Almada fecha o Cais do Ginjal, mas moradores desafiam a ordem

Cais do Ginjal fecha porta mas moradores não desistem de viver com dignidade

Apesar da interdição oficial e das barreiras físicas colocadas no local, cerca de 50 pessoas continuam a viver no degradado Cais do Ginjal, em Almada. Entre elas há crianças, doentes e famílias inteiras que se recusam a sair sem uma solução digna. Para estas pessoas, a alternativa provisória - um alojamento de apenas dez dias numa escola - está longe de ser uma resposta justa para anos de esquecimento.

Apesar do perigo os moradores não querem ir embora 

Na passada quinta-feira, Inês de Medeiros, presidente da Câmara Municipal de Almada, anunciou o encerramento do acesso ao cais, com base em relatórios técnicos da Proteção Civil. Segundo esses documentos, a zona encontra-se em risco de colapso estrutural, o que justifica, segundo a autarquia, a 
implementação de medidas urgentes para garantir a segurança de todos.
A proibição de circulação, decretada ao abrigo da Lei de Bases da Proteção Civil, manter-se-á em vigor até ao dia 1 de Maio, podendo ser prolongada se, até lá, não forem implementadas as soluções de realojamento prometidas. Entretanto, o clima entre os moradores é de incerteza e revolta. 

Moradores sem condições para ter  uma casa digna 
Muitos sentem que esta medida foi executada sem respeito pela sua dignidade e sem qualquer plano sólido de realojamento permanente. A solução temporária - dormir num espaço improvisado de uma escola - é especialmente grave para os que vivem com problemas de saúde ou têm crianças pequenas a seu cargo. A sensação de abandono agrava-se quando percebem que foram excluídos de um processo de decisão que impacta diretamente as suas vidas.
Na tentativa de selar fisicamente o fim do capítulo “Ginjal”, a câmara ergueu um portão metálico de 2,5 metros de altura, avançando sobre o Tejo como uma muralha fria. Mais do que impedir o acesso, a estrutura simboliza a separação entre quem vive dentro do sistema e quem foi deixado para trás. 
O portão isola o troço entre o terminal fluvial de Cacilhas e os restaurantes do Olho de Boi. A circulação passou a ser permitida apenas a proprietários e agentes da Proteção Civil.
O Movimento Vida Justa considera que a autarquia deve proporcionar uma solução de alojamento às pessoas que vai retirar do espaço. Em comunicado, refere que foi "a crise da habitação que tem levado a pessoas ocuparem os espaços devolutos. Agora, a Câmara de Almada pretende desalojar os moradores, tendo como alternativa pernoitarem numa escola, sem perspectiva de uma solução de habitação digna".

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