Médicos e dezenas de setubalenses juntos em defesa do Hospitalar de Setúbal

Obras de ampliação podem piorar muito o hospital dizem os médicos 

Cerca de uma centena de pessoas manifestaram-se, no sábado, junto ao Hospital de São Bernardo para exigirem a reclassificação do Centro Hospitalar de Setúbal, mais investimento e o reforço de meios humanos em especialidades médicas daquela unidade de saúde. O protesto, que se segue a uma concentração que juntou mais de 300 pessoas no passado dia 12 de Outubro, foi convocado através das redes sociais por Alexandre Correia, um utente do Centro Hospitalar de Setúbal, e contou com a presença do diretor clínico demissionário, Nuno Fachada, e de outros médicos do hospital, que voltaram a alertar para a degradação progressiva daquela unidade de saúde, onde, sublinham, é cada vez mais evidente a falta de investimento e de recursos humanos.

Pessoas querem obras urgentes no São Bernardo


"Temos falta de equipamentos, como uma ressonância magnética e outros. Mas há aqui dois pontos fundamentais, prometidos há vários anos e que se mantêm, já com compromissos não cumpridos pela tutela", disse à agência Lusa Luís Cortez, diretor do serviço de Cirurgia do Centro Hospitalar de Setúbal, que engloba os hospitais de São Bernardo e do Outão.
"Um desses aspetos fundamentais é a reclassificação, a subida de nível do Centro Hospitalar de Setúbal. Há um compromisso do Ministério da Saúde assumido há três anos, pelo menos, mas depois nas negociações, nos contactos com o Ministério das Finanças, tudo fica sem resposta. E isto tem um impacto enorme, porque tem a ver com o financiamento do hospital e representava um acréscimo - se houvesse a subida de nível – de 11 milhões de euros" por ano, disse Luís Cortez.
O diretor de cirurgia do centro hospitalar salientou que “esses 11 milhões de euros permitiriam mais investimento do hospital, na aquisição dos equipamentos necessários para a prestação de cuidados de saúde às populações do litoral alentejano e dos concelhos de Palmela, Sesimbra e Setúbal”.
Segundo Luís Cortez, outro aspeto fundamental é a ampliação do hospital, designadamente do serviço de urgência, que está “em discussão há quatro ou cinco anos”.
“O projeto que nos foi apresentado previa a inclusão do Hospital do Outão no Hospital de São Bernardo, mas [na opinião dos médicos], o projeto não permite essa inclusão”, disse.
“Quando se fala em ampliação, ela é necessária para o serviço de urgência, mas tem que se ver qual o tipo de projeto. Se é o projeto inicial, a situação vai piorar. Parecendo que vamos melhorar com a ampliação do hospital, corremos o risco de ficar pior”, advertiu.

Dinheiro gasto nas autoestradas e da corrupção faziam falta ao SNS 
Obras de ampliação podem não chegar 
O diretor de cirurgia reiterou aquilo que tem sido uma das preocupações expressas por todos os médicos que se têm pronunciado sobre a degradação progressiva do Centro Hospitalar de Setúbal, e que também consideram o projeto de ampliação que lhes foi apresentado insuficiente para acolher o Hospital do Outão.
No mesmo sentido está também um manifesto dos médicos do centro hospitalar lido durante a concentração deste sábado, onde se salienta o facto de haver “cada vez menos médicos em várias especialidades” no Centro Hospitalar de Setúbal.
“Queremos trabalhar no SNS e não nos estão a deixar. Estamos com vocês, este alerta é por vocês e por todos nós, pessoas de Setúbal, de Sesimbra, de Palmela, Alcácer e todas as outras que nos procuram. Opomo-nos à perda de especialidades e competências. Batemo-nos para que o Centro Hospitalar de Setúbal seja reclassificado e promovido para um nível acima. Só assim poderemos aumentar o grau de diferenciação com especialidades necessárias, algumas ainda inexistentes. Só assim, o Hospital pode ser financiado pelo que faz e deixe de ser uma fonte de prejuízo, cada ano que passa”, refere o manifesto dos médicos do hospital sadino. 
Carlos Biló, um dos cerca de 90 utentes do Centro Hospitalar de Setúbal que participaram na concentração, responsabiliza os governantes e os partidos que estão na Assembleia da República pelos “dinheiros
que fogem para a corrupção, que faziam falta ao Serviço Nacional de Saúde”.
“Os dinheiros que fogem para a corrupção, para as autoestradas - que já estão pagas desde 2017 -, faziam falta ao SNS. Esse dinheiro, esses milhões de euros [que o país perde com a corrupção], dava para tapar muitas das reivindicações que se estão a fazer neste momento”, disse Carlos Biló, que apelou ao envolvimento de todos os setubalenses na defesa do Centro Hospitalar de Setúbal.

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