Trabalhadores discutiram futuro da Autoeuropa

Greve de dois dias discutida em plenário de trabalhadores  

O coordenador da Comissão de Trabalhadores da Autoeuropa afirmou esta quarta-feira que não receia pelo futuro da fábrica, apesar do diferendo com a administração sobre novos horários, num dia em que estão previstas várias reuniões plenárias na fábrica de Palmela. "Não receio pelo futuro da fábrica", disse à agência Lusa Fernando Gonçalves, que justificou a confiança demonstrada com as informações recolhidas numa recente deslocação que fez à casa mãe da Volkswagen, na Alemanha, mas que se escusou a revelar antes dos plenários previstos para esta quarta-feira. No entanto, um grupo de trabalhadores apresentou proposta para greve de dois dias entre final de Janeiro e início de Fevereiro contra imposição de horários. O Bloco de Esquerda solidarizou-se com a luta dos trabalhadores da Autoeuropa e acusou a administração da empresa de recorrer a "um Código de Trabalho injusto para impor unilateralmente os termos da laboração contínua na fábrica de Palmela".
Cenário de greve de volta à maior fábrica de automóveis do país 

Voltou o cenário de greve na Autoeuropa. Um grupo de trabalhadores da fábrica de Palmela apresentou uma proposta de paralisação de dois dias entre o final de Janeiro e o início de Fevereiro nos plenários iniciados ontem de manhã, e que estavam previstos terminar às duas da manhã de hoje.
A moção em que esta proposta foi lançada, escreve o Diário de Notícias,  terá sido chumbada no primeiro plenário, que foi realizado antes do turno da manhã, mas terá sido aprovada no segundo plenário, afirma o mesmo jornal que cita três fontes presentes nas reuniões entre operários. Os autores deste documento estão contra a imposição de um novo horário pela administração da empresa, a partir de 29 de Janeiro.
Se este cenário se confirmar, a Autoeuropa poderá enfrentar a segunda paragem em menos de cinco meses. A primeira greve da história da empresa realizou-se a 30 de Agosto e foi decidida nos plenários realizados após o chumbo do primeiro pré-acordo entre a comissão de trabalhadores - liderada, na altura, por Fernando Sequeira - e a administração.

Governo tentou unir trabalhadores e administração 
As negociações entre a comissão de trabalhadores e a administração foram desbloqueadas após a intervenção do ministro do Trabalho, Vieira da Silva, que se comprometeu com a "criação e o reforço de equipamentos sociais de apoio à família", com "mais creches e creches com horário diferenciado". O anúncio foi feito após uma reunião de três horas no ministério, que envolveu também o secretário de Estado do Emprego, Miguel Cabrita, e a secretária de Estado da Indústria, Ana Teresa Lehmann.
Nos plenários desta quarta-feira, a comissão de trabalhadores, liderada por Fernando Gonçalves, apresentou a proposta de aumento salarial de 6,5 por cento, com um valor mínimo de 50 euros, para vigorar até Setembro de 2018 e com efeitos retroativos a a partir de Outubro deste ano.A Comissão de Trabalhadores (CT) da Autoeuropa convocou para esta quarta-feira reuniões plenárias com os trabalhadores dos três turnos na sequência da decisão da administração da empresa de avançar, em finais de Janeiro de 2018, com um novo horário de produção de 17 turnos semanais, face à rejeição de dois pré-acordos negociados previamente com a Comissão de Trabalhadores.
Apesar de se tratar de um acordo imposto unilateralmente, a administração da Autoeuropa promete pagar os sábados a 100 por cento, acrescidos de mais 25 por cento, caso sejam cumpridos os objetivos de produção trimestrais.
A decisão da administração de avançar com um novo horário de forma unilateral é contestada pela Comissão de Trabalhadores, que defende o regresso às negociações para definir os novos horários de laboração contínua e respetivas condições de remuneração.
Se entretanto não houver entendimento entre a administração e os trabalhadores, o novo horário de laboração contínua deverá vigorar até ao mês de Agosto do próximo ano.
A Autoeuropa promete, no entanto, discutir o período após Agosto de 2018 com a Comissão de Trabalhadores.
Os novos horários de laboração contínua prevêem quatro fins de semana completos e mais um período de dois dias consecutivos de folga em cada dois meses para cada trabalhador.
A Autoeuropa prepara-se para produzir 240 mil automóveis no próximo ano, por causa do veículo utilitário desportivo T-Roc. Este é o primeiro modelo produzido em larga escala em Palmela, e que pode colocar a fábrica "num patamar mais elevado e mais exigente na rede de empresas do grupo Volkswagen", como salientou o ministro Vieira da Silva após a reunião. A Autoeuropa é responsável por um por cento do produto interno bruto e dá emprego, direta e indiretamente, a 8700 trabalhadores.

BE solidariza-se com trabalhadores da Autoeuropa
 BE critica administração da Autoeuropa pelo trabalho ao sábado 
O Bloco de Esquerda solidarizou-se com a luta dos trabalhadores da Autoeuropa e acusou a administração da empresa de recorrer a "um Código de Trabalho injusto para impor unilateralmente os termos da laboração contínua na fábrica de Palmela".
"O BE expressa toda a solidariedade com os trabalhadores da Autoeuropa e com a sua luta pelo direito à conciliação entre o trabalho e a vida familiar", refere um comunicado da Comissão Coordenadora da Distrital de Setúbal do Bloco de Esquerda, assinado pela deputada Joana Mortágua, eleita pelo distrito de Setúbal.
"O BE renova o compromisso e o apelo à luta dos trabalhadores contra as gritantes injustiças do Código de Trabalho que agora estão a ser impostas na Autoeuropa", acrescenta o documento, que reconhece a importância estratégica da empresa para o distrito de Setúbal e para o País, bem como as vantagens do "modelo alemão", que permitiu um clima de paz social desde o arranque da fábrica, em 1995.
Para o BE, a realidade mudou com a vinda do novo veículo T-Roc e com a necessidade de aumentar a produção, o que levou a empresa a impor um horário de trabalho de laboração contínua, face à rejeição de dois pré-acordos previamente negociados com diferentes Comissões de Trabalhadores.
"Perante isto (rejeição dos pré-acordos sobre os novos horários de laboração contínua), a administração da Autoeuropa decidiu recorrer a um Código de Trabalho injusto para impor unilateralmente os termos da laboração contínua na fábrica", critica o BE, que "repudia a imposição de um horário de trabalho em desrespeito pela negociação e pela vontade expressa dos trabalhadores da Autoeuropa".
"Rejeitamos também a ameaça de deslocalização da produção, que apenas pretende chantagear os trabalhadores para aceitarem piores condições de trabalho. É lamentável que o Governo tenha escolhido alinhar pelos interesses da administração, sobretudo tendo em conta os apoios públicos que o país já deu à Autoeuropa", salienta o comunicado do BE.

Agência de Notícias com Lusa 

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