Quercus liberta dois mil peixes na ribeira de Grândola

Bordalos criados em cativeiro libertados num afluente do Sado

Durante esta sexta-feira, a Associação Nacional de Conservação da Natureza Quercus, em parceria com o Centro de Biociências do ISPA e o Aquário Vasco da Gama, vai libertar na ribeira de Grândola, junto à localidade de Canal Caveira, cerca de dois mil exemplares de bordalos, espécie endémica da Península Ibérica e considerada vulnerável. Esta linha de água, afluente do Rio Sado, apresenta-se como uma “excepção” numa bacia hidrográfica onde “79 por cento das massas de água apresentam má qualidade”, diz a Quercus. Esta é uma das poucas que na bacia do Sado apresenta condições de poder sustentar um habitat para os bordalos “criados em cativeiro” que ali vão ser lançados.
Bordalos regressam hoje à Ribeira de Grândola 

Paulo Lucas, dirigente da Quercus, realçou as apreensões que a Associação Nacional de Conservação da Natureza, tem em relação ao futuro na bacia hidrográfica do Sado que abrange uma área superior a sete mil quilómetros quadrados e enfrenta “diversas pressões decorrentes da crescente ocupação humana e da intensificação da actividade agrícola”.
Estes factores, acentua o ambientalista, ”têm tido um papel significativo” na degradação da qualidade dos cursos de água, produzindo “efeitos negativos difíceis de reverter e colocando em risco a sustentabilidade dos recursos naturais ou a sobrevivência de espécies como o bordalo e o mexilhão-de-rio”, espécie que poderá já estar extinta.
A actividade industrial associada ao “deficiente funcionamento” dos sistemas de tratamento de águas residuais, a “invasão dos habitats por espécies da flora e fauna exóticas” e os contaminantes provenientes das antigas minas e escombreiras de Aljustrel, Caveira e Lousal são apenas mais alguns dos factores que ameaçam os cursos de água da região, “afectando gravemente” a qualidade das águas e dos solos e os ecossistemas deles dependentes.
Acrescem ainda as consequências futuras do transvase de água da bacia do Guadiana para a do Sado - resultante da intensificação da actividade agrícola nos blocos de rega do Alqueva -, e que pode vir a provocar “alterações nas entidades genéticas” aqui prevalecentes, por maior que seja o cuidado posto na segregação das águas deslocadas através dos canais de rega, alerta Paulo Lucas.
Também o aumento da carga poluente à base de fosfatos, nitratos e fitofármacos utilizados na agricultura fazem crer que a “tendência futura é para que a situação se agrave”, seja por acção dos factores já referidos, seja ainda devido às “alterações climáticas e às mudanças extremas de precipitação e temperatura que lhes estão associadas”, acrescenta o dirigente da Quercus.

Agência de Notícias

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