Vítor Baptista é lembrado esta tarde em Setúbal

Conversa ao final da tarde sobre o maior rebelde do futebol português

Houve um futebolista português que parou um Benfica-Sporting à procura de um brinco. Que comprou um Jaguar e o equipou com um motorista para o guiar de Setúbal a Lisboa só porque sim. Que levava um cão para os treinos e o amarrava a uma baliza. Que usava sandálias de tacão alto, jeans rasgados, camisas abertas, brinco, cabelo e barba compridos quando todos os outros vestiam fato e gravata. Que trazia couves e batatas da quinta dele para distribuir pelos colegas. Que teve tudo e perdeu tudo na droga e na noite e em maus negócios. Chamava-se Vítor Baptista e tinha uma alcunha: O Maior. Foi estrela no Vitória de Setúbal e no Benfica. Foi tão famoso pela competência em desfazer defesas graças a um futebol avançado para a época quanto pela irreverência fora de campo. É tema de conversa, esta quinta-feira, de uma sessão do ciclo “Ao final da tarde…”, das 18 às 20 horas, na Biblioteca Pública Municipal de Setúbal.
Vítor Baptista vai ser tema de conversa esta tarde em Setúbal 

O mote para este encontro é o documentário e reportagem “O maior – a história de Vítor Baptista”, assinada pelos jornalistas do jornal Expresso Joana Beleza e Pedro Marta Candeias, presentes no evento, que aborda a ascensão e a queda de um mito do desporto nacional.
A iniciativa, de entrada livre e aberta ao público em geral, organizada pela Câmara de Setúbal no âmbito de Setúbal Cidade Europeia do Desporto 2016, conta com diversos convidados, nomeadamente ligados ao Vitória Futebol Clube e ao Sport Lisboa e Benfica.
Alguns deles conviveram de perto com o homenageado, como amigos de infância e antigos colegas, incluindo o “irmão” Fernando Tomé, o que permite recordar e revelar alguns aspetos da vida intensa e curta de Vítor Baptista.
Setúbal, a terra de nascimento, a 18 de Outubro de 1948, foi onde “O Maior”, como se autodenominava, despontou para o futebol. Ingressou no Vitória de Setúbal e com 15 anos e rapidamente ascendeu à primeira categoria para viver épocas de brilho, com golos atrás de golos.
Pela mão do treinador José Maria Pedroto, subiu do meio campo para o coração da área e na última temporada nos sadinos apontou 22 tentos, quase suplantando outro temível goleador, mais refinado do que fogoso, Artur Jorge, com quem fez dupla de luxo, a partir de 1971, no Sport Lisboa e Benfica, já Eusébio caminhava para o ocaso da carreira.
O fascínio pelas estrelas rock britânicas e norte-americanas do início dos anos 70 assentou como uma luva na personalidade rebelde de Vítor Baptista, como aconteceu na mesma altura, em Inglaterra, com George Best, atacante do Manchester United, tão falado pelo que fazia dentro como fora das quatro linhas.
Vítor Baptista jogou no Benfica até 1978, para voltar ao Vitória, a que se seguiram passagens pelo Boavista, Earth Quakes, dos Estados Unidos, Amora, Montijo, União de Tomar, Monte de Caparica e Estrelas do Faralhão, equipa que também treinou, em 1985/86.
Foi o declínio de um craque dos relvados, com muitas tardes de glória no Vitória, no Benfica, mas também na seleção portuguesa, que representou por 11 vezes, marcando dois golos. Afinal, o homem era ponta-de-lança, teve mesmo o mulherio a seus pés e só não foi o “maior” porque se perdeu no labirinto opiáceo. É essa derrota porém que lhe dá o tom trágico de personagem literária.
O encontro a realizar esta quinta-feira à tarde na Biblioteca vai lembrar um setubalense que conquistou a glória para, anos depois, perder tudo e acabar num quadro de degradação e miséria, vindo a morrer a 1 de Janeiro de 1999, aos 50 anos.
O brinco, que começou a usar antes do 25 de Abril, o ar de rock star, o potente Jaguar 4.2, a boémia e, depois, as teias da droga ajudaram a construir o mito Vítor Baptista. Quem o viu jogar recorda o talento de um grande avançado português.


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