Seixal não entende recusa de novo hospital no concelho

Ministro da Saúde  afasta possibilidade de construção de hospital no Seixal

O ministro da Saúde, Paulo Macedo, afastou  a possibilidade de construção de um hospital no Seixal, uma reivindicação da população e dos autarcas do Seixal, Almada e Sesimbra, que considera que a unidade hospitalar de Almada não responde às necessidades. O anúncio foi divulgado horas antes de uma manifestação, em Almada,  que reuniu mais de uma centena de pessoas que vieram para a rua pedir mais médicos de família e o alargamento dos horários nos centros de saúde até à meia noite. A concentração aconteceu frente ao Hospital Garcia de Orta. Um hospital que foi construída para um universo de 150 mil pessoas mas que tem agora que dar resposta a mais de 400 mil. No entanto, o ministro da Saúde, justificou a recusa na construção de uma nova unidade com o investimento estratégico 200 milhões de euros realizado nos hospitais da península de Setúbal. O presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Santos, afirmou-se surpreendido pela revelação do ministro da Saúde de que teria atribuído 120 milhões de euros ao Hospital Garcia de Orta e pediu explicações sobre a utilização desse dinheiro. A Câmara de Almada pede a "demissão" do ministro e fala em caos nas urgências. Um facto comprovado pela diretora do serviço de neurologia do Garcia de Orta que escreveu uma carta ao conselho de administração onde afirma que as urgências estão caóticas e que o cenário se tem agravado nos últimos anos.
Utentes exigem melhores cuidados de saúde em Almada e Seixal 


No sábado à tarde, em Almada, depois de participar num protesto junto ao hospital Garcia de Orta, o presidente da câmara do Seixal, Joaquim Santos, nem queria acreditar nas palavras do ministro da Saúde, que disse que já foi feito um grande investimento de 120 milhões de euros no hospital Garcia de Orta.
Joaquim Santos conta que "a verdade é que o hospital do Seixal, que resolvia o problema, custa 60 milhões de euros. Há que explicar no que é que o senhor ministro gastou 120 milhões de euros neste hospital e porque é que este hospital, onde se gastou 120 milhões de euros, tem ainda as urgências num estado caótico, tem mortes nas urgências, quando, com 60 milhões de euros se resolvia no problema", salientou o autarca do Seixal que lembrou que foi o próprio Ministério da Saúde a reconhecer que a solução para descongestionar o Hospital Garcia de Orta passava pela construção do hospital do Seixal.
"O Hospital do Seixal surge num estudo do Ministério da Saúde como uma solução para o problema de sobrelotação do Hospital Garcia de Orta, em Almada. O Hospital Garcia de Orta foi construído para 150 mil utentes, mas serve mais de 400 mil e, por isso, algo tem de ser feito", defendeu Joaquim Santos. 
O autarca acusa o ministro da saúde de falta de diálogo. Diz que Paulo Macedo recusou reunir-se com os presidentes das câmaras do Seixal, Almada e Sesimbra, para discutir alternativas ao congestionamento do hospital Garcia de Orta.
Ainda antes da concentração em Almada, o ministro da Saúde, Paulo Macedo, justificou a recusa na construção de uma nova unidade hospitalar no Seixal com o investimento estratégico de 200 milhões de euros realizado na península de Setúbal, designadamente nos hospitais de Setúbal, Garcia da Orta (Almada) e Barreiro-Montijo.
"O Estado, além dos orçamentos anuais, fez investimentos, disponibilizou fundos, reduziu passivos e fez aumentos de capital em dinheiro, ou seja, deu dinheiro para regularização de dívidas, perto dos 300 milhões de euros, dos quais 120 milhões no hospital Garcia da Orta", disse Paulo Macedo.
O ministro realçou a importância do investimento de 200 milhões de euros, que permitiu dotar aqueles hospitais de "uma situação económico-financeira equilibrada" e considerou que é "melhor potenciar as unidades hospitalares existentes do que dispersar recursos para outro hospital".

Almada pede demissão de Paulo Macedo 
Afirmações que caíram mal durante a manifestação que, entre outras coisas, pedia a urgente construção do hospital no Seixal e uma resposta mais eficaz dos serviços prestados no hospital Garcia de Orta, onde já morreram este ano duas pessoas nas urgências. 
“Houve um ministro que se demitiu quando cai uma ponte. Nós temos mais de 1900 mortes do que as esperadas. Esta era uma situação previsível”, disse à Lusa o presidente da Câmara de Almada, Joaquim Judas, que exigiu a “demissão do ministro da saúde e do Governo” face à ausência de respostas eficazes ao atual surto de gripe.
“De uma forma que acho que foi alarmista, foi dito que a vacina da gripe não seria tão eficaz este ano e, perante uma situação tão previsível como esta, todos sabemos que as medidas que hoje estão a ser anunciadas e os passeios do senhor ministro da Saúde pelos hospitais não vão resolver o essencial. É tarde demais”, acrescentou o autarca de Almada.
A porta-voz das Comissões de Utentes da Saúde de Almada e do Seixal, Luísa Ramos, subscreve as reivindicações dos dois autarcas e defende que também é necessário reabrir alguns centros de saúde e alargar os horários de funcionamento.
“Hoje os centros de saúde fecham às 20 horas, o que é manifestamente insuficiente”, disse Luísa Ramos, lembrando que o encerramento às 22 horas só está em vigor há alguns dias, quando se agravou o surto de gripe.
“Para nós [Comissões de Utentes da Saúde], o direito à saúde e aos cuidados de saúde está muito para além dos momentos críticos das gripes, porque nós estamos a constatar todos os dias que, quer no Hospital Garcia de Orta quer nos centros de saúde, são recorrentes os tempos excessivos de espera para o atendimento. Não é uma coisa que se limite exclusivamente aos períodos de inverno, sobretudo aos picos de gripe”, frisou.
Marcada pela morte do marido na urgência do Garcia de Orta há cerca de 11 anos, Maria Deolinda, de 83 anos, fez questão de se juntar à concentração deste sábado, assegurando que compreende bem o drama de quem espera muitas horas por atendimento médico.
“Fiquei marcada pela morte do meu marido, que morreu aqui neste hospital, há 11 anos, sem assistência. E de então para cá isto tem piorado. O meu marido veio aqui quatro dias seguidos, devido a uma queda, e nunca foi visto pelo médico. Mandavam-no para casa”, disse.
“Ao quarto dia, um médico veio dizer-me: o seu marido morreu às oito horas da manhã”, recordou Maria Deolinda, convicta de que hoje em dia a situação nas urgências dos hospitais portugueses é bem pior do que era há 11 anos.
Uma opinião partilhada por outro utente, Venceslau Gonçalves, de 74 anos, que também lamenta o atual estado de coisas na prestação dos cuidados de saúde às populações, principalmente aos mais idosos.
“A saúde em Portugal não é aquela que nós defendemos com o 25 de Abril. Pelo contrário, é mais para o lado da morte do que para a saúde”, concluiu o utente. 

Diretora de neurologia critica caos na urgência do Garcia de Orta
Diretora de neurologia aponta caos nas urgências de Almada 
O "caos nas urgências" é também o que acha a diretora do serviço de neurologia do  Garcia de Orta. A médica escreveu uma carta ao conselho de administração onde afirma que as urgências estão caóticas e que o cenário se tem agravado nos últimos anos. 
"Para além do surto de gripe, que ainda não está no seu auge, e do anual aumento de afluxo em determinadas épocas do ano, a situação do Serviço de Urgência do hospital Garcia de Orta, como sabem, e apesar de só agora transparecer para fora, nomeadamente para a comunicação social (num ínfimo topo de iceberg, comparado com o que está a acontecer de desestruturação dos cuidados ao doente e de funcionamento básico de uma instituição), está caótica e em agravamento desde há anos", afirma a diretora do serviço de neurologia na carta que enviou à administração". 
A reação surge depois de a administração ter comunicado aos diretores dos serviços a reabertura da unidade de internamento de curta duração, no serviço de urgência, com 16 camas, ao abrigo do plano de contingência para a gripe, passando aqueles doentes a serem da responsabilidade das diversas especialidades. 
Ao jornal Diário de Notícias, a administração do hospital diz ser apenas uma reação e acredita que as dificuldades "vão ser superadas".

Agência de Notícias

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