Especialistas querem debate alargado e pedem “adiamento” da decisão
A partir do dia 2 de Setembro passará a funcionar na zona da grande Lisboa uma única urgência noturna com todas as especialidades, uma decisão que a Ordem dos Médicos afirma ter sido "imposta" sem discussão com os parceiros. Agora, os colégios das especialidades que vão ser concentradas na urgência metropolitana noturna de Lisboa encaram com dúvidas a funcionalidade e a poupança económica com tal modelo e pedem mais tempo e discussão informada sobre o tema.
Lisboa concentra urgências num só hospital... |
Já se sabia que a Grande Lisboa ia ficar apenas com uma urgência nocturna em todas as especialidades, mas agora sabe-se que vai funcionar em esquema de rotatividade entre os hospitais de São José e Santa Maria. As mudanças entram em vigor a partir de 2 de Setembro.
O ministro da Saúde, Paulo Macedo, assegura que o processo será sereno e que o resultado será positivo, "tal como aconteceu" no Porto. Os restantes serviço de urgências vão continuar em funcionamento, havendo apenas alterações pontuais nalgumas especialidades.
Fontes hospitalares dão um exemplo do que pode mudar: por exemplo, um cirurgião altamente especializado que, no hospital onde está agora durante a noite, acaba por não ser chamado a intervir porque não há ocorrências, será transferido para onde é muito mais elevada a probabilidade de as suas competências serem necessárias durante a noite - Santa Maria ou São José, hospitais onde o serviço será instalado de forma rotativa.
A reorganização, segundo fontes da administração na Saúde, pretende "optimizar" os recursos existentes, que são escassos. Os médicos com mais de 50 anos não fazem urgências nocturnas, facto que não deverá provocar grandes alterações ao que já é a realidade diária dos hospitais.
Por exemplo, nas urgências pediátricas não haverá alterações, disse o Ministério da Saúde: “os hospitais onde hoje existe esse serviço vão mantê-lo, bem como no caso da urgência neuro-cirúrgica. O hospital Garcia de Orta, em Almada, do outro lado do Tejo, vai manter essa valência”, diz fonte do gabinete do ministro da Saúde.
Ordem dos médicos diz que decisão foi “imposta”
Hospital São José recebe urgências em Outubro |
A Ordem dos Médicos já se queixou que a decisão foi "imposta" sem discussão com os parceiros. "A Ordem não teve conhecimento do plano, não foi consultada, desconhecemos algum tipo de estudo relativamente a esta reforma, o número de pessoas envolvidas, as consequências, os locais e a sua capacidade física para receber um número adicional de doentes", afirmou o bastonário da Ordem, José Manuel Silva.
Colégios das especialidades querem “diálogo alargado”
Os colégios das especialidades que vão ser concentradas na urgência metropolitana noturna de Lisboa encaram com dúvidas a funcionalidade e a poupança económica com tal modelo e pedem mais tempo e discussão informada sobre o tema.
O colégio de cirurgia vascular considera que a criação de uma urgência metropolitana daquela especialidade deveria ter sido precedida de um debate informado, o que não aconteceu.
Lembrando que a urgência é uma parte relevante da atividade de cirurgia vascular, correspondendo a cerca de 30 por cento do movimento operatório anual, que está frequentemente associada a situações de extrema gravidade, incluindo o trauma, os médicos consideram que a concentração da urgência deveria ser o corolário de uma reorganização dos serviços de cirurgia vascular e não o princípio desse processo.
Num parecer enviado à Ordem dos Médicos, estes especialistas sugerem o adiamento do início do processo para a cirurgia vascular para o dia 1 de Outubro, “após preparação adequada e reunidos os requisitos necessários”.
Santa Maria, em Lisboa, concentra todas as urgências da capital |
Estes médicos pedem ainda que sejam mantidos os dois polos existentes: Centro Hospitalar Lisboa Norte (Santa Maria) e Centro Hospitalar Lisboa Central como pilares da urgência vascular, com áreas de referenciação estabelecidas e estáveis.
“O modelo de alternância mensal de uma única Urgência é inadequado, pode perturbar significativamente o funcionamento normal dos Serviços, convertendo-os em Unidades demasiado dependentes da Urgência, não beneficia os doentes nem a articulação dos profissionais, não proporciona gestão clínica eficaz e não parece compatível com racionalização de recursos e poupança financeira”, concluem.
O colégio da especialidade de urologia considera que a criação de apenas um polo de urgência em permanência trará “inconvenientes”, no funcionamento das unidades e aos doentes, que superam “largamente os escassos e duvidosos benefícios em termos de poupança de recursos humanos”.
O colégio de cirurgia maxilo-facial assinala que este serviço tem que ser prestado exclusivamente por especialistas, que não existem no CHLC, pelo que a reorganização da urgência obrigará a “um esforço adicional de adaptação institucional para solucionar esse aspeto”.
Já o colégio de Cirurgia plástica, sublinha que o “indispensável reforço” de equipas de especialidade nos centros hospitalares que permanecem abertos e as despesas envolvidas com o transporte e circulação de doentes entre instituições resultante da necessidade de manter a assistência em pós-operatório pelas equipas deslocadas que asseguram a terapêutica “vai arrastar uma despesa incomparavelmente maior”.
Estes especialistas acreditam que o esquema criado para esta nova urgência noturna em Lisboa vai trazer “prejuízos económicos, funcionais e assistenciais, tornando-o irracional”.
O colégio de neurologia lembra a complexidade e as particularidades desta especialidade, nomeadamente em termos de diagnóstico, considerando por isso que o trabalho de racionalização da rede de urgências “deverá ser feito cuidadosamente, ouvidos os diretores de serviço de neurologia das instituições envolvidas”.
Segundo a Administração regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo (ARSLVT), as especialidades que a partir de Setembro serão concentradas na urgência metropolitana serão Otorrino, Oftalmologia, Cirurgia Plástica/Maxilo-Facial, Urologia, Cirurgia Vascular, Neurologia, Psiquiatria e Gastroenterologia.
Agência de Notícias
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