudizar-se os conflitos dentro dos casais. E as vítimas podem ter maior dificuldade em recorrer a estruturas de apoio. Muitas vezes, o homicídio é antecedido por episódios de violência. Não raras vezes, há registo de denúncias apresentadas às autoridades. E tudo isso, avisa, deve servir de alerta.
Crise pode afectar casais
O número de mortes tem oscilado muito nos últimos anos. Em 2011, por exemplo, no final de Junho tinham sido noticiadas 11 mortes e o ano terminou com 24. Indo mais atrás: a primeira metade do ano responde por 15 de 43 casos de 2010 e por 12 dos 29 casos de 2009. Daqui se depreende que não há uma evolução contínua, apesar do investimento na prevenção da violência doméstica e na protecção de mulheres e crianças.
Embora não existam estudos sobre os efeitos da crise financeira e económica, “neste contexto torna-se mais difícil que as pessoas saiam das relações complicadas em que estão”, diz João Lázaro, presidente da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima. “Mas muitas vezes o medo de destruir o núcleo familiar ou de perder os filhos é superior e as pessoas retraem-se”.
O Relatório Anual de Segurança Interna relativo a 2012 diz que a criminalidade geral baixou 2,3 por cento no ano passado em comparação com 2011, o que equivale a menos 9461 participações feitas às polícias. Um decréscimo significativo registou-se ao nível da criminalidade mais grave e violenta, que baixou 7,8 por cento face a 2011. Apesar disso, em 2012 contabilizaram-se mais 32 homicídios do que no ano anterior, num total de 149. Destes, 37 foram homicídios conjugais, tendo os crimes de violência doméstica registado um decréscimo de 10 por cento em todo o território nacional.
Agência de Notícias
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