"Obra vai desvirtuar completamente a beleza natural daquela baía"
A Câmara de Setúbal está a construir uma ponte-cais para embarcações de recreio e marítimo-turísticas no Portinho da Arrábida, um investimento de 225 mil euros, mas moradores e comerciantes dizem que se trata de uma "barbaridade colossal". O Clube da Arrábida, que representa cerca de 350 moradores, comerciantes, proprietários e utentes da praia do Portinho, critica a opção por uma estrutura fixa de grande dimensão, que irá trazer mais turistas, mas que, dizem, "tem um impacto visual muito negativo".
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Ponte cais está concluída em Outubro |
"Isto projeta um pontão metálico 45 metros para dentro da baía do Portinho, o que é uma barbaridade colossal. Para o cais funcionar com maré cheia e maré-baixa, projetaram isto muito para fora, porque a baía do Portinho está completamente assoreada e, na maré vazia, os barcos não conseguiriam chegar lá", disse à agência Lusa Pedro Vieira, porta-voz do Clube da Arrábida.
"O cais flutuante vai subir e descer consoante a maré, mas o passadiço é fixo e, com a maré vazia, vai ficar a cerca de três metros de altura e vai desvirtuar completamente a beleza natural daquela baía. Se fosse um cais pequeno, que saísse uns cinco metros da muralha para fora, tudo bem. Mas uma coisa com 45 metros é fazer uma estrada pelo mar dentro", criticou.
Além de considerar que o passadiço, tal como está projetado, constitui um atentado ambiental, Pedro Vieira alerta para a necessidade de se resolver o que diz ser o principal problema do Portinho: "a falta de areia na praia".
"Qualquer investimento feito no Portinho da Arrábida sem se atacar primeiro o problema de raiz, que é o desassoreamento, é deitar dinheiro pela janela. O Portinho vai continuar a desassorear a um ritmo brutal. Conforme revelou, o ano passado, um parecer do LNEC (Laboratório Nacional de Engenharia Civil), o Portinho já perdeu 70% da areia da praia. Qualquer obra que seja feita, que não contemple o enchimento de areia, de hoje para amanhã vai estar em seco", acrescentou.
Pedro Vieira reconhece que a referida infraestrutura pode ajudar a trazer mais pessoas, por via marítima, para o Portinho da Arrábida, e aproveitar o aumento da procura turística daquela zona paradisíaca, mas lamentou que não tivesse sido realizado qualquer estudo de impacte ambiental para a construção da nova ponte-cais.
"Numa área protegida onde não se pode meter um grão de areia sem um estudo de impacto ambiental, é possível construir, mar dentro, uma estrutura fixa de 45 metros de comprimento sem qualquer estudo de impacto ou qualquer consulta pública", disse.
Apesar de várias tentativas, não foi possível confrontar a presidente da câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, com as críticas do Clube da Arrábida à construção da nova ponte-cais, tal como está projetada.
No entanto, o capitão do porto de Setúbal, Luís Lavrador, confirmou à agência Lusa que se trata efetivamente da construção de uma ponte-cais com base num projeto antigo do Instituto para a Conservação da Natureza Florestas, que, entretanto, passou para a responsabilidade da Câmara de Setúbal, e que terá sido objeto de algumas adaptações.
A conclusão dos trabalhos de construção da nova ponte-cais do Portinho da Arrábida está prevista para o próximo mês de Outubro.
Agência de Notícias com Lusa
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