Setúbal encabeça lista de lares ilegais no país


20 mil idosos sem cuidados de saúde em Portugal

A Segurança Social mandou fechar 43 lares de idosos, na primeira metade deste ano, sete dos quais com caráter de urgência. É pouco, muito pouco, diz o presidente da Associação de Lares e Casas de Repouso, que estima que existam, nesta altura, cerca de três mil lares ilegais e clandestinos em Portugal. "Quando se fala em 43 encerramentos, maioritariamente estamos a falar de ordens de encerramento que muitas vezes não são cumpridas. Só sete é que foram efetivos, por urgência", advertiu o responsável. O distrito de Setúbal é um dos distritos mais problemáticos nesta área.
Há mais de 20 mil idosos em lares clandestinos sem assistência 

Existem cerca de 20 mil idosos em Portugal a viver em lares não licenciados. Dada a natureza ilegal dessas residências, as autoridades de saúde não têm conhecimento da sua existência e não as fiscalizam, escapando assim ao controlo sanitário, designadamente na questão da vacinação da gripe, escreve o jornal Correio da Manhã.
"Como são ilegais, não temos conhecimento da existência desses lares e não somos polícias para ir bater à porta perguntar se são lares e têm idosos vacinados. Só podemos agir se houver uma denúncia e quem tem competência para atuar é a Segurança Social, nós só podemos fazer recomendações", sublinhou ao mesmo jornal Margarida Cosme, delegada de saúde do Agrupamento dos Centros de Saúde de Almada-Seixal. 
A médica falava no final de uma visita ao lar da Associação Unitária de Reformados, Pensionistas e Idosos do Seixal, uma intervenção "pedagógica" para apurar as condições da instituição e sensibilizar os responsáveis para a necessidade de preparação adequada para o frio e para a gripe. Mostrando-se "satisfeita" com as condições de residência dos idosos, Margarida Cosme reforçou a importância da lavagem das mãos e "evitar o cumprimento de familiares doentes", para prevenir o contágio de casos de gripe.
Isabel Apolinário, 83 anos, vive no lar desde o primeiro ano da inauguração, há quatro anos. "Gosto muito de aqui estar", afirmou. Outro utente, Luís Paiva, 75 anos, afirma que ali não sente "a solidão". José Silva, presidente da instituição, afirmou que recebe "dois ou três utentes" por semana do Hospital Garcia de Orta, em Almada, que "ocupavam uma cama hospitalar, apesar da alta clínica". No lar vivem 56 idosos e 60 estão no centro de dia.

Faz-se muito pouco para inverter situação 
Os lares clandestinos movimentam por ano cerca de 150 milhões de euros. O negócio paralelo integra mais de 20 mil utentes, que pagam em média cerca de 600 euros por mês, segundo as estimativas avançadas pela Associação de Apoio Domiciliário de Lares e Casas de Repouso de Idosos. De acordo com esta associação, houve uma proliferação de lares clandestinos com a crise económica.
Mas a situação é grave. Os últimos números da Segurança Social são do verão e contam que foram fechados 43 lares de idosos, sete dos quais com caráter de urgência. É pouco, muito pouco, diz o presidente da Associação de Lares e Casas de Repouso, que estima que existam, nesta altura, cerca de três mil lares ilegais e clandestinos em Portugal
"O número, em vez de aumentar, está a diminuir. Piora um pouco. Antes compensava estar clandestino, agora se forem realmente alvo de inspeções e da aplicação de coimas, já doi", diz João Ferreira Almeida.
De acordo com o Instituto da Segurança Social Até 30 de Junho, [faltam apurar os dados da segunda metade de 2015] foram efetuadas 291 fiscalizações a lares da terceira idade. As situações mais graves foram encontradas em Setúbal, Faro, Leiria e Porto. 
"A escolha de lares clandestinos acaba por ser a mais barata devido a vários fatores: falta de cuidados médicos, ausência de pagamento de impostos e presença de trabalhadores em situação precária", acrescentou o mesmo responsável.
O presidente da Associação de Lares e Casas de Repouso garante que, por causa da crise, os idosos dão entrada nos lares cada vez mais tarde e que chegam cada vez mais debilitados, mais doentes e menos autónomos.
João Ferreira Almeida sublinhou, ainda, que os milhares de lares clandestinos em Portugal não asseguram os mais básicos cuidados de saúde.

Comentários