Quarto dia de buscas por mar no Meco

Famílias e amigos continuam há espera que os corpos apareçam

As buscas continuam na Praia de Moinho de Baixo, no Meco, mas nenhum dos cinco jovens desaparecidos foi encontrado. Com o passar das horas, a situação torna-se cada vez “mais complicada e difícil”, admite o comandante do Porto de Setúbal. O que levou os jovens à praia em plena noite gelada de Dezembro com ondas a rondar os cinco metros, ninguém sabe. Os jovens – todos elementos do conselho de praxes da Universidade Lusófona –  estariam vestidos a rigor e andaram uma hora a pé até chegarem à beira mar.  Um salvou-se. Outro foi encontrado morto  domingo ao amanhecer com graves lesões na coluna. Um rapaz e quatro raparigas continuam por aparecer apesar do esforço das autoridades. Três dos desaparecidos eram do distrito de Setúbal. 

Família e amigos desesperam na praia em busca de respostas 

Catarina Soares, do Barreiro, Carina Sanches, de Fernão Ferro, Seixal e Joana Barroso, de Santiago do Cacém, continuam desaparecidos no Mar do Meco. Pedro Negrão, de Lisboa e Andreia Revez, de Loulé, são os restantes estudantes que foram arrastados pelo mar na madrugada de Domingo.
As operações no mar para encontrar os cinco jovens desaparecidos no Meco, foram retomadas esta quarta-feira de manhã, depois de uma noite de buscas por terra realizadas em moto4, sem êxito, disse à agência Lusa o capitão do porto de Setúbal.
"Durante a noite foram mantidas as buscas com viaturas do tipo moto4 ao longo da costa. Não foi encontrada nenhuma das pessoas desaparecidas, aos primeiros alvores retomámos as buscas marítimas com a lancha Águia, da Marinha, e as embarcações da autoridade marítima foram usadas nos dias anteriores", avançou à Lusa Lopes da Costa.
Segundo o comandante Lopes da Costa, o cálculo efetuado pelo Instituto Hidrográfico para hoje "é coincidente com as condições que normalmente existem na área ao logo do ano, estimando-se a deriva para sul".
Lopes da Costa adiantou que os pontos de pesquisa vão manter-se na área a sul da praia do Meco até à praia dos Lagosteiros, no Cabo Espichel, "incidindo mais na zona junto à costa, que é de maior probabilidade" de que se encontre algo.

Desaparecidos desde domingo
Quando, no domingo, as famílias começaram a ser chamadas para irem à Praia de Moinho de Baixo, no Meco, saber que nessa madrugada o mar tinha levado seis jovens, ouviram-se gritos, choros, e revolta, houve familiares a desmaiar. Nesta segunda-feira, o desespero não era menor e continuava a haver muitas lágrimas e abraços no areal, mas o que mais se ouvia era um silêncio pesado que só a rebentação furiosa das ondas quebrava.
Os familiares, com rostos cansados, fechados, de olhar vago, não arredaram pé e continuaram à espera durante todo o dia. Porém,  além do rapaz que sobreviveu e do corpo que foi encontrado na manhã de domingo, continuam desaparecidos cinco estudantes da Universidade Lusófona de Lisboa. As buscas marítimas foram suspensas ao cair do sol, mantendo-se apenas as equipas em terra. 
Entre o grupo de sete jovens, com idades entre os 21 e os 25 anos, que foi até esta praia na madrugada de domingo, continuam desaparecidos quatro raparigas e um rapaz.
Na Praia de Moinho de Baixo, no Meco, muitas perguntas continuam sem resposta. O que terá levado sete jovens trajados a ir à uma da manhã até à praia, numa noite de Inverno e de maré cheia, depois de um jantar numa casa que teriam arrendado para passar o fim-de-semana em Aiana de Cima, junto a Alfarim? Andaram a pé, cerca de uma hora, noite escura, até chegar ao Meco. Porque? Não se aperceberam do perigo? Não terão visto o tamanho das ondas na escuridão da noite nem ouviram o barulho da rebentação? São, por agora, poucas as respostas.
Apesar de já ter conversado com o jovem que conseguiu sobreviver e pedir ajuda, o comandante do Porto de Setúbal, Lopes da Costa, defende que não é a altura apropriada para se fazer a reconstituição exacta daquela madrugada, porque essa descrição dos acontecimentos não é fundamental para a estratégia das buscas. Também não confirmou se os jovens estariam ou não em praxes naquela altura. “Quando falei com o jovem, concentrei-me em saber os contactos das famílias, o que não foi fácil. Não é altura para estar apurar essas causas, agora estamos concentrados nas buscas”, defende o comandante, deixando esse apuramento para mais tarde.

“Onda cavaleira” terá levado os jovens
Forte ondulação terá arrastado jovens para o oceano  
No areal, os bombeiros e os pescadores garantiam que no fim-de-semana as ondas estariam ainda maiores. Mas mesmo na tarde de segunda-feira o barulho da rebentação era forte e as ondas gigantes. Alguns curiosos que se aproximavam espantavam-se com o som furioso do mar e exclamavam como poderiam os jovens não ter sentido medo nem medido o perigo. O comandante Lopes da Costa garante que naquela praia as ondas podem atingir, na zona de rebentação, quatro a cinco metros.
“Estamos a empenhar tudo o que podemos, temos de aguardar. Mas à medida que o tempo passa, a situação fica mais complicada, não fica mais fácil”, admitia o comandante do Porto de Setúbal.
O proprietário de um restaurante na zona, Fernando Costa, terá sido a última pessoa a ver o grupo na madrugada de domingo. "Estava na esplanada a fumar um cigarro e vi-os passar. Achei estranho estarem todos vestidos de igual, trajados. Vi-os a descer a estrada em direcção à praia. Iam sossegados. Só estranhei irem para a praia com este frio. Nesta altura não é costume". 
Argentino Veríssimo, 85 anos, conhece bem aquele mar. Foi pescador e saiu muitas vezes no barco Galinho da Manhã para enfrentar as ondas. Diz que o mar merece sempre respeito, mesmo quando parece calmo. “Tem de se respeitar as barbas brancas, a espuma do mar. A mocidade gosta de ver o mar, de estar ali a brincar e a conversar, mas se vier uma onda cavaleira não têm tempo de fugir nem nada. Nem dão por ela”, assegura Argentino, garantindo que no fim-de-semana o mar estava “três vezes mais bravo”. Tanto este antigo pescador como o comandante do Porto de Setúbal não têm memória de tragédia semelhante na Praia de Moinho de Baixo, no Meco.

Buscas alargadas a 5 milhas

No areal os amigos acompanham buscas no mar 
Na segunda-feira, no terreno, além de psicólogos que continuavam a apoiar as famílias, havia cerca de 50 operacionais a trabalhar no processo de buscas. Ao todo, os meios que já colaboraram incluem Autoridade Marítima, Protecção Civil, bombeiros, INEM, GNR, e Força Aérea. Os meios aéreos chegaram a ser suspensos, mas na tarde de segunda-feira um helicóptero voltou a sobrevoar a zona.
Decidiu-se também alargar a zona de buscas marítimas, em extensão, até bem perto do Cabo Espichel, entre a Lagoa de Albufeira e a Praia dos Lagosteiros, e em profundidade – distância em relação à costa -, passando de três para cinco milhas náuticas. A estratégia tem passado por suspender as buscas marítimas durante a noite, consideradas pouco eficazes sem luz, e manter durante esse período apenas as terrestres.
Hoje, quando o sol nascer, os meios marítimos voltarão ao terreno e a estratégia será ponderada, em função das condições meteorológicas.

Silêncio do Governo criticado
A equipa de psicólogos não prestava declarações aos jornalistas, estando apenas concentrada em apoiar os familiares que se mantinham entre o areal e as tendas montadas na zona. À espera, de olhos postos no mar. Entre o silêncio, as lágrimas e os abraços prolongados de conhecidos que iam chegando à praia. Querem o mar devolva o Pedro, a Catarina, a Andreia, a Carina e a Joana.
Alguns anónimos e população local criticaram o “total silêncio” do Governo em relação a esta tragédia. “Nem uma palavra aos familiares, nem uma ida ao local de nenhum membro do Governo mostra uma total falta de respeito por uma situação que foi uma tragédia para muitas famílias. Apenas os autarcas da câmara de Sesimbra estiveram no local e lamentaram o acidente”, dizia Vasco Faim, na tarde desta segunda-feira.  
A Universidade Lusófona também decidiu decretar três dias de luto e disponibilizar alguns docentes que leccionam na área da psicologia para darem apoio aos familiares dos alunos que foram vítimas de uma onda na Praia de Moinho de Baixo, no Meco, em Sesimbra.

 Agência de Notícias
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