Quatro detidos e 243 imigrantes ilegais encontrados em condições imundas no Samouco
Uma megaoperação de combate ao tráfico de seres humanos liderada pela Polícia Marítima, decorreu nos concelhos do Montijo e de Alcochete, designadamente na localidade do Samouco, onde todos os dias centenas de mariscadores, muitos deles imigrantes de origem asiática, se dedicam à apanha ilegal de amêijoa. Quatro pessoas foram hoje detidas numa operação realizada pela Polícia Marítima, a nível nacional, de combate às redes criminosas associadas à captura ilícita, comércio e tráfico internacional de bivalves, na qual foram identificados 243 imigrantes.Centenas trabalham na apanha de bivalves no Tejo |
"Esta operação decorre no âmbito de mais de três dezenas de mandados de busca, detenção e apreensão, e as diligências desenrolaram-se ao longo do dia", tendo já sido detidas quatro pessoas, informou a Autoridade Marítima Nacional, sem adiantar pormenores.
Em comunicado, a Autoridade Marítima Nacional indicou que a "megaoperação" de combate às redes criminosas associadas à captura ilícita, comércio e tráfico internacional de bivalves está a ser realizada pela Unidade Central de Investigação Criminal da Polícia Marítima e decorre "a nível nacional".
"Nesta operação, onde está incluída ainda a exploração laboral humana, estão empenhados no terreno 161 agentes da Polícia Marítima, acompanhados por 22 inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF), inspetores da Autoridade Tributária e cerca de uma centena de operacionais da PSP", referiu a Autoridade Marítima.
No âmbito da análise operacional, a operação conta também com a colaboração do Serviço de Informação e Segurança (SIS).
Até ao momento, "o SEF identificou 243 imigrantes, tendo notificado nove cidadãos estrangeiros para comparência no SEF, a fim de esclarecer a sua situação em território nacional", adiantou a Autoridade Marítima Nacional.
Autarcas do Montijo e Alcochete querem problema resolvido
O presidente da câmara de Alcochete não mascara o problema: a apanha ilegal de bivalves no rio Tejo acontece há "pouco mais de 15 anos" e, nessa década e meia, cresceu. "Agora, naturalmente, torna-se uma tarefa hercúlea resolver", confessa Fernando Pinto.
Uma fonte envolvida na operação adiantou ao jornal Expresso que, quando entraram "nos barracos" em que os imigrantes de origem asiática viviam, os agentes da Polícia Marítima não estavam preparados para o que encontraram: trezentos homens "em condições absolutamente deploráveis, nojentas mesmo". Foi difícil "entrar ou ainda menos permanecer" no local "por causa do cheiro" e estava "tudo no chão". E o número de fatos de mergulho encontrados, disse a mesma fonte ao jornal, faz crer que haverá ainda mais homens envolvidos.Fernando Pinto, garante que desde que tomou posse para liderar a câmara há seis anos, em 2017 - com uma reeleição pelo meio, em 2021 - defende a criação de uma "task force" onde várias entidades possam "trabalhar em rede, de forma muito articulada, no sentido de esgotarem todas as possibilidades desta apanha se tornar legal".
O próprio confessa "alguma dificuldade" em perceber que o problema possa ter "um fim à vista", até porque a apanha destes bivalves é "interdita porque possuem componentes, na sua estrutura, de metais pesados e tóxicos e que acabam por trazer problemas sérios à saúde pública". Ainda assim, ressalva o autarca, nada o move "contra as pessoas que fazem desta atividade o seu ganha-pão".
A questão é "a apanha é interdita, ponto. O IPMA assim o define e, por isso, tudo o que a partir daí aconteça é o adicionar de um conjunto de crimes ambientais, de saúde pública, de prevaricação daquilo que é o espaço público e de crimes económicos".
À espera que seja possível colocar "um fim" a este esquema de apanha ilegal, Fernando Pinto fica à espera dos resultados da megaoperação: "Aguardo com muita expectativa".
Para Nuno Canta, presidente do município do Montijo, "ou se legaliza" e as empresas "pagam os seus impostos e trabalham de acordo com a legalidade normal das coisas", ou "continua a haver este tipo de situações". O autarca assinala que "felizmente não se torna incontrolável porque as autoridades policiais atuam", mas a situação "pode tornar-se sempre um problema para todos nós".
À espera do que possa "desenrolar-se com o tempo", Nuno Canta diz esperar que a situação seja "imediatamente regularizada" e lamenta o sucedido "do ponto de vista destas redes ilegais de tráfico de pessoas, contra os direitos humanos em que acreditamos". O autarca deixa também um elogio ao trabalho feito com "grande eficácia" pelas autoridades.
A megaoperação de combate ao tráfico de seres humanos liderada pela Polícia Marítima, nos concelhos do Montijo e de Alcochete, designadamente na localidade do Samouco, onde todos os dias centenas de mariscadores, muitos deles imigrantes de origem asiática, se dedicam à apanha ilegal de amêijoa.
Agência de Notícias com Lusa
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