Pescadores de Setúbal revoltados com dragagens

Possível deposição de materiais dragados em zona de pesca ameaça qualidade do peixe 

Associações de pesca e movimentos cívicos de Setúbal estão revoltados com a aprovação da licença para deposição de materiais dragados do canal de navegação de acesso ao porto numa zona de Tróia considerada "fundamental para os pescadores da região". A Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos aprovou uma licença para a deposição de areias e lamas provenientes das dragagens para melhoria das acessibilidades marítimas ao porto de Setúbal, na denominada zona da Restinga, que as associações de pesca de Setúbal e o movimento SOS-Sado dizem ser fundamental para o sustento de cerca de 300 famílias de pescadores, só na cidade de Setúbal.
Pescadores preocupados com dragagens no Sado 

"Foi com enorme estranheza e profunda preocupação que a comunidade piscatória de Setúbal e Sesimbra soube da decisão da Direção-Geral de Recursos Naturais, Segurança e Serviços Marítimos através da imprensa, de aprovar o Título de Utilização Privativa de Espaço Marítimo 5, para a zona da Restinga", disse à agência Lusa Ricardo Santos, da Sesibal, Cooperativa de Pesca de Setúbal, Sesimbra e Sines.
Segundo Ricardo Santos, "a deposição de areias e lamas, parte das quais poderá estar contaminada como refere o despacho do organismo que tutela o mar, na zona da Restinga, local onde cerca de 300 pescadores de Setúbal exercem a sua atividade profissional e ganham o sustento das suas famílias, constitui uma ameaça para a qualidade do pescado e para um local de captura de choco, salmonete, raias, sardinha, carapau, cavala e outras espécies".
Por outro lado, acrescenta Ricardo Santos, "as areias e lamas depositadas naquela zona (Restinga) poderão ser arrastadas para as praias de Tróia e provocar um maior assoreamento de toda aquela zona, impossibilitando a navegação em segurança de pequenas embarcações de pesca, que poderão ter de ir à barra de Setúbal e cruzar-se com os grandes navios, para se dirigirem às zonas de captura na costa alentejana, entre Tróia e Sines".
Ricardo Santos adverte ainda que a deposição de sedimentos contaminados também constitui um perigo para as praias de Tróia e para a zona protegida do Parque Marinho Luís Saldanha, bem como para diversas atividades económicas como a restauração, que depende, em grande parte, da qualidade do peixe capturado na região de Setúbal.

SOS Sado ao lado dos pescadores 
As preocupações dos pescadores são partilhadas pelo movimento cívico SOS Sado, que também receia as consequências ambientais que as dragagens para alargamento do canal de navegação do estuário do Sado e a deposição de dragados na Restinga poderão vir a ter para o património natural da região.
Segundo David Nascimento, porta-voz do movimento SOS Sado, "a aprovação do Título de Utilização Privativa de Espaço Marítimo 5 parece significar que não está a ser considerada nenhuma localização alternativa".
"Já houve um pedido para outra licença, a sul da zona da Restinga, mas para uma quantidade consideravelmente mais pequena de dragados (250 mil metros cúbicos), que não será suficiente para aportar todos os sedimentos que querem dragar na primeira fase (Fase A), cerca de 3,5 milhões de metros cúbicos", disse.
"A escolha da zona da Restinga poderá ter a ver com a proximidade da zona de dragagens, o que permite um tempo de transporte muito curto dos dragados e uma redução de custos face ao que seria a deposição de dragados a sul da barra do porto de Setúbal", acrescentou o porta-voz do movimento SOS-Sado.

Agência de Notícias com Lusa  

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