Arriscar a vida no rio Tejo a troco de 1,70 euros por quilo de amêijoa
Um mariscador, de 49 anos, está desaparecido desde sábado, no Barreiro. O homem não é visto desde que foi apanhar amêijoa na zona do Mexilhoeiro, junto ao Clube Naval do Barreiro. A Autoridade Marítima local realiza buscas no estuário do Tejo. "Familiares deram o alerta e enviámos uma embarcação semi-rígida e uma patrulha por terra . Tivemos o apoio de um helicóptero da Força Aérea", afirmou o comandante Cruz Gomes, adjunto da Capitania do Porto de Lisboa. No espaço de três meses quatro homens perderam a vida na apanha da amêijoa no Tejo. Três às portas do Natal e agora mais este trágico acidente para a comunidade de mariscadores. Todos eram da zona do Barreiro e já se conheciam por causa do hábito da apanha da amêijoa. Iam de ancinho na mão e com água e lodo a dar pelos joelhos, sem medo das marés num rio traiçoeiro nos baixios. Foram traídos pelo nevoeiro e a subida da maré.
Centenas de pessoas arriscam a vida na apanha da amêijoa no Tejo |
"Para poder alimentar os três filhos", João Paulo Carvalho, de 49 anos, entrou sozinho no Tejo na noite de sábado. Deixou a bicicleta parada à porta do café onde ia quase todos os dias, junto ao clube Naval do Barreiro, e caminhou entre o lodo e o nevoeiro para ir apanhar amêijoa. Não mais voltou a ser visto.
Está desaparecido, mas a esperança de familiares e amigos já se apagou. "Só pedimos para que o corpo seja recuperado", apelava esta segunda-feira, entre lágrimas, a ex-mulher, Carmen Ferreira.
"Ainda ninguém percebeu o que levou o João Paulo a entrar, já de noite, com um vento forte e nevoeiro cerrado. Ainda por cima sozinho. Apesar de a maré estar baixa, foi o único a entrar na água", relata a vizinha e colega na apanha de amêijoa-japónica Ana Rita Rica. "Se o João Paulo arriscou e entrou no rio foi porque precisava.
Estes bivalves, cuja apanha é ilegal, valem 1,70 euros por quilo. A vítima deixa três filhos, de cinco, 13 e 17 anos. O alerta foi dado por familiares ainda na noite de sábado. A Polícia Marítima acionou meios, que no domingo e ontem efetuaram buscas junto à Margem Sul do Tejo. Apesar dos riscos, ontem, centenas de pessoas voltaram ao mesmo local onde João Paulo desapareceu.
No final do ano passado, em circunstâncias idênticas, três homens perderam a vida no Tejo depois de irem para a apanha da amêijoa. Já este mês, um homem perdeu a vida depois do naufrágio de um barco perto da Ponte Vasco da Gama. Todos os homens que desapareceram no Tejo conheciam o rio mas avançaram depois do nevoeiro tapar tudo. Ficaram sem norte. Pescadores contam que os que vivem legalmente da apanha da amêijoa arriscam por quase nada.
Agência de Notícias
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