Vitória de Setúbal mergulhado na indefinição

Paulo Gomes coloca lugar à disposição e Conselho Fiscal avança com processo-crime contra a SAD 

A direção do Vitória de Setúbal, liderada por Paulo Gomes, colocou o lugar à disposição na quinta-feira, entregando simbolicamente ao presidente da Mesa da Assembleia Geral, Cândido Casimiro, cartas de renúncia. Num vídeo publicado esta  madrugada no sítio oficial do clube, Paulo Gomes explicou que, após a descida do clube da I Liga ao Campeonato de Portugal (por incumprimento dos pressupostos financeiros), a direção, que continua a aguardar o resultado do recurso apresentado no Tribunal Arbitral do Desporto, fê-lo de forma “simbólica”. O Vitória, agora no terceiro escalão do futebol português, arrancava este fim-de-semana em Moura [adiado para Novembro] mas na verdade ainda há muita indefinição no clube. Para piorar a situação, o presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Vitória de Setúbal anunciou que vai avançar com um processo-crime junto do Ministério Público sobre factos ocorridos na SAD sadina. Sem especificar pormenores, João Martins explica que a decisão não foi revelada antes para não prejudicar a defesa do clube. Um grupo de sócios também já avançaram com um pedido à Assembleia Geral destitutiva. Com denúncias de salários em atraso, o atual presidente diz o futuro imediato do clube "vai ser muito difícil". 
Problemas no Vitória agravam-se 


“Por uma questão simbólica, achámos que devíamos dar ao presidente da mesa da Assembleia Geral [Cândido Casimiro] as nossas cartas de renúncia. Atenção: não são demissões. São cartas de renúncia para que, independentemente da decisão que viesse a ser dada pelo Tribunal Arbitral do Desporto [n.d.r.: clube tinha esperança que o veredicto chegasse antes do arranque da I Liga], a nossa posição fosse exatamente a mesma”, disse Paulo Gomes, presidente do Vitória de Setúbal.
O dirigente entende que, perante os acontecimentos que relegaram o emblema setubalense ao Campeonato de Portugal, a direção que preside desde Janeiro de 2020 deve ser legitimada pelos sócios.
“A queda abrupta para a terceira divisão, decretada pela Liga por não cumprirmos os três pressupostos, tornou-se um facto muito importante que fez esta direção pensar que, para poder continuar, teria obrigatoriamente de ser legitimada pelos sócios. Podia fazê-lo de várias formas: tentar fazer uma assembleia-geral, que neste caso não foi possível, mas teria de ser obrigatoriamente legitimada. Havia um processo em curso e fizemos os nossos recursos, essencialmente no Tribunal Arbitral do Desporto. Enquanto os processos não fossem decididos e não arrancasse a 1.ª jornada da Liga deveríamos dar a ideia de estarmos todos unidos em prol de uma decisão que fosse favorável”, explicou.
Paulo Gomes refere no vídeo, que tem a duração total de 20 minutos, que, após a entrega das cartas de renúncia, a decisão sobre a sua continuidade ou saída cabe agora a Cândido Casimiro e aos associados.
“Não sei qual é a melhor solução. Há quem diga que se sairmos é um ato de cobardia e quem diga que se ficarmos estamos agarrados ao lugar. O desgaste nesta fase é grande, porque tivemos seis meses muito difíceis por não haver receitas, o clube esteve completamente parado. De qualquer forma, fomos trabalhando nas soluções para o futuro próximo. A decisão estará na mão do presidente da Tribunal Arbitral do Desporto e dos sócios”, vincou.
O presidente da direção admitiu que a gestão do clube, que vai participar na série H do Campeonato de Portugal, vai ser complicada nos próximos tempos.
“Vai ser difícil. Já tínhamos dois ou três projetos em andamento para serem validados em assembleia. Tínhamos um protocolo fechado, assinado pela direção, com uma academia africana em que entraria no Vitória um valor acima de meio milhão de euros. Esse valor seria para tesouraria e melhoramento de estruturas do clube. Temos o plantel a trabalhar para lutar jogo a jogo por colocar o Vitória na II Liga. As decisões têm de ser feitas de forma célere para que no final deste mês já existam soluções para o clube”, disse.
Apesar das dificuldades que o Vitória de Setúbal vive, Paulo Gomes discorda da opinião dos que defendem que a SAD deveria declarar a insolvência.
“Ouvimos alguns sócios dizer que o melhor é ‘insolver’ a SAD. Esta direção acha que não deve ser esse o caminho e que a SAD se deve manter. Primeiro, o processo do recurso não terminou, pode ir para os tribunais administrativos e a decisão será, certamente, tomada a nosso favor. Depois, se a SAD se dissolver, o clube fica desprotegido. Acho também que devemos ter um parceiro ou investidor que possa resolver os problemas financeiros do clube a curto prazo para que a SAD se torne funcional”, defendeu Paulo Gomes numa mensagem ao clube durante a madrugada deste sábado, sublinhando ainda que não houve comunicação antes com os adeptos devido à preparação e início do ano letivo, que é a sua "vida profissional". 

Conselho Fiscal e Disciplinar coloca SAD do Vitória em tribunal 
Mas em Setúbal corre agora um facto novo. O presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar do Vitória de Setúbal anunciou, através de comunicado enviado à Lusa, que vai avançar com um processo-crime junto do Ministério Público sobre factos ocorridos na SAD sadina.
Sem especificar pormenores, João Martins explica que a decisão não foi revelada antes para não prejudicar a defesa do clube, depois de o Vitória ter sido relegado do primeiro para o terceiro escalão do futebol português: a Liga não aceitou o licenciamento da SAD.
"Com justificação de estratégia jurídica foi solicitado a este Conselho que não tomasse determinadas posições antes do início da Liga, os quais poderiam prejudicar a defesa do Vitória. A bem do clube e para não ser considerado bode expiatório de algo menos conseguido esse pedido foi aceite. Liberto desse compromisso, vem o Conselho Fiscal e Disciplinar informar que no exercício das suas funções deliberou pela apresentação de um processo-crime junto do Ministério Público sobre factos ocorridos na SAD", lê-se no documento.
"Lamentamos a total indisponibilidade do Conselho de Administração da SAD em colaborar com o Conselho Fiscal e Disciplinar em todo o trabalho desenvolvido, nomeadamente na não entrega de documentos solicitados. A direção apenas disponibilizou um único documento dos muitos solicitados", acrescenta João Martins.
O presidente do Conselho Fiscal e Disciplinar afirma ainda que o clube deve ir a votos porque "a eleição dos atuais órgãos sociais foi sustentada num programa cuja concretização não foi alcançado, antes pelo contrário", já que o Vitória não cumpriu os requisitos necessários para que a equipa ficasse na Liga.
O comunicado termina ainda com um pedido de desculpas. "Embora seja da exclusiva responsabilidade da direção a gestão direta do Vitória e, de forma indireta, a da SAD, é incontornável que os atuais órgãos sociais não têm legitimidade moral para continuarem em funções por terem sido eleitos em lista única. Sentindo orgulho pelo trabalho que tem desenvolvido e que a seu tempo a Justiça se pronunciará, não pode o Conselho Fiscal e Disciplinar passar sem um humilde e sentido pedido de desculpas aos sócios do Vitória por ter acreditado e fazer acreditar num projeto que afinal não tinha a sustentabilidade que nos fizeram crer que existia". 
O arranque do Vitória no Campeonato de Portugal estava marcado para dia 20 de Setembro, mas o encontro frente ao Moura AC foi adiado para dia 15 de Novembro às 15 horas, anunciaram os sadinos. Com a isenção de participar da primeira eliminatória da Taça de Portugal, no próximo fim-de-semana, os sadinos estreiam-se no Campeonato de Portugal, no Bonfim, com o Juventude de Évora, um jogo entre dois históricos do nosso futebol.

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