“A violência sexual sobre mulheres é usada como arma de guerra, destrói, fratura, cria marcas”
A sala Pablo Neruda encheu na quarta-feira, 8 de Março, para debater “O Impacto da Guerra nas Mulheres e a Paz para a garantia dos Diretos Humanos”. A Câmara de Almada aproveitou a ocasião para anunciar que “está praticamente concluído o Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação”. Janica e Ianira, duas jovens mulheres nascidas na Guiné Bissau que participaram no debate organizado pela autarquia almadense, explicaram a luta das mulheres africanas durante a guerra colonial e como, no seu país, muitas tiveram de definir prioridades e assumir outro papel: deixaram de ser filhas, irmãs, mães, esposas, para ir combater. Nas suas intervenções, sentiram o dever de desconstruir o papel de vítimas das suas antecessoras, para as empoderar. E bem, pelo que explicou uma das investigadoras convidadas para esta manhã de debate.Dia da Mulher celebrado com depoimentos intensos |
Tânia Ganito, do Centro de Estudos de Comunicação e Cultura da Faculdade de Ciências Humanas da Universidade Católica Portuguesa, deu três exemplos concretos de violência sexual em tempos de guerra, mostrando como foi importante estudá-los, debaixo da proteção inicial do anonimato, para quebrar silêncios e dar voz às vítimas, que acabaram por se transformar em poderosas vozes contra o esquecimento.
Foi assim com as “mulheres de conforto”, verdadeiras escravas sexuais ao serviço do exército imperial japonês. Foi assim com as mulheres violadas durante a Guerra dos Balcãs, que se uniram e se ouviram no que ficou conhecido como o primeiro tribunal feminino. Foi assim com as mães das “crianças de má memória”, retratos vivos da violência sexual exercida sobre si, e que decidiram não as rebatizar, como ato de memória e de reconhecimento coletivo do que tinha acontecido.
“A violência sexual sobre mulheres é usada como arma de guerra, destrói, fratura, cria marcas”, mas tem sido a partir desses traumas que as vidas se têm reedificado, através da voz das mulheres que pedem justiça e reconhecimento da verdade. O que revela “o envolvimento direto das mulheres sobreviventes de guerra nos processos de reconciliação e também na construção da paz”, sublinhou Tânia Ganito.
A vereadora Teodolinda Silveira, vice-presidente da autarquia, moderou o debate e esclareceu que “está praticamente concluído” o Plano Municipal para a Igualdade e Não Discriminação, que irá em breve a reunião pública de Câmara, lembrando ainda que dia 16 de Março, às 15 horas, terá lugar um novo momento, com mais convidadas, para debater o Impacto da Guerra nas Mulheres e a Paz para a garantia dos Diretos Humanos.
Agência de Notícias
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