Empresas de transporte da Margem Sul crescem com passe Navegante, mas passageiros têm mais queixas
As vendas das empresas de transportes da Margem Sul cresceram com o passe Navegante, tendo o comboio da Ponte 25 de Abril, operado pela Fertagus, registado num ano um aumento no número de utilizadores da ordem dos 35 por cento. Numa resposta escrita enviada à Lusa, a empresa que faz a ligação ferroviária entre Setúbal e Lisboa adiantou que “em Outubro se verifica um crescimento de 34,53 por cento, face a Novembro de 2018”, o ano em que a Fertagus transportou 21 milhões de passageiros. TST, Transtejo e Soflusa também têm mais procura. As empresas cresceram e registam mais passageiros com a introdução do passe único, mas utentes ainda se queixam de problemas antigos por resolver: atrasos, sobrelotação e falta de condições.
Também a rodoviária do distrito de Setúbal Transportes Sul do Tejo (TST) registou “um significativo aumento na procura dos serviços” entre Abril (mês de entrada em vigor do passe) e Setembro, com mais 2,4 milhões de passageiros, o que corresponde a um incremento de 400 mil utentes por mês e a um “crescimento médio de 14 por cento”.Já a Transtejo/Soflusa, que assegura o transporte fluvial entre a Margem Sul e Lisboa, registou um “aumento de procura de cinco por cento, entre Abril e Setembro de 2019, face ao período homólogo de 2018”, o ano em que transportou cerca de 17,7 milhões de passageiros.
Em 17 de Setembro, a administradora da Fertagus, Cristina Dourado, adiantou à Lusa que a empresa se encontrava a “renegociar” com o Estado o contrato de concessão da travessia sobre o Tejo, que termina este ano, revelando também que a empresa estava a estudar a aquisição de material circulante. No entanto, passado mais de um mês ainda “não há mais desenvolvimentos” sobre a concessão, nem sobre o novo material circulante, com excepção de “uma quinta carruagem que permitiria aumentar a capacidade”, tendo já sido pedida uma avaliação ao fabricante.
Desde 1 de Abril que a Área Metropolitana de Lisboa tem um passe único metropolitano que abrange os 18 concelhos, por 40 euros, além de novos passes municipais que custam 30 euros.
Passageiros satisfeitos, mas ainda há problemas
Os passageiros dos transportes públicos da península de Setúbal estão satisfeitos com o passe Navegante, mas afirmam que os problemas no comboio, barco ou autocarro, como as “constantes sobrelotações”, não só se mantêm, como “aumentaram”. “Parece que foi dado um passo importante, mas depois há os passos todos que ficaram por dar e os problemas que tínhamos há dois anos mantêm-se e aumentaram claramente”, disse à agência Lusa Marco Sargento, da Comissão de Utentes de Transportes da Margem Sul.
Desde que o passe Navegante entrou em vigor, a procura por transportes públicos aumentou na península de Setúbal face ao ano passado, fazendo com que a Fertagus (comboio) registe um crescimento na ordem dos 35 por cento, a Transportes Sul do Tejo (autocarro) de 14 por cento e a Soflusa (barco) de cinco por cento, segundo uma resposta escrita enviada à Lusa.
Na visão de Marco Sargento, esta procura crescente agravou os problemas que já existiam nos transportes, nomeadamente a “sobrelotação”, sentida com maior intensidade na Fertagus, que assegura o transporte ferroviário sobre a Ponte 25 de Abril. “Continuo a vir em pé no corredor, com três pessoas a ocupar meio metro quadrado, isto é, constantes sobrelotações e mesmo na hora de regresso, com composições cheiíssimas”, indicou.
As horas de ponta são os períodos mais críticos, obrigando os utentes a deslocar-se em pé, tanto de manhã, a partir do Seixal em direcção a Lisboa, como no fim do dia, de regresso a Setúbal, quando não há lugares para sentar logo na segunda estação, em Entrecampos. “Enquanto o pessoal estava de férias tudo bem, mas agora que começaram a trabalhar é uma loucura, nem dá para andar direito. Está sempre muito cheio e vem cheio até Setúbal. É uma hora de viagem com o transporte muito cheio”, indicou Erika Silva, de 29 anos.
A utente usa o modo ferroviário há um ano, mas não está satisfeita com o serviço devido às condições a que está sujeita, num percurso que se inicia em Roma-Areeiro, em Lisboa, levando 50 minutos até chegar a Setúbal, com paragem em 14 estações. “Às vezes chega a ser meio desumano. Há muita gente que trabalha o dia todo e vai ali apertado, é humilhante”, lamentou.
Numa tentativa de melhorar a oferta, a Fertagus introduziu carruagens com menos bancos e mais lugares para viajar em pé, mas nem todos os utentes se mostram satisfeitos com a medida. “É horrível, ninguém quer ir nessa carruagem. Evitamos sempre. Aliás, eu quando vejo que é essa carruagem vou logo para outra. Acho que não ajudou muito e podiam era pôr mais carruagens no comboio”, defendeu Joana Soares, de 24 anos.
Ainda assim, nem tudo é negativo e a Fertagus “é muito regular nos horários” e não costuma ter atrasos, segundo Bruno Amoroso, de 27 anos, que tem poupado cerca de 120 euros com a introdução do novo passe, com um custo de apenas 40 euros.
Autocarros lotados e barcos "velhos"
Também os utentes da rodoviária Transportes Sul do Tejo (TST) têm críticas a registar, principalmente aqueles que utilizam as carreiras com ligação a Lisboa. “Estão mais pessoas a tentar usar os autocarros, mas não aumentaram nem os horários, nem o número de autocarros. Posso dar o exemplo de que todos os dias em Alcântara, entre as 17h30 e 19 horas, está uma fila de 20 ou 30 pessoas que não conseguem apanhar o autocarro que vai para Setúbal”, contou Patrícia Lopes, utilizadora da carreira via Ponte 25 de Abril.
A Transtejo e Soflusa, que asseguram o transporte fluvial entre a Margem Sul e Lisboa, também não escapam ao descontentamento, até porque, segundo Marco Sargento, “continuam com carreiras suprimidas, com atrasos injustificáveis e barcos muitas vezes sem as condições mínimas de higiene e conforto”.
Para Vítor Carriço, de 50 anos, utilizador do cacilheiro em Almada, as condições da Transtejo continuam “precisamente na mesma”, porque “já eram más e piorar é difícil”. “Os navios da Transtejo estão num estado deplorável e super-degradados. Não há um único revisor a ver o estado em que as embarcações estão e como é que as pessoas se comportam lá dentro, com os pés em cima do banco, riscam e tudo mais”, apontou.
“Tinha de se começar por algum lado e começou-se bem pela massificação dos transportes, com o baixar dos preços, mas temos de olhar urgentemente para o resto para que as pessoas que entraram não voltem para o carro. É urgente investir em novas linhas, em novas composições e um reforço sério de recursos humanos”, frisou.
Agência de Notícias com Lusa
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